Não sou daqueles que não leva desaforo para casa. Às
vezes levo. Mas sei que, mastigado o assunto, a ele terei de voltar. Acabei de
assinar a petição pública “Pela liberdade e pela democracia” por causa dos despedimentos
na Controlinveste. Assinei porque concordo com o que lá está escrito, porque
sei que o jornalismo, a liberdade e a democracia, ficam mais fracos com o
emagrecimento das redacções. Todas as redacções. Assinei por solidariedade. Mas
sendo eu um jornalista do chamado “Serviço Público”, achei por bem dizer-vos
isto.
A coberto da defesa da liberdade de imprensa e de
informação, em defesa da iniciativa privada, estigmatizou-se o serviço público.
Feito o caminho, chegamos ao momento em que essa tese pariu uma “liberdade de
imprensa” refém dos grupos económicos proprietários das empresas jornalísticas (ou
de comunicação social – convinha por vezes definir fronteiras) com interesses
tantas vezes opostos à Liberdade, à Informação e ao Serviço Público (porque
todo o jornalismo íntegro é serviço público).
Aqueles que diziam que o serviço público era o
serviço oficial dos governo, acrescentando que o jornalismo não era isso,
esquecem-se hoje de olhar para dentro, para alguns espaços de antena (peças/reportagens/…)
e páginas de jornais que mais parecem novelas ou promoções de supermercado. Não
conseguem olhar para dentro e dizer: isto não é jornalismo. Ou se e quando
olham, lá esgrimem aquele argumento, muito a custo mas ainda assim tão
demagógico do “ou é assim e temos audiências (publicidade/dinheiro) ou perdes o
emprego. O que é que preferes?”.
As redacções do Serviço Público têm vindo a “emagrecer”.
Gostava de ver esta questão abordada com outra frequência na chamada comunicação
social livre. Gostava que fosse possível aos leitores/ouvintes/telespectadores
da chamada comunicação social livre terem a noção da importância do problema de
um Serviço Público enfraquecido. Mas não vejo.
Conheço jornalistas que chegaram a pedir-me o
telefone (do serviço público...) dizendo que o telefone “é nosso… não é o Estado que paga?”.
Assim mesmo. Eu sei que os jornalistas, entre eles, muitas vezes, resolvem os
problemas e esquecem as rivalidades das empresas – e os patrões não precisam de
saber e em muitos casos nem sonham. Emprestei sempre o telefone, até o
particular, porque é assim que deve ser. Tal como hoje assino esta petição.
Porque é assim que deve ser.
Conheço jornalistas que “ganhavam vida” a
cada pedaço de serviço público que era destruído, pensando que era mais um
pedaço que lhes podia ser útil (fosse audiências, fosse fatia de publicidade).
Conheço jornalistas que disseram cobras e
lagartos do serviço público, mas só até ao momento em que nele foram acolhidos
para trabalhar…
Não me peçam nomes. Recorram à memória e
provavelmente encontrarão alguns.
Eu sei que esta carapuça não entra na cabeça de toda
a gente e sei que alguns, muitos, não vão sentir-se minimamente atingidos, e
ainda bem, mas se não vos dissesse isto não havia rennie que me valesse.
josé manuel rosendo
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