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domingo, 15 de setembro de 2019

Qualquer que seja o resultado das eleições israelitas, os palestinianos já perderam.

Cidade Velha de Jerusalém, um israelita mostra um cartoon que expressa a vontade de acabar com a Mesquita da Cúpula do Rochedo (a Mesquita de cúpula dourada na Esplanada das Mesquitas). Imagem obtida a 13 de Maio de 2018, dia em que os israelitas comemoraram o "Dia de Jerusalém". Foto: jmr

Mais uma vez, a terra palestiniana é arma de campanha eleitoral. A menos de 48 horas do início da votação para as legislativas antecipadas, o governo de Benjamin Netanyahu deu luz verde à legalização de um colonato (terá ainda de passar pelo futuro Parlamento) nos arredores de Jericó. A organização israelita Peace Now lembra que é/será o sexto colonato oficialmente aprovado desde os Acordos de de Paz de Oslo, em 1993. Mevo’ot Yericho (Porta de Jericó), assim se chama, foi criado em 1999 e é onde vivem 30 famílias. Localizado a cerca de 600 metros do limite da cidade palestiniana de Jericó, constitui uma barreira ao desenvolvimento da cidade.

Netanyhau há muito que vem prometendo declarar a soberania de Israel sobre os colonatos na Cisjordânia ocupada, entenda-se anexar, e mais recentemente prometeu, se for reeleito, anexar o Vale do Jordão (território também na Cisjordânia ocupada).

O caso do colonato às portas de Jericó é apenas o mais recente exemplo da política que tem vindo a ser seguida. Escrevo pouco depois de a notícia ser conhecida e as reacções já se fazem sentir: são as condenações do costume e o pedido, também habitual, dos palestinianos, para que a comunidade internacional reaja. A regra tem sido a de que nada muda. Está feito, feito fica.

A liderança de Benjamin Netanyahu conseguiu colocar o chamado Processo de Paz em estado de coma, sempre com a ajuda de Donald Trump, um colaborador entusiasmado. O Presidente dos Estados Unidos reconheceu Jerusalém como capital de Israel, mudou a Embaixada norte-americana e, de caminho, reconheceu a anexação dos Montes Golã (território sírio). E promete um misterioso Plano que irá trazer a paz à região. O Plano foi anunciado há meses, mas Trump diz que será divulgado pouco depois das eleições. Até agora, apenas a revelação de que há 50 mil milhões de dólares para aplicar em 10 anos, na Palestina e nos países árabes vizinhos. Ao dinheiro de Trump, os palestinianos responderam que primeiro querem falar de política.

Ainda em termos de segurança, para além do conflito com os palestinianos, Israel ataca território sírio, ataca território libanês e não se cansa de incentivar os Estados Unidos a atacarem o Irão.

Nestas eleições (17 de Setembro) o Likud, de Benjamin Netanyahu, e o Azul e Branco, de Benny Gantz, disputam a vitória, depois de nas eleições de Abril, cada um deles ter obtido 35 lugares no Parlamento. Netanyahu não conseguiu formar um governo de coligação e agora joga todas as cartas para ir buscar votos onde eles estão disponíveis: à direita, aos colonos e aos sionistas mais radicais. E se por cá é hábito ouvirmos a acusação ao partido no poder de utilizar as funções governativas como instrumento de campanha eleitoral, imaginem que não diríamos se o nosso Primeiro-Ministro, em véspera de eleições e num espaço de poucos dias, fosse recebido por Boris Johnson, Mark Esper (Secretário da Defesa norte-americano) e Vladimir Putin. Foi o que fez Netanyahu, tentando passar a imagem do estadista com capacidade para defender Israel de todas as ameaças.

Quanto a Benny Gantz (General e antigo Chefe do Estado-Maior), que lidera o partido “Azul e Branco” (Kahol Lavan, em hebraico), a aposta é na descredibilização do adversário: o nome de Netanyahu está envolvido em vários escândalos corrupção e Gantz apresenta-se como o homem das mãos limpas que pretende devolver dignidade à função de Primeiro-Ministro. Para além dessa circunstância, Guntz é igualmente um falcão que afirma querer manter o controlo militar israelita sobre a maior parte da Cisjordânia ocupada. Em Israel, alguns analistas políticos dizem que é normal não se encontrar grandes diferenças entre os dois programas políticos (de Gantz e de Netanyahu) uma vez que muitos quadros do partido de Gantz trabalharam muitos anos com Netanyahu sobre as questões de segurança (Irão, Hezbollah, Hamas).

Perguntar-se-á, então e a esquerda? Pois... a esquerda israelita evaporou-se. O Partido Trabalhista (6 deputados, em Abril) e o Meretz (4), quase não contam. Principalmente os Trabalhistas ficaram muito parecidos com a direita nas políticas de Defesa e Segurança.

Quanto aos outros partidos, eles representam 40 lugares no Parlamento. Formações ligadas aos colonos e outras de fundo religioso têm poucos lugares mas podem vir a ser decisivas na formação de um governo e da respectiva maioria parlamentar. Os partidos árabes elegeram 10 deputados.

Não havendo muito por onde escolher, é nesta base que os israelitas vão decidir qual a política e o Primeiro-Ministro que querem. Israel poderá ser visto com um Estado respeitador do Direito Internacional ou um Estado que faz o que quer apenas porque tem o apoio dos Estados Unidos e a cumplicidade silenciosa de muitos outros. Não parece que estas eleições possam alterar grande coisa.

Pinhal Novo, 16 de Setembro de 2019

josé manuel rosendo

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