As fotos são da Faixa de Gaza em Janeiro de 2009.
Não sei quantos mortos e estropiados ainda faltam mas, mais
tarde ou mais cedo, vai terminar o que está a acontecer – abstenho-me de
adjectivar – na Faixa de Gaza. E vai terminar demasiado tarde. Mesmo assim, depois de terminar, tudo
vai continuar na mesma.
A atitude politicamente correcta, que dá muitos likes nas
redes sociais, é dizer que há maus e bons dos dois lados, que uma vida que se
perde é sempre uma vida e nada há mais importante do que isso, que há culpados
dos dois lados. Essa é uma atitude compreensível para quem é um pacifista genuíno
e está disposto a morrer sem levantar um dedo se alguma vez na vida sofrer uma
agressão violenta. Duvido que muitos dos que gostam de ser politicamente
correctos tivessem essa atitude perante uma agressão. Essa é também a atitude
que nos leva a enterrar a cabeça na areia para não enfrentarmos a realidade e
para não fazermos sequer um esforço de modo a entender o conflito. Sublinho que
escrevi ENTENDER, não escrevi tomar partido.
Para entender o conflito israelo-palestiniano é preciso
entender a actual Ordem Internacional e a arquitectura de pilares em que ela
assenta. O conflito israelo-palestiniano não vai terminar enquanto se mantiver
esta Ordem Internacional e o actual Status Quo no relacionamento entre Estados.
Existem os poderosos e … os outros. De entre os outros, os que têm um lugar na
segunda fila e ainda os que tentam obter algumas das migalhas que vão caindo da
grande mesa dos negócios. A alguns tudo é permitido e as retaliações não passam
da retórica, ainda assim muito cuidadosa e sempre parcimoniosa; a outros nada é
permitido e as sanções saltam da cartola à primeira “escorregadela”. Uns podem
matar com recurso a altas tecnologias em que nem sujam as mãos; outros são
apelidados de terroristas com toda a facilidade, só porque lutam por uma causa
em que acreditam com meios rudimentares ou muito longe das altas tecnologias
dos inimigos. É a realidade.
Quem, ainda, manda no Mundo, são os Estados Unidos da
América. Depois, quem é seu aliado, beneficia da sua “protecção” embora também
tenha que, por vezes, arcar com as consequências e, outras vezes, pagar
tributo. Mas a Rússia espreita; a China também (e de que maneira…); a Índia
promete e… a União Europeia não existe. Já agora: cabe na cabeça de alguém que
defenda uma Europa unida entregar a pasta da representação externa a uma
britânica (Catherine Ashton)? É que o Reino Unido nem sequer está com os dois
pés na União Europeia…! Qual é a política externa que a senhora Ashton
verdadeiramente serve? A da União Europeia ou a do Reino Unido? Já repararam
como David Cameron se empertigou a pedir sanções contra a Rússia por causa
do caso do avião da Malásia Airlines?
Era bom não era Senhor Cameron deixar a Alemanha à rasca (por causa do gás
russo) com muitas e fortes sanções da União Europeia contra a Rússia?
Podemos também referir o Iraque como exemplo acabado de mais
um parto manhoso da actual Ordem Internacional. Este seria o momento para que
George W. Bush, José Maria Aznar, Tony Blair e Durão Barroso, e já agora Paul
Bremer, fossem chamados para dizerem como se resolve o imbróglio
É assim que estamos. É esta a actual Ordem Internacional. E
é por isso que a expressão “comunidade internacional” devia ser banida, se não
do discurso político pelo menos da narrativa jornalística uma vez que de
objectivo comuns este mundo não tem nada. E se não há objectivos comuns não é
legítimo falar de comunidade.
Esta parte do mundo em que vivemos ameaçava algum progresso
e evolução até ao dia em que a dupla Teatcher/Reagan tomaram chá e trocaram
olhares. É essa a origem do mal dos nossos tempos, nesta nossa parte do mundo,
sendo certo que outro mal existiria se alguém tivesse envenenado o chá destes
dois.
O que está a acontecer na Faixa de Gaza não devia poder
acontecer se existisse, de facto, uma comunidade internacional. Tudo vai
terminar com apoios e cheques aos mais atingidos. Cheques que tentam lavar a má
consciência.
josé manuel rosendo
22 de Julho de 2014
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