quinta-feira, 4 de junho de 2015

A transparência que tapa o sol com uma peneira



Há tanto barulho à volta dos órgãos de informação em vésperas de campanha eleitoral que dá para desconfiar. De repente, tanta gente preocupada com a transparência. Palpita-me que vai ficar tudo mais ou menos na mesma. E mesmo que as Leis sofram uns retoques há-de haver alguém muito habilidoso que deixará uma escapatória para futuras conveniências. Dirão que é um processo de intenções. Talvez, mas um dos problemas do regime é que, de tanto legislar, conseguiu transformar as maiores trafulhices em situações legais. É frequente ouvirmos o argumento de que “é tudo legal”. E é, em muitos casos. Há vigarices legais. O próprio Estado faz vigarices que são legais. Basta pensarmos nos cortes nos vencimentos e pensões. E é tudo legal. Eu também gostava de fazer leis a meu jeito. Ou de poder impor ao patrão que me aumentasse o ordenado. Mas, alto aí, a vigarice não chega a tanto.

Quanto aos órgãos de informação, as alterações sonhadas pelos parteiros do costume começaram por imaginar um plano prévio para cobertura jornalística das campanhas eleitorais que teria de ser submetido à apreciação de uma comissão de sábios. Houve o alarido do costume e essa parece que já caiu.

Agora, os Aladinos voltaram a sonhar: querem saber quem financia e quem é credor dos órgãos de comunicação social. Acho bem. E saber ao pormenor quem são os donos também não seria mau. Mas acrescento um dado: vamos lá a saber quem paga viagens ao estrangeiro (e não só) aos órgãos de comunicação social para depois – claro – terem direito à notícia e respectiva fotografia ou tempo de antena. Toca a saber quem paga o quê e a quem e a começar pelas viagens oficiais. Todos sabemos que uma viagem ao estrangeiro há-de render, no mínimo, uma página de jornal, uma ou duas fotos e dois ou três minutos de pantalha. E se isto não é influenciar critérios editoriais então não sei o que é. 

Se juntarmos a isto a falta de dinheiro das redacções para fazerem seja o que for (desde que não seja futebol ou reportagens com a Paris Hilton…) os convites caem que nem sopa no mel. E podemos juntar às viagens oficiais outras que as empresas “facultam” e as instituições “incentivam”. Ora aí está algo a que a ERC podia e devia dedicar o seu tempo e sempre calaria os que dizem que não serve para nada. E não é preciso fazerem o “estudo” do costume. Ponham cá fora a lista de quem pagou a quem e quem convidou quem, e já agora vejam lá que notícias, entrevistas e reportagens resultaram dessas viagens pagas. Isso é que era…

Há mais de 40 anos meus caros leitores. Há mais de 40 anos que é assim. Já para não falar de outros tempos, com outros proprietários e com as mordaças conhecidas, mas, pelo menos, essas eram declaradas e assumidas.

josé manuel rosendo
Pinhal Novo, 4 de Junho de 2015

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