Três, três Secretários de Estado aceitaram a oferta de uma
empresa privada para assistirem a jogos do Europeu de futebol. Esse é o
problema, não interessando – ou sendo secundário – se a oferta foi apenas dos
bilhetes, se incluiu viagens e almoços ou se houve lugar a tratamento VIP. Nem
sequer interessa se estamos ou não perante um crime ou se a empresa em causa
tem um conflito com o fisco e se um dos três governantes é o Secretário de
Estado dos Assuntos Fiscais. Nem sequer interessa se os outros dois Secretários
de Estado (Internacionalização e Indústria) pertencem a áreas onde a dita empresa
tem interesses óbvios. Não é ironia referir estes aspectos por que são, de
facto, secundários, face ao que devia ser a ética de um governante.
Assumir funções públicas, seja no Governo, no Parlamento, ou
em empresas públicas, exige (devia exigir) uma ética inatacável. Quem quer
andar no mundo privado dos negócios, faça favor, que troque prendas e benesses,
ofertas e jantares, viagens e bilhetes para jogos de futebol, mas quem
desempenha cargos públicos simplesmente não o pode fazer. Não pode. Ponto!
Ao alinharem neste tipo de proximidade com as empresas
privadas estes governantes abrem portas a todas as dúvidas e a todas as
suspeitas, por muito que batam com o pé no chão e jurem que uma coisa nada tem
a ver com outras eventuais coisas. E até podem ter razão. No limite, aliás, o
presente pode ter sido envenenado, mas nem essa possibilidade tiveram
capacidade de prever.
O que a atitude destes três homens revela é que não estão
minimamente preparados para estar nos lugares que ocupam. Ser (nem sei se é o
caso) tecnicamente competente não faz de ninguém um respeitável político. É preciso
muito mais. E é esse o sinal mais alarmante dado por estes três
governantes em relação às funções de que estão por nós (embora indirectamente)
investidos: não estão preparados!
A “pílula” pode agora ser mais ou menos dourada consoante o
brilhantismo da argumentação de cada um, mas o problema é que este caso é
apenas um exemplo de como muitos políticos – ou que o pretendem ser – olham para
as questões do Estado. É como se fosse uma empresa privada (esta ideia é antiga
e perturbadora), mas não é. Não é!
E, já agora, os deputados do PSD que fiquem calados. Essa de
ir fazer trabalho político a França em momentos que coincidiram com jogos do
Europeu de futebol só nos pode fazer rir e coloca estes deputados ao mesmo
nível dos governantes convidados pela GALP.
josé manuel rosendo
4 de Agosto de 2016