O respeito por alguém é um sentimento muito profundo. Numa
breve reflexão rapidamente encontramos pessoas ou instituições que nos merecem grande
respeito. Pelas suas acções, pelas suas atitudes, pela sua legitimidade quando
fazem ou dizem alguma coisa. Ou porque têm um percurso coerente, ou porque têm
sido fiéis a princípios com os quais concordamos, ou porque lhes foi confiada
uma responsabilidade que souberam merecer, ou porque têm sapiência reconhecida
nas matérias que tratam, ou porque são homens e mulheres íntegros. Ser íntegro é
algo fácil de definir: honestidade, saber, educação e, em casos de liderança,
ter a capacidade de tomar decisões aceitando isso como uma responsabilidade e não
como um poder que serve para humilhar terceiros ou atingir objectivos egoístas.
Por vezes confunde-se aquilo que habitualmente designamos por boa-educação com essa
integridade que se exige a quem lidera.
Na mesma breve reflexão também não demoramos a encontrar
alguém que não nos merece respeito nenhum. Seja pela licenciatura obtida de
forma duvidosa, seja pelas negociatas nada transparentes, seja pela facilidade
com que hoje diz uma coisa e amanhã diz exactamente o contrário.
Ouvir alguém atentamente, fazer um cumprimento quando se
chega e quando se parte, falar num tom calmo, ser cordial, são características
insuficientes para alguém se dar ao respeito e para merecer esse respeito. Quantos
canalhas não andam por aí que reúnem as características que atrás referi, usam
colarinho branco e gravata de seda, e não passam de pulhas da pior espécie. Também
os há sem colarinho branco e gravata de seda.
Ganhamos respeito a uma pessoa ou a uma instituição quando
as suas acções vão ao encontro daquilo que esperamos delas; quando essas acções
transcendem a esfera do egoísmo e do amiguismo; quando são acções que
beneficiam a comunidade em detrimento de interesses particulares; quando são
acções que nos ajudam a desenvolver e crescer enquanto comunidade: quando são
acções que defendem os que têm menos defesas; quando são acções que têm a
coragem de atacar os mais poderosos. São essas acções, difíceis, que tornam
respeitadas as pessoas e as instituições.
Registei, há já algum tempo, durante um debate no
Parlamento, quando Manuela Ferreira Leite ainda era deputada, uma frase da
antiga líder do PSD que é reveladora da confusão de valores. Dizia Manuela
Ferreira Leite (mais ou menos desta forma que cito de memória…), respondendo a
um deputado de uma outra bancada parlamentar, “lá em casa os seus (do deputado
visado nesta intervenção) filhos têm-lhe respeito porque é o senhor que paga as
contas”. O deputado visado não respondeu mas eu teria respondido que mal vai
Manuela Ferreira Leite se apenas se consegue dar ao respeito porque paga as
contas. Este tipo de pensamento revela que se perdeu o sentido da legitimidade
da função/cargo. A legitimidade e o respeito não derivam apenas do poder de
pagar as contas ou de se exercer determinadas funções. Legitimidade e respeito constroem-se
e, depois de se chegar a determinadas funções de forma merecida e transparente,
trabalham-se, e de preferência melhoram-se.
Chegar ao governo – dando de barato que as eleições ainda são
verdadeiramente democráticas – significa chegar a um poder legítimo, mas se
depois de chegar ao poder os governantes renegam tudo o que prometeram para
conseguir o voto do povo, essa legitimidade perde-se. Não há matemática
eleitoral que a sustente porque o poder que o povo entregou aos governantes foi
entregue com base em premissas – promessas eleitorais – que depois não são
cumpridas. O governo perde a legitimidade e perde o respeito do povo.
E é por isso que o povo saiu à rua a chamar “gatunos”, “chulos”,
“vigaristas” e mais uma longa lista de insultos aos membros do governo. E é por
isso, porque sente que já não tem o respeito das pessoas, que os ministros saem
à rua numa redoma de segurança, entrando e saindo por portas das traseiras, são
insultados durante os discursos e até algumas cerimónias oficiais que não têm
significado sem a presença do povo, são efectuadas em locais recatados,
fechados e fortemente guardados.
Um governo sem legitimidade, que não merece respeito, já não
é um governo, é uma espécie de onze jogadores num campo de futebol, sem
treinador nem suplentes no banco, a perder por 5-0 e a desejar que o árbitro dê
o jogo por terminado. O pior é que o árbitro deste jogo até tem medo de levar o
apito à boca…
Obrigado
José Manuel Rosendo
Pinhal Novo, 15 de Outubro de 2012
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