Mais de doze anos depois, um secretário de estado do governo
belga, Theo Francken, repetiu através do Twitter a fórmula utilizada pelo
governador nomeado para o Iraque, Paul Bremmer, quando em 13 de Dezembro de 2003
anunciou a captura de Saddam Husseín: “We got him!”. Em 2003, o anúncio foi
feito numa conferência de imprensa na “zona verde” de Bagdad e Paul Bremer antes
do “We got him” disse um “Ladies and gentlemen”. Na pequena sala em Bagdad ouviram-se
aplausos e vivas. Desta vez, a recuperação da fórmula por parte do governante
belga, para anunciar a captura do alegado responsável (Salah Abdeslam) pelos
atentados de Paris em Novembro de 2014, excluiu o “Ladies and gentlemen”,
talvez por ser no Twitter.
É certo que os contextos são radicalmente diferentes mas recuperação
da fórmula não é inocente. Ela simboliza uma visão de poder a que alguns se
arrogam o direito. Uma visão de um poder que necessita de se exibir. No caso
dos Estados Unidos, no Iraque, foi uma visão de quem se julgava no direito de
entrar por um país dentro espezinhando tudo o que era Direito Internacional e
respeito por outros povos; no caso de Theo Francken porque vê no exemplo dos
então líderes norte-americanos um exemplo a seguir – daí a recuperação da
fórmula. Aliás, basta ver a filiação política (Nova Aliança Flamenga) de Theo
Francken e as polémicas em que recentemente esteve envolvido para desde logo
entender melhor a frase escolhida.
No entanto, Theo Francken esqueceu-se que Barack Obama não
utilizou essa fórmula quando anunciou a morte de Osama Bin Laden. Outra visão
do poder. Ter-se-á esquecido também que a captura de Saddam Husseín nada de
substancial mudou para além de levar à morte do ditador. E não terá percebido
que a captura de Salah Abdeslam, e a sua eventual condenação, nada vai mudar no
que é substancial na questão do terrorismo. É evidente que a captura deste
homem é significativa e envia um sinal aos que possam estar a pensar em repetir
algo semelhante ao que aconteceu em Paris, mas isso não justifica o tom
triunfalista do governante belga. Aliás, os comentadores e especialistas que se
referiram à captura de Salah Abdeslam disseram precisamente isso.
Já agora, é melhor deixar escrito para não ser acusado do
contrário: acho que Salah Abdeslam deve ser julgado pelos crimes de que é
suspeito e deve pagar por todo o sofrimento e morte que provocou. Dito isto
penso ficar a salvo de interpretações enviesadas.
Pinhal Novo, 17 de Março de 2016
josé manuel rosendo
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