sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Não há ódio à classe média (qual classe média?) e os comunistas não vão comer criancinhas…

Não gosto da política partidária, mas gosto de Política. Há mais ou menos seis anos o Governo de então decidiu por Decreto-Lei que as famílias com rendimento anual superior a 100 mil Euros teriam cortes nos chamados subsídios sociais. A medida fazia parte do PEC 2011 que o governo antecipou para entrarem em vigor em 2010. José Sócrates foi a Bruxelas dizer que era uma medida com o apoio do PSD.

Agora, 2016, o (modelo do imposto está ainda a ser trabalhado, mas o) Governo prepara-se para taxar os imóveis que no conjunto do rendimento da família tenham um valor entre 500 mil e 1 milhão de Euros. Desse valor para cima os imóveis já eram taxados.

Lembrei o que aconteceu em 2010 (também com um Governo do PS) para constatar um facto simples: na lógica de então (2010) do PSD, 100 mil euros era patamar de riqueza suficiente para que alguém do agregado familiar sofresse perda total ou parcial do subsídio desemprego ou Rendimento Social de Inserção, mas agora, 500 mil Euros de património imobiliário não é patamar de riqueza suficiente para pagar mais um imposto, mesmo sendo o PSD quem mais agita o papão do eventual não cumprimento do limite do défice.

Durante o governo anterior houve também quem (CDS) conseguisse esse malabarismo de reivindicar ser o partido dos pensionistas e reformados e votar cortes em reformas miseráveis sem qualquer alerta na consciência. Neste momento, taxar quem tem património imobiliário de valor superior a 500 mil euros é sacrilégio…

Não entro – por dever de ofício - no debate político-partidário sobre se este governo está a governar bem ou mal, mas esta é uma questão Política muito objectiva: a de saber quem pode – porque tem património e rendimentos – pagar mais impostos e assim contribuir mais para o esforço que – dizem – é preciso fazer para equilibrar as contas. A isto chama-se deslocar a austeridade e procurar receitas fiscais em quem melhor as pode pagar. 

O “ajustamento” feito nos últimos anos colocou a classe média muito abaixo dos patamares anteriores e, actualmente, quem tem património imobiliário acima dos 500 mil euros é alguém que está com um pé (se não os dois…) no clube dos ricos ou, no mínimo, de uma classe média AAA. E esses podem pagar. Ou pelo menos, com toda a certeza, sentirão muito menos o que vão pagar a mais. Quem ganha 500, mil ou dois mil euros por mês, já paga que chegue.

E os “spin doctors” que se deixem de abastecer as redes sociais incitando os incautos (que não têm património de 500 mil Euros, nem lá perto…) a odiarem esta medida em nome da defesa da propriedade privada. Já ninguém acredita na história do agricultor que tinha duas vacas e teve que dar uma ao vizinho porque ele não tinha nenhuma. Não há ódio à propriedade… não há ódio à classe média (qual classe média?) … e não vem aí o comunismo. Até as criancinhas já sabem que ninguém as come ao pequeno-almoço.

Pinhal Novo, 16 de Setembro de 2016

josé manuel rosendo

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