“O mais difícil é ganhar o partido, depois o país é canja!”.
E foi. Frase dita, assim mesmo, com esta facilidade e com um sorriso nos
lábios. Quem a disse, conhecendo-me, terá pensado que podia funcionar como uma
provocação para início de uma saudável troca de argumentos. Uma frase de alguém
muito próximo do actual Primeiro-Ministro e, apesar da informalidade que a
manhã de sol aconselhava, era de facto este o entendimento que o núcleo duro de
Pedro Passos Coelho fazia da realidade do país e do PSD. Estávamos no início de
2010.
Confesso que achei graça. Pedro Passos Coelho e os seus mais
próximos ainda andavam a reunir forças na “Plataforma Construir Ideias” e José
Sócrates ainda parecia ter energia para dar e vender, naquela azáfama de
medidas com que a determinada altura o XVIII Governo constitucional nos
brindava diariamente. Ainda não tínhamos digerido a última e já mais meia-dúzia
estavam a ser anunciadas.
A fonte que revelou esta lente através da qual o PSD olhava
o futuro – não revelo a fonte porque a conversa era mesmo informal – tinha toda
a razão, e eu, alguns meses depois, deixei de achar graça. E ganhei uma
preocupação. Não em termos de opções políticas ou por causa da anunciada
“refundação do Estado”. Perante outras questões mais preocupantes, opções
políticas e “refundação do Estado” passam para segundo plano. O partido foi
ganho, o país também, mas isso conduziu-nos a este tempo em que desta pobre
democracia já não esperamos líderes com quem nos identifiquemos ideologicamente
ou de quem discordando politicamente apreciemos a personalidade, o carácter ou
outra qualquer qualidade. Chegámos ao ponto em que apenas esperamos líderes a
quem possamos comprar, se for caso disso, um carro em segunda mão.
Para além dos “casos” que envolveram o Ministro Miguel
Relvas e que não tiveram nenhum tipo de consequência política, agora somos
confrontados com a nomeação de um Secretário de Estado, Franquelim Alves, que
foi administrador da SLN, a holding proprietária do BPN. Não é crime ter sido
administrador da SLN, mas a escolha do Primeiro-Ministro é politicamente
incompreensível. O BPN já “comeu” muito milhares de milhões de Euros de
dinheiros públicos e a história continua por contar. Foi uma fraude de que
alguns tiraram benefícios e que estamos todos a pagar. Para além disso, a
última coisa que este Governo precisava, agora, era de mais um caso.
Aqui
chegados, adicionemos outra premissa ao raciocínio: Pedro Passos Coelho é um
homem inteligente. Mas fará o favor de não nos considerar estúpidos. É por isso
que é ainda mais complicado entender a decisão do Primeiro-Ministro sem cair na
tentação da especulação. Se a escolha de Franquelim Alves é politicamente
indefensável, então por que terá sido escolhido? É difícil entender. Resta a
especulação: chegamos ao ponto de pensar que está a ser criado um facto
político que serve para entreter enquanto algo mais importante está a ser
decidido ou então alguém impôs o nome de Franquelim Alves. Para quê e porquê? E
o Primeiro-Ministro não podia dizer que não?
Voltando ao início deste texto, o partido está ganho e o
país também. Temos um camião de laranjas que não enche um copo de sumo: da
social-democracia nem sinal, do país sinais de conformismo. Está a ser canja!
Só falta o raminho de hortelã…
* a frase não é do autor do texto
josé manuel rosendo
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