Há dias assim: esperamos, esperamos… e nada. Esta
segunda-feira, a força de elite do exército iraquiano, a “Divisão Dourada”
decidiu que os jornalistas não passavam do chek point que antecede Bertalla, na
estrada para Mossul. Por ali ficámos horas a fio à espera de uma luz-verde que
nunca chegou.
Nos dias assim e em circunstâncias como as de hoje, os
jornalistas metem conversa entre eles: de onde és, para quem trabalhas, onde
estiveste ontem, como é que achas que podemos chegar aqui ou ali… são perguntas
habituais neste tipo de conversa. Mas eis que, nesta segunda-feira, num check
point perdido a este de Mossul, havia uma personagem que trabalha para a
televisão norte-americana Fox News: Oliver North, ex-coronel dos fuzileiros navais.
Acompanhado de uma dúzia de homens, entre seguranças, tradutores (não vi armas
mas tinham carregadores nos coletes) e repórteres de imagem, Oliver North e
muitos outros, depois de lhes ser barrada a passagem no check point, tal como
aos jornalistas no local, desdobraram-se em telefonemas. Foram horas ao
telefone. Para quem não sei, mas sei que passadas aí umas três horas, surgem
dois carros blindados norte-americanos. Seguem-se contactos apressados com os
militares iraquianos da força de elite que controla o check point, Oliver North
e acompanhantes seguem para os quatro jipes blindados em que viajavam, formam
uma coluna com um carro blindado a abrir r o outro a fechar, e dirigem-se ao
check point… mas daí não passaram. O que os norte-americanos pensavam que
estava resolvido (ou tentaram dar a entender que estava…) afinal não estava.
Oliver North e restante comitiva voltaram para junto do grupo de jornalistas
perante muitos sorrisos nada dissimulados.
A história ficaria por aqui, não se tivesse dado o caso de,
quando os blindados norte-americanos recuavam do check point, ter surgido no extremo
oposto uma milícia xiita (obviamente armada) que pretendia passar o mesmo check
point. Discussão entre xiitas – a coisa esteve feia, muito feia, e um dos
milicianos chegou a ser detido – gritaria, ânimos exaltados e… os dois
blindados norte-americanos no meio, entre xiitas desavindos, sem saberem muito
bem o que lhes tava a acontecer nem o que deveriam fazer. Tudo acabou em bem,
prevalecendo a vontade dos homens da Divisão Dourada, donos e senhores do
território.
Moral da história: os norte-americanos, sempre com aquela
ideia de que o poder lhes permite mexer uns cordelinhos, podiam ter acabado
entalados numa situação complicada, fruto de uma xico-espertice da comitiva de
Oliver North, ao tentar resolver de forma egoísta uma situação que não o
prejudicava apenas a ele. Não imagino por onde passaram os telefonemas e não sei
se o ex-coronel ainda “mexe cordelinhos” no Pentágono, ou se porventura – já passaram
muitos anos – ainda tem contactos criados no tempo da guerra Irão-Iraque, mas
desta vez de nada lhe valeram. Ou então fez que estava a telefonar. Da Fox News
(depois de ver o espectáculo que foram dando durante este dia) nada me
surpreende. Desta vez, tal como no caso Irangate, as coisas não lhes correram
de feição. E o mais surpreendente é que não percebem o ridículo.
Iraque, Erbil, 21 de Novembro de 2016
josé manuel rosendo
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