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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Serão todos estúpidos e "anti-semitas"?


Nem sequer houve abstenções. Catorze países do Conselho de Segurança da ONU aprovaram uma resolução que condena o reconhecimento unilateral (feito por Donald Trump) de Jerusalém como capital de Israel. A resolução não passou porque os Estados unidos, tal como todos os outros quatro países com assento permanente no Conselho de Segurança, têm poder de veto. E Os Estados unidos vetaram. E a embaixadora norte-americana, Nikki Haley, disse que a votação da resolução "é um insulto e um desprezo que não vamos esquecer". A vitimização depois da asneira é algo que se não fosse tão triste daria uma boa gargalhada. Assusta esta forma de ver as coisas e este tipo de reacção ameaçadora. Infelizmente, estamos a falar da maior potência mundial. A forma como os Estados Unidos estão a tratar uma questão tão melindrosa como é o caso do estatuto de Jerusalém, revela uma de três coisas: 1 - absoluta ignorância; 2 - desprezo absoluto pelos direitos dos palestinianos (e de todos os muçulmanos e cristãos) e simultânea cedência ao interesse do Governo de Israel; 3 - factura a pagar pelos votos que colocaram Donald Trump na Casa Branca.

Detesto os maniqueísmos que colocam bons de um lado e maus do outro. Nunca é assim nas Relações Internacionais, mas dos Estados Unidos acumulam-se exemplos e casos que permitem questionar as decisões daquela que não se cansa de se autoproclamar como a maior democracia do mundo. Três exemplos: o bloqueio imposto a Cuba que acabou na Assembleia Geral da ONU com os próprios Estados Unidos e Israel a serem os únicos a oporem-se à condenação do bloqueio; a invasão do Iraque em 2003, baseada numa mentira levada ao Conselho de Segurança por Colin Powell, então Secretário de Estado; e, agora, a questão de Jerusalém. Nem é preciso falar no Pacto do Clima nem do acordo nuclear com o Irão.

O desprezo referido por Nikki Haley é uma completa falácia porque o verdadeiro desprezo foi aquele que os Estados Unidos revelaram pelas resoluções das Nações Unidas, nas quais está muito bem estabelecido o estatuto de Jerusalém e onde está também prevista a base de quaisquer negociações entre os directamente envolvidos: israelitas e palestinianos. E de nada os Estados Unidos se podem queixar, porque essas resoluções - pelo menos dez, aprovadas entre 1967 e 2016 - tiveram a sua aprovação ou, pelo menos, não mereceram o seu veto. Portanto, se de algum desprezo é possível falar, é dos Estados Unidos, por tudo o que o Conselho de Segurança tem decidido sobre este conflito. O embaixador de Israel, após a votação desta segunda-feira (18 de Dezembro) disse algo que não é novo, mas é revelador: "os membros do Conselho (de Segurança) podem votar e voltar a votar centenas de vezes. Isso não mudará o facto de que Jerusalém é, foi, e será sempre a capital de Israel". Isto é, o embaixador israelita na ONU revela absoluta indiferença por um fórum que, é suposto, ponha alguma ordem no mundo. Está assim o Direito Internacional.

Por agora, o realismo político norte-americano está na sua expressão mais dura. O poder militar e o poder económico ditam as regras. Quero, posso e mando, é a máxima destes realistas que há muito fazem escola nos Estados Unidos e têm seguidores um pouco por todo o mundo. O multilateralismo, única via para acordos e decisões sustentáveis a médio e longo prazo, está a ser atirado às urtigas. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, que admitiu pretender trabalhar precisamente para fazer regressar o multilateralismo como forma de solucionar os conflitos, e de os evitar, tem agora trabalhos dobrados.

Negociar é a única via. Cedências de todas as partes envolvidas é a única solução.

Não é normal que a "maior democracia do mundo" fique isolada, até perante aqueles que são os seus principais aliados no Conselho de Segurança, como é o caso do Reino Unido e de França. 
Já agora para que conste, os actuais dez membros eleitos (não permanentes) são: Egipto, Senegal, Bolívia, Japão, Etiópia, Uruguai, Itália, Cazaquistão, Suécia e Ucrânia. Todos contra Donald Trump e o reconhecimento unilateral de Jerusalém como capital de Israel.

PS - Por erro, no texto incial, indiquei vários países como estando no Conselho de Segurança que, afinal já tinham saído. Assim, saíram no final de 2016: Angola, Malásia, Venezuela, Nova Zelândia e Espanha. Acrescento que os países são eleitos para mandatos de dois anos. São eleitos cinco de cada vez, de modo a que todos os anos sejam substituídos cinco países. Estando quase no final de 2017 os países que terminam mandato são: Egipto, Senegal, Japão, Uruguai e Ucrânia. A correcção dos países que fazem parte do CS da ONU não altera o sentido do texto incial.

Pinhal Novo, 19 de Dezembro de 2017
josé manuel rosendo

1 comentário:

  1. Amigo, excelente artigo, mas muitos desses países não estão no conselho de segurança.

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