Um dos grandes problemas do nosso país é, tem sido, e há-de
continuar a ser enquanto não terminar, o casamento de conveniência entre o
público e o privado. Não é que esse casamento de conveniência (por que não há
amor nos negócios…) seja necessariamente mau, porque não é. Mas a sua
utilização por interesses que não os do país, é péssima. Tem sido péssima. Tem
sido o terreno onde a influência, o favorzinho e a corrupção têm alastrado. Para
além disso, tem sido um casamento em que uma das partes tudo dá e a outra tudo recebe
sem dar quase nada em troca. É um casamento em que a parte que tudo recebe não
corre qualquer risco e tem lucro garantido. Convém saber que a parte que tudo
dá, somos nós, o Estado. Convém saber que a parte que nada arrisca e tudo
recebe, são os paladinos da iniciativa privada (que a novilíngua dos seguidores da escola de
Chicago denomina de “empreendedores”).
Agora, há um sinal de separação das
águas. É apenas um sinal e até propõe uma transição tranquila.
E quem destas linhas descortinar algo contra a iniciativa
privada, está enganado. Nada contra a iniciativa privada! Era só o que faltava. E preconceito contra o Privado ainda menos. Mas o que é Público deve permanecer no Estado (quando o estado tiver capacidade
de resposta) e pago por nós; o que é Privado que continue privado e pago por
quem assim quiser, mas não pelo Estado.
Tem alguma graça ouvir agora os que até já diziam que isso de "direitos adquiridos" era coisa do passado. Dizem agora que há contratos assinados. Esqueceram-se de todos os contratos que rasgaram nos últimos anos. Estamos todos fartos de gente que enche
a boca com a “iniciativa privada” mas logo que lançam um negócio o primeiro parceiro
que procuram é o Estado. São esses que defendem o tal “Estado mínimo”. De
preferência um Estado que se resuma a um eleito (ainda não se atrevem a dizer
que não devia haver eleições…) sentado a uma secretária e na posse de um livro
de cheques. Esse seria o Estado ideal.
E é assim que chegamos a este frente-a-frente entre a escola
pública e a escola privada. E é assim que temos de perguntar onde estavam os
paladinos desse tão apregoado ensino privado de qualidade quando a escola
pública foi bombardeada em tempos recentes; onde estavam quando as turmas da
escola pública cresceram para números incompatíveis com a capacidade de
qualquer professor para acompanhar devidamente os alunos; onde estavam quando o
quadro de professores foi torpedeado; onde estavam quando começava um ano
lectivo nas escolas do ensino público sem o pessoal auxiliar mínimo para o
funcionamento adequado? Provavelmente estavam a espreitar uma “oportunidade de
negócio”. Não, esses não têm a mínima preocupação com um ensino público de
qualidade. E estavam bem representados. Agora, esperemos, deixaram de estar. Os
que queriam menos Estado nas nossas vidas não querem agora que o Estado saia da
vida deles. São os azares da vida. Há coisas com as quais não se devia brincar
e uma delas é a Educação.
Para o bem e para o mal, disse o Ayatollah Khomeini[1],
chegado a Teerão depois do exílio: “No Islão tudo é política”. Parto desta
afirmação (discutível, naturalmente…) para uma outra que não é de Khomeini: “Em
política tudo é ideologia”. Aqui chegados, a Educação devia estar a ser o
centro das nossas atenções tal é a sua importância, não apenas de
circunstancial luta partidária, mas principalmente pela forma como vai marcar o
nosso futuro. A Educação é um assunto que nos convoca a todos e sobre o qual é
importante que expressemos a nossa opinião. Os nossos filhos não nos perdoarão
se o comodismo do silêncio ditar a nossa atitude.
Pinhal Novo, 9 de Maio de 2016
josé manuel rosendo
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