O céu está a cair-nos em cima e ninguém sabe a resposta a
dar. Paris, Bruxelas, Nice, Baviera, Munique… casos diferentes que muita da
alarvidade à solta tenta colocar no mesmo saco. Mesmo sem haver – à hora a que
escrevo – dados concretos (no caso de Munique), as expressões mais utilizadas
são “estado islâmico”, “lobo solitário”, “daesh”. É o que está a dar. Estas expressões
provocam medo, então há que prender as audiências, mesmo que seja a alimentar
esse medo. Em muitos casos, a contenção e o cepticismo, pilares aconselháveis
ao jornalismo que tenta ser rigoroso, é atirado às urtigas.
Os casos dos últimos meses dizem-nos que a Europa está
verdadeiramente à nora. Olha desconfiada por cima do ombro depois de ter dado
conta de que a realidade mundial, da qual – queira ou não – faz parte, está a
bater à porta. Foram cometidos erros estratégicos, não da União Europeia –
porque não existe enquanto região com uma política externa – mas das suas
principais potências: França, Itália, Reino Unido e Alemanha. Pensava esta
Europa que as guerras eram lá longe. Esqueceu-se que tem fomentado ódios e
alimentado inimizades fortes.
Não vão longe os tempos em que alguns dos
principais líderes europeus entravam na “corte” de muitos ditadores no Médio
Oriente e em África, que por sua vez visitavam a Europa. A saga continua. Em
nome da estabilidade (não interessa a que preço) que os investidores
reivindicam e os mercados agradecem, porque há interesses (negócios) que é
preciso salvaguardar. O velho ditado “o que é barato sai caro” aplica-se que
nem uma luva. Fazem as negociatas – petróleo, pedras preciosas, metais raros,
armas – arrecadam o lucro, e quem vier atrás há-de fechar a porta. Esta é a
visão de curto prazo, fruto de uma política de fracos políticos sem visão de
futuro nem visão do mundo.
Os eurocratas dos salões dourados e dos hotéis de 5 estrelas
das muitas capitais, cujos interesses são ditados pelo FMI, Goldman Sachs e
afins, não conhecem as ruas (sejam elas na Europa, no Médio Oriente ou em
qualquer outro lado) onde nasce a raiva e o ódio. É por isso que depois não
percebem o que nos acontece. Quem não percebe não consegue encontrar soluções.
A única Política que existe na Europa é a do dinheiro, seja
na área financeira ou económica. Nada mais. Aliás, a interiorização de um
bem-estar conquistado (embora apenas para alguns…) afasta os cidadãos da
necessidade de olhar para o Mundo com a consciência de que a Europa faz parte
desse mundo e tem de ter uma política externa definida para enfrentar estas
crises e alterar a percepção que dá origem à ameaça.
Infelizmente, para a formação da nossa opinião pública o
nível de alguns políticos é muito semelhante ao de muitos comentadores que
preenchem o nosso espaço mediático. Andaram na mesma escola, não conseguem
pensar fora dos padrões em vigor. Por vezes até, parecem falar de uma realidade
paralela. Ouvi-los, é quase como ir ao hospital por causa de uma dor de cabeça
e ter um ortopedista a fazer o diagnóstico.
Pinhal Novo, 22 de Julho de 2016
josé manuel rosendo