terça-feira, 22 de julho de 2014

Gaza: vai haver um cheque para lavar a má consciência…



As fotos são da Faixa de Gaza em Janeiro de 2009.

Não sei quantos mortos e estropiados ainda faltam mas, mais tarde ou mais cedo, vai terminar o que está a acontecer – abstenho-me de adjectivar – na Faixa de Gaza. E vai terminar demasiado tarde. Mesmo assim, depois de terminar, tudo vai continuar na mesma.

A atitude politicamente correcta, que dá muitos likes nas redes sociais, é dizer que há maus e bons dos dois lados, que uma vida que se perde é sempre uma vida e nada há mais importante do que isso, que há culpados dos dois lados. Essa é uma atitude compreensível para quem é um pacifista genuíno e está disposto a morrer sem levantar um dedo se alguma vez na vida sofrer uma agressão violenta. Duvido que muitos dos que gostam de ser politicamente correctos tivessem essa atitude perante uma agressão. Essa é também a atitude que nos leva a enterrar a cabeça na areia para não enfrentarmos a realidade e para não fazermos sequer um esforço de modo a entender o conflito. Sublinho que escrevi ENTENDER, não escrevi tomar partido.

Para entender o conflito israelo-palestiniano é preciso entender a actual Ordem Internacional e a arquitectura de pilares em que ela assenta. O conflito israelo-palestiniano não vai terminar enquanto se mantiver esta Ordem Internacional e o actual Status Quo no relacionamento entre Estados. Existem os poderosos e … os outros. De entre os outros, os que têm um lugar na segunda fila e ainda os que tentam obter algumas das migalhas que vão caindo da grande mesa dos negócios. A alguns tudo é permitido e as retaliações não passam da retórica, ainda assim muito cuidadosa e sempre parcimoniosa; a outros nada é permitido e as sanções saltam da cartola à primeira “escorregadela”. Uns podem matar com recurso a altas tecnologias em que nem sujam as mãos; outros são apelidados de terroristas com toda a facilidade, só porque lutam por uma causa em que acreditam com meios rudimentares ou muito longe das altas tecnologias dos inimigos. É a realidade.

Quem, ainda, manda no Mundo, são os Estados Unidos da América. Depois, quem é seu aliado, beneficia da sua “protecção” embora também tenha que, por vezes, arcar com as consequências e, outras vezes, pagar tributo. Mas a Rússia espreita; a China também (e de que maneira…); a Índia promete e… a União Europeia não existe. Já agora: cabe na cabeça de alguém que defenda uma Europa unida entregar a pasta da representação externa a uma britânica (Catherine Ashton)? É que o Reino Unido nem sequer está com os dois pés na União Europeia…! Qual é a política externa que a senhora Ashton verdadeiramente serve? A da União Europeia ou a do Reino Unido? Já repararam como David Cameron se empertigou a pedir sanções contra a Rússia por causa do  caso do avião da Malásia Airlines? Era bom não era Senhor Cameron deixar a Alemanha à rasca (por causa do gás russo) com muitas e fortes sanções da União Europeia contra a Rússia?

Podemos também referir o Iraque como exemplo acabado de mais um parto manhoso da actual Ordem Internacional. Este seria o momento para que George W. Bush, José Maria Aznar, Tony Blair e Durão Barroso, e já agora Paul Bremer, fossem chamados para dizerem como se resolve o imbróglio
É assim que estamos. É esta a actual Ordem Internacional. E é por isso que a expressão “comunidade internacional” devia ser banida, se não do discurso político pelo menos da narrativa jornalística uma vez que de objectivo comuns este mundo não tem nada. E se não há objectivos comuns não é legítimo falar de comunidade.

Esta parte do mundo em que vivemos ameaçava algum progresso e evolução até ao dia em que a dupla Teatcher/Reagan tomaram chá e trocaram olhares. É essa a origem do mal dos nossos tempos, nesta nossa parte do mundo, sendo certo que outro mal existiria se alguém tivesse envenenado o chá destes dois.

O que está a acontecer na Faixa de Gaza não devia poder acontecer se existisse, de facto, uma comunidade internacional. Tudo vai terminar com apoios e cheques aos mais atingidos. Cheques que tentam lavar a má consciência.

josé manuel rosendo

22 de Julho de 2014

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