Há tanto barulho à volta dos órgãos de informação em
vésperas de campanha eleitoral que dá para desconfiar. De repente, tanta gente
preocupada com a transparência. Palpita-me que vai ficar tudo mais ou menos na
mesma. E mesmo que as Leis sofram uns retoques há-de haver alguém muito
habilidoso que deixará uma escapatória para futuras conveniências. Dirão que é
um processo de intenções. Talvez, mas um dos problemas do regime é que, de
tanto legislar, conseguiu transformar as maiores trafulhices em situações
legais. É frequente ouvirmos o argumento de que “é tudo legal”. E é, em muitos
casos. Há vigarices legais. O próprio Estado faz vigarices que são legais.
Basta pensarmos nos cortes nos vencimentos e pensões. E é tudo legal. Eu também
gostava de fazer leis a meu jeito. Ou de poder impor ao patrão que me
aumentasse o ordenado. Mas, alto aí, a vigarice não chega a tanto.
Quanto aos órgãos de informação, as alterações sonhadas
pelos parteiros do costume começaram por imaginar um plano prévio para
cobertura jornalística das campanhas eleitorais que teria de ser submetido à
apreciação de uma comissão de sábios. Houve o alarido do costume e essa parece
que já caiu.
Agora, os Aladinos voltaram a sonhar: querem saber quem
financia e quem é credor dos órgãos de comunicação social. Acho bem. E saber ao
pormenor quem são os donos também não seria mau. Mas acrescento um dado: vamos
lá a saber quem paga viagens ao estrangeiro (e não só) aos órgãos de
comunicação social para depois – claro – terem direito à notícia e respectiva
fotografia ou tempo de antena. Toca a saber quem paga o quê e a quem e a começar
pelas viagens oficiais. Todos sabemos que uma viagem ao estrangeiro há-de
render, no mínimo, uma página de jornal, uma ou duas fotos e dois ou três
minutos de pantalha. E se isto não é influenciar critérios editoriais então não
sei o que é.
Se juntarmos a isto a falta de dinheiro das redacções para fazerem
seja o que for (desde que não seja futebol ou reportagens com a Paris Hilton…)
os convites caem que nem sopa no mel. E podemos juntar às viagens oficiais
outras que as empresas “facultam” e as instituições “incentivam”. Ora aí está
algo a que a ERC podia e devia dedicar o seu tempo e sempre calaria os que
dizem que não serve para nada. E não é preciso fazerem o “estudo” do costume.
Ponham cá fora a lista de quem pagou a quem e quem convidou quem, e já agora
vejam lá que notícias, entrevistas e reportagens resultaram dessas viagens pagas.
Isso é que era…
Há mais de 40 anos meus caros leitores. Há mais de 40 anos
que é assim. Já para não falar de outros tempos, com outros proprietários e com
as mordaças conhecidas, mas, pelo menos, essas eram declaradas e assumidas.
josé manuel rosendo
Pinhal Novo, 4 de Junho de 2015
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