O conflito israelo-palestiniano foge, por vezes, muitas vezes, a uma lógica racional. A forma apaixonada como muitos intervenientes encaram o conflito conduzem habitualmente a uma contra-argumentação que visa a descredibilização do opositor através de acusações de ligação ou simpatia por uma das partes do conflito. Ou seja, quem tenta ser equidistante e faz um esforço de distanciamento, dificilmente consegue deixar de ouvir argumentos que visam a sua descredibilização. E assim se colocam “todos no mesmo saco”, fazendo com que argumentos e análises sérias sejam vistos como retórica de propaganda das partes em conflito. É errado, mas é o que acontece.
Para além da questão do território, esta é uma questão atravessada pela religião. Sem dúvida que a política se aproveita do factor religioso, mas colocada a questão no plano religioso a racionalidade fica ainda mais afastada.
Durante décadas têm sido esgrimidos argumentos que mais não permitiram do que criar uma situação insustentável no terreno. Não há paz que resista ao actual status quo. Invariavelmente, um lado acusa o outro. Isto não significa que tenham os dois a mesma responsabilidade. Quem observa este conflito pode formar uma opinião tanto mais consistente se não se deixar aprisionar por preconceitos ou clichés muitas vezes completamente desfasados da realidade.
Para ler a actual situação entre Israel e a Faixa de Gaza há uma enorme lista de factores a ter em conta:
Israel vai ter eleições legislativas em Janeiro de 2002 e não é certo que o Likud (de Benjamin Netanhyau) consiga ser o partido mais votado;
na terça-feira anterior a Israel ter morto Ahmed Al-Jabari (comandante militar do Hamas) as agências de notícias internacionais deram conta da intenção de Israel retomar a política de “assassínios selectivos”;
o Egipto deixou de ser uma ditadura e tem um presidente oriundo da Irmandade Muçulmana;
a Síria está numa situação indefinida mas Bashar Al Assad só por milagre continuará presidente;
na Jordânia – com o argumento do aumento do custo de vida e redução de apoios sociais – há agitação nas ruas;
o Irão não inverte a política de energia (e armas?) nuclear;
os palestinianos continuam divididos entre Hamas e Fatah;
a Autoridade Palestiniana pretende alterar estatuto nas Nações Unidas para Estado observador;
Barack Obama ainda não tomou posse para o segundo mandato;
em 2012, até 17 de Novembro, de acordo com a OLP, morreram 124 palestinianos na Faixa de Gaza, vítimas de 1582 ataques e 103 raids;
em 2012, morreram 3 israelitas (depois do início da actual escalada de violência);
desde 2001 a agência Reuters diz que morreram 30 israelitas; o blog das IDF (Força de Defesa Israelitas) refere 44 mortos em Israel, vítimas dos vários tipos de mísseis lançados a partir de Gaza entre 2006 e 2011;
o actual conflito mostra que em Gaza há maior capacidade militar – mísseis com maior alcance – que já atingiram os arredores de Telavive e Jerusalém;
o Hamas assume que tem mísseis FAJR 5 (iranianos) com alcance de 75km a juntar aos Grad Rocket que podem chegar aos 48km;
a Cisjordânia continua ocupada por colonatos; os palestinianos continuam sem ter um Estado;
as negociações estão paradas e mesmo quando fazem que estão a andar nunca se traduzem em nada de significativo;
Israel sabe que depois da ofensiva de final de 2008 e início de 2009 não conseguiu evitar que o Hamas aumentasse o seu poder militar;
Uma sondagem publicada no Haaretz dá conta de que 84% dos israelitas apoiam a operação em curso mas apenas 30% aprovam uma ofensiva terrestre;
A lista poderia continuar, mas avaliar todos estes dados já é tarefa suficientemente complexa. A operação Pilar de Defesa vai no sexto dia consecutivo…
Lisboa, 19 de Novembro de 2012
josé manuel rosendo
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