sexta-feira, 12 de julho de 2013

Tenho opinião, quero ter opinião, não abdico de ter opinião. Em nome da Liberdade.




Estou cansado dos que me tentam convencer que, por ser jornalista, não posso/devo tornar pública a minha opinião sobre tudo aquilo que bem me apetecer: política, economia, futebol, decisões do Governo ou do Presidente da República, a guerra no Afeganistão, a Primavera Árabe, o aquecimento global, o casamento gay…
Muitas vezes, os que assim pensam (que não devo ter opinião), argumentam que isso me fragiliza se alguma vez tiver que entrevistar ou escrever notícias sobre protagonistas a quem eventualmente tenha criticado uma decisão ou uma atitude. Este tipo de argumento que procura condicionar a minha Liberdade, mais não é do que um convite ao pensamento único (regra geral o dos que têm poder, seja ele qual for, porque são eles os potenciais entrevistados ou protagonistas em relação aos quais me posso sentir fragilizado…) ou então é um convite para que seja um jornalista “bem-comportado”, que guarde para mim as minhas opiniões, que me limite a ser um bom pastor do respeitinho bonito e devido a quem manda, não vá aparecer a polícia dos costumes a cortar-me a língua.
 
Estou cansado desta lenga-lenga. Quem quer guardar opiniões que o faça; quem quer ser “bem-comportado” que o seja; quem tem medo que lhe cortem a língua que compre um cão. Ter opinião sobre a vida e sobre a sociedade (é isso a política) não é o mesmo que ser adepto de um clube de futebol. A opinião política (no sentido de que isso é ter opinião sobre a nossa vida) é racional, sustentada ideológica e por vezes cientificamente; as opções clubísticas são irracionais, são afectos que só o coração pode explicar. Defender opções políticas significa, em minha opinião, defender o que considero ser melhor para o todo da comunidade de que faço parte; ser adepto de um clube de futebol significa desejar a vitória do meu clube e, por defeito, a derrota do adversário. Há quem não consiga entender a diferença e meta tudo “no mesmo saco”.
 
Há também quem veja uma simples opinião sobre um qualquer acontecimento como um acto de política partidária. Esses são os que pararam no tempo e não conseguem perceber a vida, a política e o poder, para além de um quadro que começa e termina na luta partidária; Outros, conscientemente, apenas tentam pressionar, criar desconforto, para que aqueles que têm opinião se sintam inseguros ou amedrontados e não divulguem opiniões que podem ser “perigosas” para o status quo; Outros ainda, apenas não querem que surjam opiniões porque depois sentem-se mal por não terem coragem ou capacidade para, eles próprios, elaborarem e fundamentarem uma opinião que os vai expor – é disso que têm receio, são inseguros – e , eventualmente (qual é o problema?), mostrar que estão errados ou fizeram uma análise a que falta informação importante; outros ainda, são ingénuos e pensam que se ficarem caladinhos, são vistos como uns tipos porreiros que não criam problemas e conseguem passar pelos intervalos da chuva (vá lá saber-se para onde querem ir…). Outro aspecto não menos importante: ter opinião dá trabalho!
 
Enquanto jornalista, para além de não abdicar do meu direito de ter opinião, considero aliás que é minha obrigação ter opinião. Porquê? Porque temos mais informação que o comum do cidadão, porque temos acesso directo a fontes, porque sabemos onde procurar a informação que pode sustentar uma opinião e porque, afinal, tendo esse privilégio de estar onde as coisas acontecem, temos o dever de o partilhar, relatando com rigor e, se for caso disso, dar conta da nossa percepção sobre os acontecimentos, fazendo análise e quando tal considerarmos necessário, dar opinião. Não preciso de dizer que nada do que atrás referi se pode misturar: tudo bem separado, para que quem recebe a informação possa distinguir sem nenhuma dúvida o que é uma notícia, uma reportagem, uma crónica, uma análise ou uma opinião.
 
Dito isto, mantenho o meu direito/dever de ter e publicar a minha opinião. Vale o que vale, mas é minha e não abdico desse direito. Aliás, nunca uma opinião minha incluiu referências ofensivas ou ataques pessoais aos protagonistas. São ideias que contraponho a outras ideias. Se não é isto a Democracia, então não sei o que é e é por isso que a minha opinião não pode fragilizar-me.
 
Se puderem (mesmo através da Internet…), vão ao museu do Apartheid, em Joanesburgo, ou ao Yad Vashem, em Jerusalém. Se quiserem mais perto, vão ao Forte de Peniche (não digo para irem à sede da PIDE na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, porque alguns que a democracia permitiu que fossem eleitos fizeram questão de esconder essa memória), para saberem o preço que alguns pagaram pela Liberdade, o preço que pagaram por lutar contra a opressão, a discriminação, o medo…
 
Se há coisa que tentarei nunca fazer é ser ingrato para aqueles que deram a vida ou parte dela, que sofreram, para que eu hoje possa dizer que sou livre e posso ter opinião. A melhor forma de o fazer é lutar por essa Liberdade, tendo opinião e não me deixando amedrontar ou pressionar por gente que por ter medo de ter opinião quer aprisionar os outros nessa redoma de cobardia.
 
À Liberdade trato-a como a uma flor que quero deixar bem viva nas mãos dos meus filhos. Lamento, mas vou continuar a ter opinião.
 
josé manuel rosendo
pinhal novo, 12 de Julho de 2013

 
PS - foto (jmr) tirada em Benghazi, Líbia, 28 de Fevereiro de 2011. Os Líbios lutavam pela liberdade e escreveram isso até nas paredes interiores dos edíficios por onde borbulhava a revolta.

1 comentário:

  1. Subscrevo.
    Não esqueço a "Brigada do Lápis Azul" e a sua acção para que quem escrevia nos jornais conservasse a sua pureza, vendo eliminado tudo o que fosse a sua opinião, a menos que fosse coincidente com os ensinamentos que o chefe nos facultava e que, com tanta ingratidão rejeitávamos.

    ResponderEliminar