Foto de Ismael Francisco/Cuba debate
É importante? É! Não é o essencial, nem traduz a
importância dos acontecimentos? Não! Mas a elegância de Barack Obama na
abordagem à velha questão de Cuba confere-lhe uma aura de sabedoria e
credibilidade. Gostemos ou não das políticas de Obama (e dos Estados Unidos), o
homem beneficia da inépcia absoluta do antecessor Bush e, certamente, de
qualidades inatas que o gabinete de comunicação e imagem pode burilar, mas não
poderia fabricar. Obama é assim.
Do aperto de mão a Raúl Castro durante as cerimónias
fúnebres de Nelson Mandela, ao encontro com o Presidente cubano em Havana, foi
um longo percurso. Obama tenta sair com elegância do isolamento – nesta matéria
– a que os Estados Unidos foram votados por causa do embargo económico a Cuba
(apenas Israel votou ao lado dos Estados Unidos na mais recente Assembleia
Geral da ONU); chega a Cuba com elegância, levando a mulher e as filhas;
passeia em Havana com elegância (apesar das ruas vazias…) e coloca flores no
memorial de José Martí. Só faltou o encontro com Fidel. Talvez fosse demais.
Ainda assim nunca se sabe se o velho revolucionário não convidou Obama para uma
cuba libre longe dos holofotes.
Mas desta visita a Cuba há um aspecto que é impossível
iludir, apesar de toda a elegância de Barack Obama: os Estados Unidos não podem
cantar vitória neste longuíssimo braço de ferro com Cuba. A pequena ilha
resistiu e enfrentou o gigante. E o gigante dobrou o joelho. Com muita
dignidade, é certo, mas Obama, ao lado de Castro, até disse que não discordava
de Castro quando o presidente cubano se referiu à indivisibilidade dos vários
direitos humanos (quando procurava justificar a falta de liberdade de expressão
em Cuba). Obama foi muito claro quando assumiu as diferenças entre os sistemas
políticos de Cuba e dos Estados Unidos e a sua grandeza é carimbada nesse
momento: somos diferentes mas tivemos uma conversa franca.
Sabemos todos que não mostrar tudo, e por vezes,
muitas vezes, esconder o mais importante, faz parte do ADN da diplomacia, mas
que Barack Obama tem feito coisas, lá isso tem. Basta lembrar o discurso do
Cairo, logo em início de mandato, quando estendeu a mão ao mundo árabe, depois dos
desastrados tempos de George W. Bush; basta lembrar a retirada do Afeganistão e
do Iraque, não havendo quem criticasse os Estados Unidos por lá estarem, para
depois dizerem que a retirada foi precipitada; basta lembrar a vontade de
encerrar Guantánamo e, agora, a visita a Cuba.
Muitos anos passaram desde que, em
1928, o então presidente norte-americano Calvin Coolidge visitou Cuba. Passaram
muitos presidentes democratas e republicanos, mas foi Barack Obama quem foi a
Cuba estender a mão a Raúl Castro. Esperemos que um qualquer Trump não estrague
o que está feito.
Pinhal Novo, 21 de Março de 2016
josé manuel rosendo
Sem comentários:
Enviar um comentário