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Abu Bakr al Baghdadi, aquando de uma alegada entrevista à Agência de Media do Estado Islâmico, Al Furqan. |
O Presidente dos
Estados Unidos há muito que nos habituou a uma desbragada incontinência verbal,
mas ao contrário da tese de que não pode ser levado a sério, será de bom
conselho estar muito atento a tudo o que diz. Não apenas porque é o Presidente
da (ainda) maior potência mundial mas porque, podendo parecer apenas paleio de
fanfarrão, tudo tem um sentido e um objectivo. A única coisa que permanece um
mistério é se as frases que se transformam em notícia são da autoria do próprio
ou têm origem no círculo que o apoia e lhe escreve os discursos e/ou as sequências
de mensagens no twitter. De uma forma ou de outra, a mensagem representa o
pensamento da actual administração norte-americana.
Donald Trump
anunciou a morte de Abu Bakr al Baghdadi dizendo que o líder do Estado Islâmico
se fez explodir num túnel durante uma operação de forças de elite
norte-americanas no noroeste da Síria: “o bandido que tanto queria intimidar os
outros passou os seus últimos momentos em pânico total, cheio de medo,
aterrorizado pelas forças norte-americanas que o perseguiam”. Trump descreveu o
momento ainda mais com mais pormenores: “morreu depois de correr num túnel sem
saída, gemendo, chorando e gritando”, acrescentando que o líder do Estado
Islâmico fez explodir um colete de bombas, suicidando-se e matando os três
filhos que estavam com ele. Dito isto, Donald Trump rematou: “Morreu como um
cão”. Não satisfeito, reforçou: “ele não morreu como um herói, morreu como um
cão”.
É a esta frase (morreu
como um cão) que é preciso dedicar especial atenção. Se os pormenores da
operação dão que pensar, quanto mais não seja porque a fonte – Trump – não é de
confiança, a comparação de Abu Bakr al Baghdadi a um cão, é um insulto que pode
escapar aos não muçulmanos mas é profundamente significativa para a maioria dos
seguidores do Islão. E, não querendo ficar por aqui, menos de 24 horas depois,
eis que Donald Trump volta à carga, revelando que o líder do Estado Islâmico
tinha sido encontrado por um...cão. Através
do twitter, o Presidente dos Estados Unidos revelou a foto (desclassificada) do
“herói” mas disse que o nome do cão é mantido em segredo.
Foi encontrado
por um cão e morreu como um cão, assim Donald Trump quis deixar vincada a morte
do líder do Estado Islâmico. Com estas duas frases, Donald Trump tenta humilhar
o inimigo, depois de morto, e ao mesmo tempo todos os Muçulmanos. E como não
fossem suficientes todas as referências que já tinha feito a Abu Bakr al
Baghdadi, Donald Trump ainda fechou uma conferência de imprensa na Casa Branca
dizendo que “era um animal, um animal sem coragem”. Para além de constituírem uma
fanfarronice, todas estas frases são uma imprudência perigosa. Não se humilham os inimigos e Donald Trump
devia saber. Ou alguém lhe devia dizer.
Acossado internamente
com um processo de destituição quase certo e desacreditado externamente em
diferentes negociações de que não se vislumbra fim nem consequências, Donald
Trump aposta na fuga para a frente, não medindo, ou estando-se nas tintas, para
o mal que pode provocar ao mundo quando procura ofender a comunidade muçulmana desta
forma. Verdade seja dita que um facínora como o líder do Estado Islâmico não fica
a fazer qualquer falta, mas a ofensa e a humilhação ao inimigo eram dispensáveis,
um verdadeiro estadista nunca as faria, e nada podem trazer de bom.
Sem surpresa, a elegância no
trato e a ponderação nas palavras é algo que, definitivamente, não podemos
esperar de Donald Trump. Mas também é algo obrigatório na atitude de um Presidente,
dos Estados Unidos ou de qualquer outro país.
Pinhal Novo, 29 de Outubro de
2019
josé manuel rosendo
O meu estimado amigo consagra uma importância exagerada ao Trump que, dada a sua desbragada "incontinência verbal", o planeta já nada espera de razoável, sensato de construtivo. Em contrapartida é parco em palavras em relação a um facinora que trucidou, decapitou, milhares de seres humanos, muçulmanos na sua esmagadora maioria.Do prmeiro (Trump) estamos falados. Do segundo (Abu Bakr al Baghdadi) ainda há muito que falar...
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