Estava
confusa a situação no Yemen? Sim, é verdade, mas ficou um pouco pior. O “xadrez”
da guerra ganhou novos contornos com a desavença entre parceiros da
coligação que combate os Houthi. Há muito se falava dos diferentes interesses
dos dois principais parceiros de coligação, Arábia Saudita e Emirados Árabes
Unidos (EAU), mas agora esse antagonismo ficou evidente quando o Movimento
Separatista do Sul avançou para o controlo da cidade de Aden, onde está o
Governo do Presidente Hadi, reconhecido internacionalmente. Separatistas (com o
apoio dos EAU) e tropas governamentais envolveram-se em violentos combates e os
separatistas conseguiram o controlo da cidade. A Arábia Saudita reafirmou apoio
ao Governo do Presidente Hadi.
Não
se sabe como vai terminar esta guerra dentro da guerra, mas o Movimento Separatista
pretende regressar à fórmula Iémen do Norte/Iémen do Sul – e até já tem o
Conselho de Transição do Sul – algo que os Emirados parecem aceitar e que a
Arábia Saudita já disse que recusa. O apoio dos EAU aos separatistas foi ao
ponto de lançarem ataques aéreos contra as forças governamentais quando estas tentaram
reconquistar a cidade às forças do Movimento Separatista. A confusão é de tal
ordem que as agências de notícias dão conta de manifestações de apoio aos
separatistas, em Aden, com as pessoas a exibirem bandeiras do Movimento
Separatista, dos EAU, mas também da Arábia Saudita, principal apoiante do
Governo que os separatistas agora combatem.
O
Governo do Presidente Hadi recusa dialogar com os separatistas acusando-os de
serem apenas um instrumento dos EUA que, por sua vez, pretendem dividir o
Iémen. Apesar das acusações, o Governo diz que só aceita negociar com os EAU.
Desde Junho que os EAU reduziram a presença militar no Iémen, mas a influência
mantém-se através dos milhares de combatentes do Movimento Separatista, armados
e treinados pelos EAU.
Os
Estados Unidos anunciaram pela primeira vez que estão envolvidos em negociações
com os Houthi. Não se sabe como nem onde, mas fontes ligadas ao processo e citadas
pelo Wall Street Journal disseram que pode ser no Sultanato de Omã. Não seria a
primeira vez que Omã serve de mediador já que Barack Obama também recorreu ao
Sultanato quando iniciou as conversações que terminaram no Acordo Nuclear com o
Irão, assinado em 2015.
Por
agora, Arábia Saudita e EAU dizem que a coligação está unida e permanece forte
no objectivo de combater os Houthi. Certo é que Sanaa foi tomada pelos Houthi
em 2014 e desde então a coligação poucos ganhos tem conseguido, sendo que os
Houthi mantêm a Arábia Saudita na linha de fogo com ataques frequentes a
território saudita.
Os
peritos da ONU referiram-se recentemente a um grande número de crimes de guerra
cometidos no Iémen e para resumirem a questão acrescentaram que nesta guerra
ninguém tem as mãos limpas. A lista de nomes que podem vir a ser acusados – no caso
de haver um tribunal para a guerra no Iémen – é extensa, mas permanece confidencial.
A lista de crimes é igualmente extensa: de ataques indiscriminados contra
populações civis, à utilização da fome como arma de guerra, passando por
tortura e violações. O relatório vai ser conhecido na totalidade quando for
apresentado, esta terça-feira, 10 de Setembro, ao Conselho de Direitos Humanos
da ONU.
O
mesmo grupo de peritos alerta a comunidade internacional para se abster de
fornecer armas que possam ser utilizadas na guerra no Iémen e adverte para a
eventual ilegalidade das vendas de armamento feitas pela França, Reino Unido,
Estados Unidos e outros Estados. Os peritos dizem que a legalidade da venda de
armas é discutível e os Estados podem vir a ser responsabilizados por violação
do Direito Internacional se a cumplicidade ficar provada.
O
Iémen continua a precisar de grande ajuda externa e o Plano de Resposta
Humanitária 2019 requer cerca de 3 mil e 800 milhões de euros para prestar
assistência a mais de 20 milhões de pessoas, mas o financiamento conseguido
ainda não chega aos 40%.
Pinhal
Novo, 9 de Setembro de 2019
josé
manuel rosendo
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