sexta-feira, 15 de julho de 2016

Volto a fazer a pergunta: e depois do Estado Islâmico?

No início de Dezembro do ano passado escrevi sobre o pós-Estado Islâmico http://meumundominhaaldeia.blogspot.pt/2015/12/e-depois-do-estado-islamico.html e uma voz amiga comentou: “estás a pensar muito à frente… ainda nem acabaram com eles na Síria e no Iraque”. Repesco parte desse escrito: “O futuro passa por uma pergunta simples de resposta terrivelmente complexa: e depois do Estado Islâmico? Desde logo não é de todo impossível que o Estado Islâmico não evolua para um “estado sunita” (faltando saber em que moldes e em que território). Há teorias nesse sentido. Depois: acabada a guerra com o Estado Islâmico (com a qual todos parecem concordar), o que fazer com Bashar al Assad? Como resolver o problema na Síria, palco para uma miríade de grupos mais ou menos extremistas, mais ou menos laicos? O que fazer com os curdos? O que fazer com o PKK (que combate o Estado Islâmico), considerado terrorista pelo ocidente? O que fazer com as (YPG) Unidades de Protecção Popular (que também combatem o Estado Islâmico) marcadas com o mesmo rótulo? O que fazer com os combatentes do Estado Islâmico que sobreviverem?”

Há muito mais perguntas a fazer, mas estas parecem-me as mais urgentes. A última pergunta, para quem vive na Europa, é talvez a que levanta mais inquietações. O que aconteceu esta noite em Nice – à hora a que escrevo não está confirmado que tenha sido atentado – explica essa inquietação de forma muito perspicaz. Ainda é cedo para se dizer que já é um atentado (se se confirmar) pós-Califado, mas não é de excluir que estejamos perante algo que pode ser um sinal dos tempos que estão para vir. Seria bom que assim não fosse mas  é preciso insistir nesta questão: o que fazer quando o Estado Islâmico for derrotado no Iraque e na Síria? Quantos combatentes são? O que vão fazer quando estiverem derrotados e o Califado já não for o seu território? Para onde vão? 

Há cerca de um mês, o director da CIA, John Brennan, disse que devem ser entre 18 a 22 mil combatentes do Estado Islâmico no Iraque e na Síria. Esta quinta-feira, o director do FBI (numa perspectiva naturalmente mais interna) disse que vai haver uma “diáspora terrorista” após a derrota do Estado Islâmico, que haverá um crescimento dos ataques extremistas” e que o trabalho do FBI tem de ser evitar que entrem nos Estados Unidos.

E a Europa desunida vai fazer o quê? Há uma incapacidade notória da União Europeia para reagir e actuar perante este tipo de adversidades. Quem sabe a resposta que podemos esperar da União Europeia que alvitre alguma possibilidade porque não se consegue descortinar nada. Continuamos preocupados com as décimas dos défices quando os nossos maiores problemas são outros. E não nos esqueçamos que encolhemos os ombros quando no dia 3 de Julho morreram mais de 200 pessoas num atentado em Bagdad.

Mais uma vez, após o que aconteceu esta noite em Nice, vamos – já estamos a – discutir as “pequenas” questões: vamos falar dos lobos solitários, do perfil dos autores do atentado, do bairro onde viviam, dos vizinhos que até os vivam como cidadãos, do estado de emergência em França, etc, etc.. Mas não vamos falar da “grande política” e da questão essencial: como derrotar o Estado Islâmico (no terreno) e como dar uma perspectiva de futuro a todas as partes envolvidas nas guerras no Iraque e na Síria. Até que tudo se repita…

Pinhal Novo, 14 de Julho de 2016
josé manuel rosendo

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