quinta-feira, 4 de junho de 2015

Já não há “Palavra de Honra”!

Acho muita graça à indignação em torno da dança dos treinadores de futebol. Uns indignam-se porque as notícias dão Jorge Jesus em Alvalade e acham que o treinador cometeu uma traição ao escolher o rival… outros indignam-se com a forma como Marco Silva foi despedido do Sporting. O clube alegou justa causa e é bem certo que há sempre uma justa causa encontrada por quem passa o cheque. Outros ainda indignam-se porque alegadamente o Sporting estará a ser financiado, entre outros, por Teodoro Obiang, Presidente da Guiné Equatorial. Meteram Obiang na CPLP e só agora se lembram do que é a Guiné-Equatorial e qual é a origem do dinheiro que de lá chega. 

E acho graça a estas indignações porque revelam que os indignados ou vivem na lua ou só se indignam quando toca ao futebol porque certamente não andam a par do resto. O que se está a passar com o futebol (e com o resto) tem um nome: dinheiro. E em nome do dinheiro os homens já fazem tudo, por muito que gostem da expressão “não vale tudo”. Desenganem-se os crédulos porque vale mesmo tudo. Ainda acham que não? Digam lá então como classificam a ideia de retirar Jorge Jesus da fotografia do Benfica campeão? Estaline não faria melhor. E não me admiraria nada que Marco Silva “desaparecesse” da fotografia do Sporting vencedor da Taça de Portugal. Reescrever a história sempre foi uma tentação de gente paranóica.

Os nossos dias estão cheios de pulhice. Todos os dias. Na maior parte dos casos são pulhices legais. Em muitos casos até, pulhices de quem não esperamos. E se querem melhor exemplo pensem um bocadinho nisto: há quanto tempo não ouvem um político, um dirigente desportivo ou um outro protagonista usar a expressão “Palavra de Honra”. Há certamente muito, muito tempo. Prometem, criticam, propõem, comprometem-se, mas Palavra de Honra… isso é que era bom. Nunca! Por que será? Eles usam camisas brancas imaculadas, gravatas de seda… mas recusam terminantemente o uso da expressão “Palavra de Honra”. Assim, quem é se pode admirar com o que está a acontecer no futebol em Portugal? Ou já se esqueceram da FIFA?

josé manuel rosendo

Pinhal Novo, 4 de Junho de 2015

A transparência que tapa o sol com uma peneira



Há tanto barulho à volta dos órgãos de informação em vésperas de campanha eleitoral que dá para desconfiar. De repente, tanta gente preocupada com a transparência. Palpita-me que vai ficar tudo mais ou menos na mesma. E mesmo que as Leis sofram uns retoques há-de haver alguém muito habilidoso que deixará uma escapatória para futuras conveniências. Dirão que é um processo de intenções. Talvez, mas um dos problemas do regime é que, de tanto legislar, conseguiu transformar as maiores trafulhices em situações legais. É frequente ouvirmos o argumento de que “é tudo legal”. E é, em muitos casos. Há vigarices legais. O próprio Estado faz vigarices que são legais. Basta pensarmos nos cortes nos vencimentos e pensões. E é tudo legal. Eu também gostava de fazer leis a meu jeito. Ou de poder impor ao patrão que me aumentasse o ordenado. Mas, alto aí, a vigarice não chega a tanto.

Quanto aos órgãos de informação, as alterações sonhadas pelos parteiros do costume começaram por imaginar um plano prévio para cobertura jornalística das campanhas eleitorais que teria de ser submetido à apreciação de uma comissão de sábios. Houve o alarido do costume e essa parece que já caiu.

Agora, os Aladinos voltaram a sonhar: querem saber quem financia e quem é credor dos órgãos de comunicação social. Acho bem. E saber ao pormenor quem são os donos também não seria mau. Mas acrescento um dado: vamos lá a saber quem paga viagens ao estrangeiro (e não só) aos órgãos de comunicação social para depois – claro – terem direito à notícia e respectiva fotografia ou tempo de antena. Toca a saber quem paga o quê e a quem e a começar pelas viagens oficiais. Todos sabemos que uma viagem ao estrangeiro há-de render, no mínimo, uma página de jornal, uma ou duas fotos e dois ou três minutos de pantalha. E se isto não é influenciar critérios editoriais então não sei o que é. 

Se juntarmos a isto a falta de dinheiro das redacções para fazerem seja o que for (desde que não seja futebol ou reportagens com a Paris Hilton…) os convites caem que nem sopa no mel. E podemos juntar às viagens oficiais outras que as empresas “facultam” e as instituições “incentivam”. Ora aí está algo a que a ERC podia e devia dedicar o seu tempo e sempre calaria os que dizem que não serve para nada. E não é preciso fazerem o “estudo” do costume. Ponham cá fora a lista de quem pagou a quem e quem convidou quem, e já agora vejam lá que notícias, entrevistas e reportagens resultaram dessas viagens pagas. Isso é que era…

Há mais de 40 anos meus caros leitores. Há mais de 40 anos que é assim. Já para não falar de outros tempos, com outros proprietários e com as mordaças conhecidas, mas, pelo menos, essas eram declaradas e assumidas.

josé manuel rosendo
Pinhal Novo, 4 de Junho de 2015

terça-feira, 2 de junho de 2015

O futebol tresanda! Está sujo e bem sujo…


Nota principal no dia em que Joseph Blatter se demitiu do cargo de Presidente da FIFA: foi reeleito na sexta-feira passada com 133 votos contra 73 do seu adversário Ali Bin al Hussein. Podem dar as piruetas que quiserem mas o certo é que a maioria dos votos nas eleições de sexta-feira foram para o homem que era o vértice da pirâmide que foi/é casa de corrupção. É longa a lista dos que são apontados a dedo em negócios obscuros de atribuição de campeonatos e transferências de dinheiro. E essa questão, a dos que votaram em Blatter depois de saberem que o escândalo já tinha saído à rua e que o rei ia nu, não é uma questão menor e é a que deve preocupar os que gostam de ver a bola rolar no relvado e entrar nas balizas. É sempre bom lembrar a fábula do que vai roubar as uvas e dos que ficam à porta da quinta a assistir… Blatter é tão culpado quanto os que insistiram em mante-lo na presidência da FIFA. Este caso mostra como a democracia pode ser uma falácia: no caso do futebol os votos são contados (comprados?) em função dos interesses de cada um, mesmo que isso prejudique o futebol.

A demissão de Blatter surge no dia em que a Federbet, organismo que vigia as apostas 'online', revelou que, dos cerca de 40 milhões de euros apostados por jornada nas duas principais ligas portuguesas de futebol, cinco milhões devem ser "apostas sujas", ou seja, com conhecimento de resultados viciados. Mais: as apostas na I Liga portuguesa representam, em média, por jornada, 30 milhões de euros, e na II Liga rondam os 10 milhões de euros, estimando o organismo que a manipulação de resultados represente três e dois milhões de euros, respectivamente, acrescentando que a II Liga portuguesa é dos casos mais preocupantes na Europa e é um “campeonato doente”. A Federbet acrescenta que muitas das apostas relativas a jogos suspeitos em Portugal são oriundas de Nápoles e Reggio Calabra, uma cidade onde há uma sólida presença da organização mafiosa “Ndrangheta”.

Com este futebol quem é que vai aos estádios? A pergunta se calhar não é bem esta. Com este futebol quem é que não vai aos estádios? Eu! E logo eu que um dia até senti alguma frustração por nunca ter tido um relvado a sério onde pudesse mostrar os dotes do meu pé esquerdo… Entre escândalos, apenas tenho pena de gostar de futebol porque é assim uma daquelas situações em que gostamos de alguém que insiste em enganar-nos: não dá!

josé manuel rosendo

Pinhal Novo, 2 de Junho de 2015