No início desta semana o DN publicou um artigo brilhante
assinado pelo editor do Financial Times, Wolfgang Münchau. Confesso que não sei
quem o senhor é nem me dei ao trabalho de googlar.
Mas sei que é editor do Financial Times, essa quase bíblia sempre referida com
reverência por parte da nomenclatura nacional. E eu, sabendo isto, e porque
parto sempre do princípio um pouco naïf
de que quem chega a editor – ou director, ou seja lá o que for… – num órgão de
informação, deve saber o que anda a fazer e a dizer, dou-lhe suficiente
importância para lhe dedicar meia-dúzia de linhas.
O artigo em causa é a propósito da Grécia e, claro, Tsipras,
esse bandido, que recusa ser bom aluno dos extremistas neoliberais. Desde logo,
Münchau diz ao que vem e separa “constrangimentos económicos” de
“constrangimentos políticos”. Isto é, ao dinheiro o que é do dinheiro. Essa
coisa menor que é a política não importa a Wolfgang Münchau. Continua a fazer
caminho a ideia de que a política deve submeter-se aos ditames da economia.
Convém que assim seja.
O editor do Financial Times explica que os “os
constrangimentos políticos” são lá com Tsipras, mas ele, Münchau, quer
discorrer sobre os “constrangimentos económicos”. E é então que o mago revela o
interior da cartola: o acordo entre a Grécia e os credores dependerá do valor
de superavit primário que ficar
estabelecido. Isto é, os credores querem saber quanto fica nos cofres depois do
Estado grego somar todas as despesas com vencimentos, pensões e afins; os credores
querem saber quanto sobra, não para pagar a dívida, mas para pagar o serviço da
dívida; os credores querem saber como é que a Grécia lhes vai encher o prato
com essa especiaria chamada juros.
Uma coisa sempre me inquietou nesta coisa dos resgates e afins.
Se agora, em relação aos países endividados, os credores exigem “ajustamento
orçamental” (entenda-se austeridade: políticas de cortes em vencimentos,
pensões e serviços) por que não fizeram a análise da possibilidade de pagamento
antes de fazerem os empréstimos? Porquê agora, quando a Grécia (e os outros…)
está com a corda no pescoço? Porque FMI, CE e BCE está cheia de gente
competente, apenas encontro uma resposta: foi má-fé! Não é nova a receita de
emprestar para depois, perante a incapacidade de pagamento, os credores
ocuparem os territórios endividados. Noutros tempos foi mesmo ocupação militar
e política; agora é ocupação financeira. Se houver “bons alunos” entre os
nativos endividados, ainda melhor.
Regressando a Münchau, ele próprio critica os credores por
terem oferecido à Grécia um “pacto com o diabo” aquando de anteriores
empréstimos feitos na perspectiva de um superavit
futuro de valores intangíveis. Mais uma vez: má-fé! A Grécia ficou de tal modo
sem saída para a dívida que vai ter que ser um país à vontade dos credores,
desenhado como se não houvesse povo nem território mas apenas uma enorme conta
de deve e haver cujas parcelas têm que corresponder aos anseios dos credores. E
nós sabemos bem do que significam “ajustamentos orçamentais”.
Pensando de dentro do sistema e, obviamente, de acordo com o
sistema que tem por máxima “quem paga as contas é quem manda”, Wolfgang Münchau
apresenta a solução ideal: deduz-se do seu texto que um superavit primário entre 1,5% e 2,5% do Produto Interno Bruto da
Grécia seria algo razoável e que dentro dessa margem o país seria viável. Isto
é: Wolfgang considera que a corda no pescoço da Grécia deve ser bem apertada,
mas de modo a que a desgraçada, pendurada na forca, consiga tocar com a ponta
dos pés no estrado do cadafalso. O equilíbrio é precário mas os Euros dos juros
vão continuar a chegar aos bolsos dos usurários.
Manter o Sistema. Sempre. Talvez seja por isso que Wolfgang
Münchau é Editor do Financial Times.
Pinhal Novo, 29 de Maio de 2015
josé Manuel rosendo
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