Eleição após eleição, à medida que se aproxima o dia de
decisão nas urnas, as sondagens apresentam a coisa como estando renhida. Quando
não está renhida directamente entre duas forças políticas está renhida na soma
das possíveis coligações para formar governo. Há “empates técnicos”, há
sondagens com resultados contraditórios, há “margens de erro” que mantêm a
incerteza, qual jogo de futebol empatado a dois minutos do fim e com as duas
equipas lançadas ao ataque e as bolas a baterem nos postes.
Os discursos dramatizam-se, o poder diz que depois dele será
o caos, a oposição mais próxima de uma eventual vitória eleitoral apela aos
eleitores para que escolham a única força política que tem possibilidades de
chegar ao poder e apear os malvados que lá têm estado. Tem sido sempre assim e é
um discurso chantagista.
Não é um exclusivo de Portugal, mas os portugueses, quando
estão fartos e descontentes com o Governo em funções, votam na força política
que mais possibilidade tem de apear os governantes do momento. É o chamado voto
útil: aquele que permite mudar (ou manter) alguma coisa no imediato. Tem sido
assim sempre que há mudança de partido político no poder: vota-se contra o que
está porque não nos serve; vota-se no que está porque quem ameaça o poder em
vigor é ainda pior. Vota-se contra alguma coisa ou alguém e não naquilo em que
de facto se acredita.
É o voto no “menos mau”, o voto para impedir a vitória do
candidato “que detestamos”, o voto para que um “governo horrível” seja apeado
do poder ou o voto para que um determinado partido político da oposição não
chegue ao poder.
Nunca se saberá ao certo que resultado teria uma eleição se
todos os eleitores votassem apenas num programa político anónimo, ou seja, sem
saberem qual a sua origem partidária e quais os políticos a ele associados. É
evidente que a política depende muito dos homens que põem em prática os
respectivos programas partidários (porque há políticos sérios para quem o
serviço público faz todo o sentido), mas ainda assim seria um exercício
interessante embora provavelmente impossível.
Os analistas do “centrão” têm contribuído para este estatuto
decisivo do voto útil: dizem habitualmente que quem não vota útil (num dos
partidos com possibilidade de vencer ou num outro do chamado “arco do poder”) está
a fazer um voto de protesto. Isto descodificado vai dar, mais ou menos, num
outro aspecto interessante: quem não vota centrão – entenda-se “partidos do
arco do poder” – é “radical”. E pronto, aqui chegados, sempre com o centrão no
poder e sempre com o benefício desse chamado voto útil, eu gostava de ouvir uma
explicação para o estado a que o país chegou e qual foi, de facto, a utilidade
do voto. E não me admirava que alguma mirabolante teoria atribuísse culpas aos “radicais”
e aos que habitualmente fazem o tal “voto de protesto”.
Por mim, voto útil é o voto que corresponde às minhas opções
políticas, ao meu modelo de sociedade, ao futuro que quero para os meus filhos.
O meu voto quando cai na urna não leva ódio nem raiva a ninguém, leva esperança
num futuro digno e num país em que a justiça seja de facto Justiça e em que o
chamado Estado de Direito não seja uma mera grelha de leis arquitectadas
nos gabinetes para dar cobertura a máfias de engravatados bem falantes e sem
escrúpulos. Não voto depois de fazer contas à pressa na perspectiva de uma
promoção, um aumento salarial ou uma redução de impostos. Da utilidade do meu
voto sei eu e nessa não me apanham.
Obrigado
José Manuel Rosendo
Pinhal Novo, 13 de Outubro de 2012
Olá amigo José! Tens toda a razão, mas para mim, o problema está na base, no sistema eleitoral, que beneficia os maiores partidos com regras que à partida propiciam este género de apelos (ao voto útil).
ResponderEliminarUm bom exemplo disso são os mais recentes resultados para as legislativas açoreanas onde o partido mais votado, com 48,98% dos votos obteve dessa forma maioria na assembleia regional...
PS: 48,98% (31 mandatos)
PSD: 32,98% (20 mandatos)
CDS-PP: 5,67% (três mandatos)
PCP-PEV: 1,89% (um mandato)
BE: 2,26% (um mandato)
PPM: 0,08% (um mandato)
Outra situação é o facto das eleições legislativas serem para escolher listas de pessoas de um determinado partido para deputados, que ou não conhecemos de lado nenhum, ou não nos representam de modo nenhum, mas onde acabamos a votar apenas na cor partidária que tem o líder que mais nos atrai, que nem nos representará como deputado, se esse partido não for vencedor, pois pode pertencer a uma lista de outra distrital qualquer...