Hugo Chávez foi um líder perfeito? Não! Foi um homem
perfeito? Não! Teve uma orientação política perfeita? Não! Aliás, tenho pavor
das pessoas e das coisas perfeitas. Mas perguntem aos mais carenciados da
Venezuela se gostaram mais de ser liderados por Hugo Chávez ou durante o tempo
que o antecedeu. Depois perguntem às petrolíferas se gostaram da liderança de
Chávez.
Como é evidente, jornalista que sou, amo a Liberdade. A Liberdade
de poder dizer e escrever o que penso. A falta dessa Liberdade, uma mão a
tapar-me a boca, é algo verdadeiramente intolerável. Mas a questão que se
colocava a Chávez na Venezuela era a de tentar mudar um país que, em nome de
alguma, sublinho, de alguma liberdade, mantinha uma larga parcela da população
em grande miséria enquanto petrolíferas estrangeiras e outras multinacionais se
enfartavam nos lucros chorudos.
Chávez mudou como lhe foi possível, sacrificando alguns
aspectos que deram aos inimigos os argumentos para dizerem que não era um
democrata. Provavelmente esses inimigos apenas queriam ter a oportunidade de
lhe sacar o poder para tudo voltar a ser como dantes. Chávez mudou como lhe foi
possível mudar essa situação, dentro de uma realidade que é a da América Latina
e que alguns teimam em analisar usando a lente do chamado “mundo livre”, mais
concretamente o mundo das chamadas democracias neoliberais, e obviamente
incorrendo em erros de análise provocados por uma deficiente grelha de avaliação.
Claro que os homens dos negócios estragados por Chávez não
perderam tempo a minar-lhe o caminho e a catalogá-lo de populista, ditador, e
por aí fora. Os programas de televisão, os números de anedotas, o discurso na
ONU quando depois de ver George W. Bush disse que tinha visto o diabo, tudo
isso é um discurso que tem que ser analisado tentando entender como funciona a
sociedade venezuelana e a própria América Latina. O discurso de Hugo Chávez,
parecendo algo inaceitável para uma Europa que pensa ser exemplo para o Mundo,
era um discurso afectivo porque Chávez falava ao povo dele com a linguagem que
o povo entendia e isso não é necessariamente populismo. Se calhar, muitos “líderes”
europeus precisavam aprender alguma coisa com Chávez para que nós os pudéssemos
entender, algo que por vezes é muito difícil.
Quanto ao “Chavismo”, se ele está ou não cimentado na
sociedade venezuelana, é agora que vamos saber. Qualquer sistema que assenta na
personalidade de um líder tem um momento complicado e conturbado quando o líder
morre. À esquerda e à direita. Sabemos que até agora o “palco” era de Chávez,
mas isso não significa directamente que não haja ninguém na “segunda linha” que
possa tomar as rédeas do poder, mantendo a orientação política que a liderança
de Chávez construiu. Um palco, um líder, uma tradição latino-americana.
Chávez reclamava a herança de Simão
Bolívar. Que herança era essa? Criar um projecto de defesa conjunta do
sub-continente sul-americano que defendesse os povos das então potências
europeias. Foi uma utopia porque era um momento (estamos em 1826, por aí…) em
que estes países mal conseguiam manter a sua unidade interna, quanto mais
edificar um projecto desta dimensão. Era deste projecto que Hugo Chávez se reclamava
herdeiro. Era a “metáfora” para falar da solidariedade que considerava necessária
para enfrentar, desta vez, o inimigo norte-americano mas também a olhar para a
União Europeia.
Outro aspecto a ter em conta no dia da notícia da morte de
Hugo Chávez é o da expulsão de dois adidos militares norte-americanos pouco
antes de ser conhecida a morte de Hugo Chávez. Sabemos todos qual é o passado
norte-americano de interferência em países da região que os Estados Unidos
definem como o “seu Mediterrâneo” (o Mar das Caraíbas). Os venezuelanos também
sabem.
josé manuel rosendo
Pinhal Novo, 5 de Março de 2013
Concordo a 100%
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