Podia começar por dizer que a tocar o final de 2012 decidi
fazer as contas do ano. Não é verdade. Confesso que já não faço contas. Simplesmente
não gasto. Isto é, tenho que comer, mais algumas coisas básicas, pagar água,
renda de casa, luz e electricidade, e faço uns cigarrinhos de enrolar. Ponto
final.
Mas, chegado a casa, li nos jornais o que não tive tempo de
ler durante o dia. A manchete do DN tinha ficado à espera: “30 gestores tiveram
ganhos anuais acima de um milhão em 2011”. O DN acrescenta, não dizendo quem é,
que um desses 30 gestores recebeu 2,7 milhões de Euros em 2011. Os números
parecem insuspeitos porque fazem parte de um relatório anual produzido pela
CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários). No caso são gestores
executivos de empresas cotadas.
Leio o artigo enquanto vejo num canal de notícias os
aumentos de preços agendados para entrar em vigor a partir de 1 de Janeiro. Preços
de serviços prestados por empresas, algumas delas que já foram do Estado –
nossas – e pergunto-me, porque o DN não diz, se alguns destes gestores não serão
destas empresas que agora vão aumentar os preços; e pergunto-me ainda qual a
percentagem destes aumentos – que nós vamos pagar – que vai engordar estas e
outras suculentas remunerações dos ditos gestores.
Com estas perguntas para as quais certamente conhecerão a
resposta, dou comigo a pensar naqueles doutos economistas e políticos que,
sempre que falam das empresas que são do Estado quando estas apresentam contas
deficitárias – em regra os mesmos tendem a ignorar os benefícios sociais que
esse défice significa – fazem logo a seguir a pergunta que o povo gosta de
ouvir: quem é que paga isto? “Quem é que paga isto?”, é a frase a que aqueles
que estão a receber a mensagem (provavelmente desempregados, reformados,
trabalhadores a salário mínimo ou nem isso…) respondem de forma automática:
somos nós! Muito provavelmente acrescentarão, dirigindo-se aos que trabalham
nessas empresas públicas, uns quantos palavrões cuja intensidade dependerá de
quem mais tiverem ao seu redor.
Esta demagogia de perguntar “quem paga?” quando se fala de
empresas públicas é feita com a sugestão implícita de que nas empresas privadas
não são os mesmos a pagar. Pura mentira. Quem paga os lucros dos bancos? Quem paga
os lucros das seguradoras, das empresas que gerem as Auto-estradas, dos
hospitais e das escolas privadas? Quem paga o gás, a electricidade, a água, os
cigarros? Quem paga tudo ao fim e ao cabo? Somos nós, sempre nós. Isto é, somos
nós que pagámos o tal milhão de Euros que cada um daqueles 30 gestores da
manchete do DN levou para casa em 2011.
É um bocadinho como a história de saber quem paga a televisão
e rádio públicas e as televisões e as rádios privadas. Somos sempre nós, pois quem
havia de ser? Mas uma coisa é pagarmos algo que é nosso – do Estado, e assim
sendo temos uma palavra a dizer – outra bem diferente é pagarmos aquilo que não
é nosso e em relação ao qual não temos qualquer tipo poder.
josé manuel rosendo
Pinhal Novo, 28 de Dezembro de 2012
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