No início de Dezembro do ano passado escrevi sobre o pós-Estado
Islâmico http://meumundominhaaldeia.blogspot.pt/2015/12/e-depois-do-estado-islamico.html
e uma voz amiga comentou: “estás a pensar muito à frente… ainda nem acabaram
com eles na Síria e no Iraque”. Repesco parte desse escrito: “O futuro passa
por uma pergunta simples de resposta terrivelmente complexa: e depois do Estado
Islâmico? Desde logo não é de todo impossível que o Estado Islâmico não evolua
para um “estado sunita” (faltando saber em que moldes e em que território). Há
teorias nesse sentido. Depois: acabada a guerra com o Estado Islâmico (com a
qual todos parecem concordar), o que fazer com Bashar al Assad? Como resolver o
problema na Síria, palco para uma miríade de grupos mais ou menos extremistas,
mais ou menos laicos? O que fazer com os curdos? O que fazer com o PKK (que
combate o Estado Islâmico), considerado terrorista pelo ocidente? O que fazer
com as (YPG) Unidades de Protecção Popular (que também combatem o Estado
Islâmico) marcadas com o mesmo rótulo? O que fazer com os combatentes do Estado
Islâmico que sobreviverem?”
Há muito mais perguntas a fazer, mas estas parecem-me as
mais urgentes. A última pergunta, para quem vive na Europa, é talvez a que
levanta mais inquietações. O que aconteceu esta noite em Nice – à hora a que escrevo
não está confirmado que tenha sido atentado – explica essa inquietação de forma
muito perspicaz. Ainda é cedo para se dizer que já é um atentado (se se
confirmar) pós-Califado, mas não é de excluir que estejamos perante algo que
pode ser um sinal dos tempos que estão para vir. Seria bom que assim não fosse
mas é preciso insistir nesta questão: o
que fazer quando o Estado Islâmico for derrotado no Iraque e na Síria? Quantos
combatentes são? O que vão fazer quando estiverem derrotados e o Califado já
não for o seu território? Para onde vão?
Há cerca de um mês, o director da CIA,
John Brennan, disse que devem ser entre 18 a 22 mil combatentes do Estado
Islâmico no Iraque e na Síria. Esta quinta-feira, o director do FBI (numa
perspectiva naturalmente mais interna) disse que vai haver uma “diáspora
terrorista” após a derrota do Estado Islâmico, que haverá um crescimento dos ataques
extremistas” e que o trabalho do FBI tem de ser evitar que entrem nos Estados
Unidos.
E a Europa desunida vai fazer o quê? Há uma incapacidade
notória da União Europeia para reagir e actuar perante este tipo de adversidades.
Quem sabe a resposta que podemos esperar da União Europeia que alvitre alguma
possibilidade porque não se consegue descortinar nada. Continuamos preocupados
com as décimas dos défices quando os nossos maiores problemas são outros. E não
nos esqueçamos que encolhemos os ombros quando no dia 3 de Julho morreram mais
de 200 pessoas num atentado em Bagdad.
Mais uma vez, após o que aconteceu esta noite em Nice, vamos
– já estamos a – discutir as “pequenas” questões: vamos falar dos lobos
solitários, do perfil dos autores do atentado, do bairro onde viviam, dos
vizinhos que até os vivam como cidadãos, do estado de emergência em França,
etc, etc.. Mas não vamos falar da “grande política” e da questão essencial:
como derrotar o Estado Islâmico (no terreno) e como dar uma perspectiva de
futuro a todas as partes envolvidas nas guerras no Iraque e na Síria. Até que
tudo se repita…
Pinhal Novo, 14 de Julho de 2016
josé manuel rosendo
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