Asneira, clichés e lugares-comuns. Sempre que há um atentado
em espaço europeu o desfile de figuras comentadeiras nas rádios e televisões é
algo de impressionante. Salvo raras e assinaláveis excepções, onde se deve incluir a jornalista
Cândida Pinto, que sabe do que fala e tem a experiência de terreno necessária
para não se ficar pelas teorias dos “Think tanks” difundidas nas publicações
internacionais, ficamos pelos lugares-comuns, pelos clichés do terrorismo e,
inevitavelmente, pela asneira.
É assim que reage uma sociedade impreparada para lidar com
estes fenómenos. Uma sociedade em que se incluem as redacções, cada vez mais
viradas para tratar o que anda nas redes sociais, para o que é viral e dá
audiências, para as feiras de sapatos que pagam as viagens dos jornalistas e
para seguir os políticos de topo que arrastam sempre uma tribo e jornalistas à
procura de um soundbite. Não é que isto não possa ser feito, sobretudo em relação
aos políticos, que são afinal quem toma as decisões que afectam o nosso
quotidiano. O problema é que pouco mais se faz para além disso. E futebol,
claro.
Perante isto, quando surge uma manhã como esta, com
atentados em Bruxelas, as redacções tremem. E agora? Quem vamos ouvir sobre
isto? Venha de lá a lista e vamos ouvir os do costume. O primeiro a atender o
telefone, serve. Vem a estúdio ou entra em directo pelo telefone. Talvez nesse
momento de decisão ninguém faça uma pergunta mais completa: o que é que
queremos saber e a quem devemos perguntar?!
As redacções são afinal apenas uma parte do todo que é o
país. Um todo impreparado porque mal informado e com os níveis de educação
conhecidos. Os espaços na rádio e na televisão em que o povo entra a dar
opinião são excelentes barómetros que permitem aferir o nível de conhecimento
geral sobre os mais variados temas. Quando assim é, qualquer comentário serve.
Se o comentador tiver um lencinho no bolso do casaco, ainda melhor.
No caso concreto dos atentados de hoje em Bruxelas, o
conhecimento deveria passar por toda a complexidade do Médio Oriente, pela
história e pela actualidade. Mas isso é sempre visto como uma chatice… é uma
coisa lá longe, que não interessa às pessoas, como se o interesse público fosse
o interesse do público. Informação e educação são a chave para o
desenvolvimento de qualquer sociedade. Infelizmente, uma e outra, andam pelas
ruas da amargura. Não adianta papaguear que lutamos pela democracia e pela
liberdade se estas duas vertentes não forem devidamente cuidadas. É tudo isto
que explica a forma como abordamos o assunto.
Pinhal Novo, 22 de Março de 2016
josé manuel rosendo
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