Miguel de Vasconcelos atirado pela janela... |
O descaramento já é absoluto. A Alemanha propôs, como a coisa mais natural deste mundo, a nomeação de um governador para tratar das matérias orçamentais da Grécia. Assim ao estilo: vocês não sabem tratar do vosso orçamento e então é melhor sermos nós a fazê-lo. Sim, nós, Alemanha, porque com uma proposta assim ninguém imagina que depois o tal governador não fosse da especial confiança de Berlim. É assim que alguns alemães pensam a democracia europeia. A Alemanha sabe que o Orçamento de um país é parte fundamental da sua soberania. Descobrir que alguém com o poder da Alemanha tem governantes que pensam assim é desconfortável, para não dizer assustador. Estes “governadores” são figuras que nos lembram os tempos de Napoleão em que havia “Governadores” em nome de um império.
Depois de Napoleão, Hitler também quis ser dono da Europa. Não nos esqueçamos que chegou ao poder vencendo eleições. A tragédia é conhecida. Mas pelo meio da tragédia de ver a democracia ajudar à ascensão de um monstro, há um outro aspecto a ponderar: os colaboradores que a Alemanha de Hitler conseguiu arregimentar.
O que parece óbvio nesta Europa nada unida é que a Alemanha está num processo em que quer fazer avançar a integração política negociando com países fragilizados por dificuldades financeiras e fazendo depender a ajuda financeira de cedências políticas à vontade alemã. E isso é inaceitável: deixa de ser uma negociação para ser uma imposição. Definir neste momento os parâmetros de uma Europa federal seria um erro trágico com consequências imprevisíveis.
Durante a II Guerra Mundial, perante o avanço imparável das tropas nazis, e apesar de muitos franceses recusarem içar a bandeira branca, a França negociou uma rendição. Foi Philipe Pétain, Marechal, enquanto primeiro-ministro, que assinou essa rendição com as respectivas condições de humilhação. Pétain chegou a Presidente da França ocupada. As forças da Direita francesa utilizaram a derrota externa para chegarem à vitória interna. O regime de Pétain substituiu a “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” por “Trabalho, Família, Pátria”. Nessa França dos traidores que teve capital em Vichy, o poder do governo fantoche foi uma ilusão momentânea e Pétain acabou (depois da guerra) condenado a prisão perpétua e morreu na prisão.
Como escreveu o nosso Prémio Camões, Manuel António Pina, “Os olhos cobiçosos da Sra. Merkl não são substancialmente diferentes, senão nos processos, dos que uma outra Alemanha deitou há décadas à soberania dos países vizinhos, Grécia Incluída. Taxas de juro usurárias e batalhões de burocratas com certos ‘poderes de decisão’ que reforcem ‘o controlo dos programas e das medidas in loco’ são coisa mais discreta mas não menos arrasadora do que “panzers” e exércitos de ocupação. O seu efeito prático é, porém, o mesmo: a sujeição de um país e de um povo”.
A resposta a esta tentativa de roubar soberania à Grécia teve resposta a preceito por parte do ministro grego das Finanças, Evangelos Venizelos: “Quem põe um povo perante um dilema entre a ajuda financeira e a dignidade nacional, ignora as lições históricas fundamentais”. Recorde-se que a Grécia esteve ocupada pela Alemanha durante a II Guerra Mundial.
O que eu, português, preciso de saber é se temos um governo de Vichy ou um Governo de Lisboa que responda a preceito. Mas começo a desconfiar dos ideais que Lisboa defende quando vejo a desvalorização de datas como o 1º de Dezembro. Esse foi o dia da restauração da nossa independência, o dia em que Miguel Vasconcelos, traidor e colaborador-mor (primeiro-ministro) em nome da ocupação filipina, foi atirado pela janela. E Portugal voltou a ser independente.
José Manuel Rosendo
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