Se tiverem paciência para ler, agradeço. Estou de férias e
deu-me pra isto. Ando de “saco cheio” e nem o sol aproveito.
Mas que raio de conversa é essa de não se saber o que é
“Serviço Público”? Quem faz esta pergunta não levou vacinas quando era
pequenino? Não andou na Escola Pública? Não andou de comboio, autocarro? Nunca
viu as patrulhas da PSP ou da GNR? Não sabe que um Serviço Público é algo que o
Estado disponibiliza aos cidadãos para que eles o possam ser de facto:
cidadãos! Porque só são cidadãos, e pessoas, se tiverem um conjunto de serviços
que possam, de facto, utilizar, sem que essa utilização esteja dependente do
seu poder económico. Não sabem isto? Aqui chegados já oiço rugidos: “isso não
tem nada a ver com serviço público aplicado à rádio e à televisão”. Tem, tem!
Por que é que não se entrega o Serviço Nacional de Saúde (totalmente) aos
privados? Por que é que não se entrega o Ensino (totalmente) aos privados? Por
que é que não se entrega a Segurança (totalmente) aos privados?
A diferença entre um órgão de comunicação social (OCS)
privado e um outro público é muito simples: o privado depende da vontade dos
accionistas, tem uma orientação “editorial” de acordo com a vontade da
administração, pretende fazer dinheiro ou, o que pode ser muito mais importante
para o accionista, ser utilizado como arma de arremesso útil a estratégias do
grupo económico a que pertence (basta estar atento ao que se passa neste
momento para perceber os interesses económicos transformados em manchete de
jornal). Apesar de não concordar que um OCS deva em circunstância alguma servir
este tipo de interesses, sendo privado e atendendo aos tempos que correm – não,
não estou a fazer nenhuma concessão, estou apenas a facilitar o avanço do que
quero dizer – até dou de barato, sendo que a única opção para os
leitores/ouvintes/telespectadores, quando confrontados com este tipo de OCS, é
comprar ou não comprar, ouvir ou não ouvir, ver ou não ver. E fica por aí.
Ao contrário, um órgão de comunicação social público,
responde perante os portugueses nas instituições que têm a função de o
fiscalizar, regular e acompanhar. Podemos discutir tudo: o modelo, os canais,
as nomeações, as grelhas, as pessoas, os ordenados… podemos discutir tudo, mas
se os diferentes canais da RTP (Rádio e Televisão) produzissem as gralhas e as
notícias que vão por aí noutros OCS, “caía o carmo e a trindade”, havia
administrações e directores demitidos.
A Rádio e Televisão de Portugal faz uma cobertura do país
que nenhum outro OCS faz ou tem interesse em fazer. Se alguém quiser ter uma
noção concreta desta afirmação basta consultar as grelhas de programação,
avaliar a oferta pluralista e diversificada, analisar os noticiários e depois
pode ter uma opinião sustentada. A quem não quiser ter esse trabalho só posso
aconselhar cautela, muita cautela, com opinadores que propagam a mentira e que
nem os próprios sabem do que falam.
Mais algum OCS tem um Conselho de Opinião que representa a
sociedade portuguesa para acompanhar a sua actividade? A RTP tem.
A RTP é “ um saco de boxe”. Sempre foi. Mas essa é a “cruz”
de um OCS público, sujeito ao escrutínio dos cidadãos. E ainda bem que há esse
escrutínio, desde que seja intelectualmente honesto. Já alguém imaginou um
programa na televisão pública onde o jornalista de serviço destilasse ódio
contra a SIC como Mário Crespo, na SIC Notícias, destila ódio contra a RTP (e
contra tudo que “cheire” a serviço público)? Ninguém imagina, pois não? Sabem
porquê? Porque a RTP é um OCS público e não serve para esse tipo de coisas. Este
é um bom exemplo para perceber a diferença.
E ainda faço outro pergunta: conseguem descobrir um OCS onde
sejam publicadas notícias que não agradem ao accionista? Se calhar passou-me
alguma coisa ao lado mas gostava de encontrar um exemplo de uma notícia do Público
que belisque os interesses de Belmiro de Azevedo; uma notícia do Expresso, da
SIC ou da Visão, que belisque interesses de Pinto Balsemão; uma notícia do DN
ou do JN que belisque os interesses de Joaquim Oliveira. Eu sei que o Governo não
é o accionista da RTP (é o Estado) mas sabem quantas notícias a Rádio e a
Televisão públicas editam diariamente que o Governo preferia que fossem
ignoradas? Pois é…
E no meio de tudo isto convém desmistificar aquela história
de quem paga o quê, porque se a taxa do audiovisual uq eos portugueses pagam serve
para pagar a RTP, quem é que vocês acham que paga os outros OCS? Está-se mesmo
a ver que são os donos, os accionistas, não é? Pagamos todos, sim, pagamos
todos através do valor da publicidade que está incluído nos produtos que
compramos. Mais ainda, pagamos mesmo quando não queremos ver, ouvir ou ler, porque
compramos o produto (com a fatia da publicidade incluída no preço) independentemente
de beneficiarmos ou não do OCS que vai receber essa fatia da publicidade. E
quem quiser enfiar a cabeça na areia que faça o favor, mas que é verdade não
tenham dúvidas. Pagamos é (quase) sem dar por isso.
Quem diz que não sabe o que é Serviço Público é quem apenas
mede o valor da nossa vida (com tudo o que dela faz parte) através de uma conta
de merceeiro que só tem duas colunas: a do deve e a do haver. Coitados!
Obrigado
José Manuel Rosendo
Pinhal Novo, 1 de Setembro de 2012
Dá-lhes....
ResponderEliminarA luminária do Marcelo deu-lhes a dica para definir e contabilizar o Serviço Público.
Depois vão ter de contratar uma agência de fiscalização quantificada do Serviço público. Em vez de lápis azul, usam cronómetro.
X hora, minutos segundos e Frames!
Claro que isso dos frames a coisa complica-se....
Muito bom
ResponderEliminarAlguém tem de vir a público desmistificar a nossa empresa e o trabalho que lá se faz
Andam por aí uns tontos a dizer uma série de disparates e outros a segui-los como um bando de carneiros a caminho do matadouro
Estão a olhar de lado e nem percebem que o governo quer concessionar a RTP a custas do povo