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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Ai Lusa, ai, ai… expliquem lá isso como deve ser.




Não tenho por hábito meter a foice em seara alheia e quando é a minha seara que está em causa trato as coisas dentro de portas, mas desta vez a coisa deixou-me atarantado.
Oiço ao final da manhã a notícia do afastamento de Fernando Paula Brito, director de informação da Agência Lusa; oiço que a decisão foi tomada pela administração presidida por Teresa Marques; oiço que os directores adjuntos – Nuno Simas e Ricardo Jorge Pinto – demitiram-se, solidariamente, logo que souberam da decisão da administração.

Ponto prévio: não conheço e nunca trabalhei com nenhum dos envolvidos; Teresa Marques foi administradora da RTP, mas nem sei se alguma vez nos cruzámos na empresa.

Mas o ter ficado atarantado deve-se apenas aos argumentos de Teresa Marques: a Lusa precisa de um director de informação que tenha também “outros requisitos em termos de experiência de gestão e controlo orçamental que antes não eram tão vistos na função de director de informação, porque era uma função mais editorial.” EUREKA, Teresa Marques acaba de descobrir que um director de informação tem que ser um super-homem: jornalista e gestor. É estranho, muito estranho, que um director de informação seja afastado por estes motivos quando a própria administração elogia o trabalho desenvolvido.

Teresa Marques acrescenta um daqueles argumentos redondos que estamos habituados a ouvir em circunstâncias semelhantes: diz que esta mudança insere-se numa reorganização com o objectivo de “gerir a empresa de uma forma diferente que tem a ver com o momento”. Excelente! Temos uma presidente de uma administração de uma agência de notícias que não sabe comunicar. Talvez seja necessário uma administradora que saiba um pouco de jornalismo. 

Aliás, toda a terminologia utilizada por Teresa Marques e reproduzida pela própria Lusa é significativa: a parte editorial continua a ser o core business; a Lusa é uma marca; o futuro director terá de ser alguém reconhecido no mercado. Eu pensava – tão ingénuo – que uma agência de notícias produzia informação e notícias e devia preocupar-se com a qualidade e credibilidade dessa informação. A terminologia utilizada não deixa dúvidas: sei agora que é um negócio. E apenas um negócio quando o próprio gabinete de Poiares Maduro, quando Teresa Marques foi nomeada, disse que o projecto de futuro da Lusa assentava “no reforço da qualidade do seu jornalismo e da sua estratégia de internacionalização”. E desde logo, não há marca que se safe nem mercado que não fique nervoso quando uma mudança destas acontece a um mês das eleições.

O que me parece ter ficado bem evidente nesta situação da Lusa é que sai a pessoa errada e fica a pessoa errada. Talvez ainda se venha a saber mais alguma coisa sobre o assunto, mas isto não cheira nada bem. Se estou errado, que me desculpem.

Pinhal Novo, 2 de Setembro de 2015
josé manuel rosendo

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