Ao que tem sido dito por governantes, e não tem sido
contrariado pela oposição – nem à esquerda nem à direita – Bruxelas impôs
condições para aceitar que o Estado português colocasse dinheiro para recuperar
a Caixa Geral de Depósitos (CGD). E essas condições de Bruxelas passam por ter
na CGD um modelo de gestão e uma estratégia de negócio idênticos aos dos bancos
privados. Isto é, nós podemos continuar a dizer que a CGD é um banco público,
porque o accionista é o Estado, mas o modelo de gestão e a estratégia de
negócio da CGD terá de ser igual à de um banco privado. E este é o problema.
Desde logo, porque é por esta e outras como esta, que a União
Europeia está como está, e é por esta e outras como esta, que as Le Pen’s desta
vida conseguem o capital de simpatia (e o voto) de milhões de pessoas. A União
Europeia "acha", e determina, que um Estado não pode, mesmo que queira, ter um
banco realmente público, com uma lógica de gestão e de negócio diferentes da
banca privada. Bruxelas manda, os governos aceitam e obedecem (alguns até
concordam), e as pessoas fartam-se.
São essas pessoas que se atiram nos braços do primeiro que
lhes promete o paraíso e levanta a voz contra Bruxelas. Quem conduziu a União
Europeia a este estado, bem pode bater com a mão no peito e dizer que tem uma
receita para evitar o desastre, mas o povo já não acredita.
Depois, – alô concelho de Almeida – basta consultar os mais
recentes resultados eleitorais para se perceber quem recebeu a maioria dos
votos dos almeidenses. Porquê? Porque não se pode votar no neoliberalismo e reivindicar
que o Estado – ou as empresas do Estado – tenha preocupações sociais. Não se
pode votar em quem defende políticas iguais às que Bruxelas defende e esperar resultados
diferentes daqueles que agora são contestados em Almeida. Não bate a bota com a
perdigota.
O neoliberalismo é a selva dos mercados desregulados. Os
neoliberais defendem que o Estado deve ser gerido como uma empresa, entenda-se,
deve dar lucro. Assim sendo, um balcão da CGD – uma empresa de lógica privada –
que não dá lucro... deve encerrar. Qual é a dúvida?
Certamente que em Almeida também há quem tenha consciência da
verdadeira origem do problema que leva ao triste rodar da chave que fecha o
balcão da CGD, e é por isso que, aqui chegado, hesito. Não sobre o que penso,
mas sobre o que devo aqui escrever. Estou dividido entre o dito popular, que
reconhece ao povo a sabedoria da escolha democrática no momento certo, e o politicamente
incorrecto de dizer que o povo vota sem saber muito bem em quem, e em muitos
casos sem saber porquê. Outras vezes ainda, pensa à direita e vota à esquerda e
vice-versa. Depois dá nisto.
Sempre quero ver qual vai ser o resultado das próximas eleições em
Almeida. Quase que aposto que ainda vai aparecer quem diga aos almeidenses que
a culpa da CGD não ter um balcão na sede do concelho é dos que defendem que a
CGD deve ser um banco realmente público. Podemos não dar por isso, mas é no
momento de votar que decidimos este tipo de coisas.
Pinhal Novo, 6 de Maio de 2017
josé manuel rosendo
Sem comentários:
Enviar um comentário