Créditos da foto: ONU
Das
primeiras páginas dos jornais que já vi para esta quinta-feira, nem um faz chamada
de primeira página ao discurso do Presidente da República, ontem à noite
(quarta-feira), perante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Marcelo
Rebelo de Sousa discursou às 23h00 e o discurso, que me pareceu muito bom, deve
ter sido uma das pouquíssimas vezes em que Portugal deu “um murro na mesa”,
mesmo que tenha sido suave, em matéria de política internacional. Mas não é
isso que está em causa.
Antes
de assinalar o que considero importante, acrescento que a minha rádio também não
transmitiu em directo – apenas passámos excertos nos noticiários – os cerca de
20 minutos do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa. Não sei o que fizeram as
outras rádios e quanto a televisões apenas sei que a RTP3 transmitiu o discurso
em directo. Perdoem-me não ter paciência para ir à boxe verificar o que todos
andaram a fazer.
Junto
um outro elemento: lembrar-se-ão certamente do alarido e do foguetório que
todos fizemos quando António Guterres foi eleito Secretário-geral das Nações
Unidas. Horas de televisão e de rádio, mais páginas e páginas de jornais.
Dito
isto e tendo em conta a cobertura jornalística que se seguiu sobre a actividade
de Guterres, juntando a desvalorização que agora acaba de ser feita ao discurso
do presidente da República, é imperioso tentar encontrar resposta para algumas
questões.
Não
poderiam os jornais ter fechado um pouco mais tarde para poder trazer uma
informação já de hora tardia que agradaria aos leitores que adormecem mais cedo
e que esta quinta-feira vão comprar o jornal? Se fosse um jogo de futebol
importante (bastaria que fosse de um dos chamados grandes) não teriam esperado
para saber o resultado?
O
alarido com a eleição de António Guterres para Secretário-geral da ONU aconteceu
porque a ONU é de facto uma organização importante, e o que lá se passa é
importante, ou esse alarido foi apenas a expressão do mesmo olhar provinciano
que transforma em notícia qualquer referência a Portugal num jornal ou revista
estrangeiros?
A
Assembleia Geral da ONU é o momento em que cada país diz ao Mundo o que por
aqui anda a fazer e o que pensa dos problemas comuns. É a casa comum dos países
em que todos se olham nos olhos e dizem ao que vão e o que querem. É a grande
casa da Política Internacional. Mas que importa isso num país em que há coisas
muito mais importantes a preencherem as páginas dos jornais e o tempo das
rádios e televisões!?
Seria
assim tão caro atrasar um pouco o fecho dos jornais ou transmitir em directo o
discurso do Presidente da República? É que neste caso nem sequer podem utilizar
a desculpa do “não há dinheiro” porque bastava estar a seguir os discursos
através da página das Nações Unidas. E quanto aos jornais não me venham dizer
que está tudo nas respectivas páginas de Internet porque se a resposta for essa, então mais vale assumirem a cobardia de não terem a coragem de acabar de vez
com as edições em papel.
É
nestes momentos que sinto vergonha. Sei que é um sentimento de vergonha alheia,
mas não consigo deixar de sentir vergonha do estado a que o jornalismo chegou.
Pinhal
Novo, 27 de Setembro de 2018
josé
manuel rosendo
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