Mais
uma vez, a terra palestiniana é arma de campanha eleitoral. A menos de 48 horas
do início da votação para as legislativas antecipadas, o governo de Benjamin
Netanyahu deu luz verde à legalização de um colonato (terá ainda de passar pelo
futuro Parlamento) nos arredores de Jericó. A organização israelita Peace Now
lembra que é/será o sexto colonato oficialmente aprovado desde os Acordos de de
Paz de Oslo, em 1993. Mevo’ot Yericho (Porta de Jericó), assim se chama, foi
criado em 1999 e é onde vivem 30 famílias. Localizado a cerca de 600 metros do
limite da cidade palestiniana de Jericó, constitui uma barreira ao
desenvolvimento da cidade.
Netanyhau
há muito que vem prometendo declarar a soberania de Israel sobre os colonatos
na Cisjordânia ocupada, entenda-se anexar, e mais recentemente prometeu, se for
reeleito, anexar o Vale do Jordão (território também na Cisjordânia ocupada).
O
caso do colonato às portas de Jericó é apenas o mais recente exemplo da
política que tem vindo a ser seguida. Escrevo pouco depois de a notícia ser
conhecida e as reacções já se fazem sentir: são as condenações do costume e o pedido,
também habitual, dos palestinianos, para que a comunidade internacional reaja. A
regra tem sido a de que nada muda. Está feito, feito fica.
A
liderança de Benjamin Netanyahu conseguiu colocar o chamado Processo de Paz em
estado de coma, sempre com a ajuda de Donald Trump, um colaborador
entusiasmado. O Presidente dos Estados Unidos reconheceu Jerusalém como capital
de Israel, mudou a Embaixada norte-americana e, de caminho, reconheceu a
anexação dos Montes Golã (território sírio). E promete um misterioso Plano que
irá trazer a paz à região. O Plano foi anunciado há meses, mas Trump diz que
será divulgado pouco depois das eleições. Até agora, apenas a revelação de que
há 50 mil milhões de dólares para aplicar em 10 anos, na Palestina e nos países
árabes vizinhos. Ao dinheiro de Trump, os palestinianos responderam que
primeiro querem falar de política.
Ainda
em termos de segurança, para além do conflito com os palestinianos, Israel
ataca território sírio, ataca território libanês e não se cansa de incentivar
os Estados Unidos a atacarem o Irão.
Nestas
eleições (17 de Setembro) o Likud, de Benjamin Netanyahu, e o Azul e Branco, de
Benny Gantz, disputam a vitória, depois de nas eleições de Abril, cada um deles
ter obtido 35 lugares no Parlamento. Netanyahu não conseguiu formar um governo
de coligação e agora joga todas as cartas para ir buscar votos onde eles estão
disponíveis: à direita, aos colonos e aos sionistas mais radicais. E se por cá
é hábito ouvirmos a acusação ao partido no poder de utilizar as funções
governativas como instrumento de campanha eleitoral, imaginem que não diríamos
se o nosso Primeiro-Ministro, em véspera de eleições e num espaço de poucos
dias, fosse recebido por Boris Johnson, Mark Esper (Secretário da Defesa
norte-americano) e Vladimir Putin. Foi o que fez Netanyahu, tentando passar a
imagem do estadista com capacidade para defender Israel de todas as ameaças.
Quanto
a Benny Gantz (General e antigo Chefe do Estado-Maior), que lidera o partido “Azul
e Branco” (Kahol Lavan, em hebraico), a aposta é na descredibilização do
adversário: o nome de Netanyahu está envolvido em vários escândalos corrupção e
Gantz apresenta-se como o homem das mãos limpas que pretende devolver dignidade
à função de Primeiro-Ministro. Para além dessa circunstância, Guntz é
igualmente um falcão que afirma querer manter o controlo militar israelita
sobre a maior parte da Cisjordânia ocupada. Em Israel, alguns analistas
políticos dizem que é normal não se encontrar grandes diferenças entre os dois
programas políticos (de Gantz e de Netanyahu) uma vez que muitos quadros do
partido de Gantz trabalharam muitos anos com Netanyahu sobre as questões de
segurança (Irão, Hezbollah, Hamas).
Perguntar-se-á,
então e a esquerda? Pois... a esquerda israelita evaporou-se. O Partido
Trabalhista (6 deputados, em Abril) e o Meretz (4), quase não contam.
Principalmente os Trabalhistas ficaram muito parecidos com a direita nas políticas
de Defesa e Segurança.
Quanto
aos outros partidos, eles representam 40 lugares no Parlamento. Formações
ligadas aos colonos e outras de fundo religioso têm poucos lugares mas podem
vir a ser decisivas na formação de um governo e da respectiva maioria
parlamentar. Os partidos árabes elegeram 10 deputados.
Não
havendo muito por onde escolher, é nesta base que os israelitas vão decidir
qual a política e o Primeiro-Ministro que querem. Israel poderá ser visto com
um Estado respeitador do Direito Internacional ou um Estado que faz o que quer apenas
porque tem o apoio dos Estados Unidos e a cumplicidade silenciosa de muitos
outros. Não parece que estas eleições possam alterar grande coisa.
Pinhal
Novo, 16 de Setembro de 2019
josé
manuel rosendo
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