sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Equação impossível.

Definição aceitável: Equações são letras e números que contam histórias. Essas letras e esses números representam pessoas, acontecimentos, locais e os sinais (de menos, mais, etc.) representam as acções ou circunstâncias que rodeiam os intervenientes na equação. Numa equação, as premissas são os pressupostos (os dados) que, conjugados, conduzem a um resultado.
Ponto prévio: não venham com a conversa de que as ideologias morreram. Elas estão aí! Renovadas, actualizadas, maquilhadas, o que se queira, mas estão aí, e num momento de crise que é também uma encruzilhada, o pior perigo é o de se pretender fazer crer que as opções políticas não têm uma base ideológica. Têm!
 
Outro perigo: os políticos são todos iguais. Não são. Pelo menos num ponto eles são substancialmente diferentes: uns estiveram (ou estão) no poder e outros nunca por lá passaram. E mesmo entre os que estiveram no poder, acredito que há gente séria e honesta. Mas aqueles que andaram nos BPN’s (de forma activa ou como rectaguarda político-judicial), nas PPP’s, nos Submarinos, nos Freeport’s e afins, esses são a face visível daquilo que o sistema tem de mais sombrio. E há partidos políticos que lhes deram guarida. Depois dos escândalos, esses partidos – que deviam ser apenas a expressão política organizada de um conjunto de cidadãos em defesa de determinados princípios, ideias e modelo de sociedade – funcionaram como uma espécie de irmandade, tentando ocultar e diluir responsabilidades, de modo a não deixar que os respectivos partidos políticos fossem chamuscados devido aos casos em que alguns dos seus membros ilustres estavam/estão envolvidos. São os tentáculos do Sistema.
 
Perante isto, o que fazem os cidadãos do meu país quando são chamados às urnas? Confesso que não sei porque o fazem, mas a realidade mostra que dão a maioria dos votos precisamente aos partidos que têm andado envolvidos nos esquemas e trapalhadas atrás referidos. Até podemos ser levados a pensar que os portugueses gostam de premiar a aldrabice. E, com frequência, a alternância das memas forças políticas no poder assenta quase sempre no mesmo argumento: é preciso apear uns, porque são maus, para dar o poder aos outros, que foram igualmente apeados por serem maus, mas entretanto passou tempo suficiente para o povo esquecer. Como se não houvesse alternativas. E o mais dramático é que a maioria dá o voto aos que já deram provas de governar mal e poucos dão o voto aos que nunca tiveram oportunidade de governar.
Esta atitude, aliada à ideia de que os políticos são todos iguais, de que as ideologias morreram e de que apenas alguns estão preparados para governar, são as premissas de uma equação que só pode ter um resultado: aquele que estamos a viver. Uma desgraça.
 
Entendo sem dificuldade o erro na escolha, o engano, a ilusão. Talvez entenda mais do que uma vez. Mas, sempre? Eleição após eleição?
 
Recordo-me, sempre que penso nesta questão, de uma reportagem (se não me engano…) de Paulo Dentinho (RTP) aquando das recentes eleições presidenciais francesas. Num bar (restaurante?) de Paris, onde havia muitos portugueses, um deles disse convictamente que votaria Marine Le Pen (candidata da Frente Nacional, de direita) porque era uma mulher de esquerda. É muito parecido com o que se passa em Portugal. Os portugueses votaram à direita e ficaram à espera de políticas de esquerda; votaram à direita e depois contestam as ferozes políticas ultra-liberais que estão a ser postas em prática; votaram à direita e reivindicam melhores serviços públicos; votaram à direita e querem políticas de emprego; votaram à direita e… há aqui alguém que está enganado.
 
Para que as últimas manifestações de rua, principalmente a de 15 de Setembro, sejam consequentes, as próximas eleições terão que traduzir algo de muito diferente em relação aos últimos anos. Aguardemos.
 
Obrigado
José Manuel Rosendo
Pinhal Novo, 5 de Outubro de 2012

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