Agosto de 2012: rebeldes do Exército Livre da Síria, em Salma, Montanha de Jabal al Akrad, próximo de Idlib e das províncias alauítas. A zona já foi reconquistada pelas forças de Bashar al Assad.
Anuncia-se a batalha de Alepo. Devido à guerra civil, a
velhinha e maior cidade da Síria, há muito que viu partir uma parcela significativa
dos mais de 2 milhões de habitantes. Por estes dias, muitos milhares partiram
da cidade e dos arredores em direcção à fronteira com a Turquia. É aí que estão
bloqueados, com a fronteira fechada, apesar da promessa turca de não fechar
portas a ninguém. Devido a esta nova vaga de gente a fugir da guerra, a Chanceler
alemã foi à Turquia e deu uma conferência de imprensa ao lado do
Primeiro-Ministro turco para dizer que é preciso ajuda da NATO para controlar a
costa turca de onde partem os pequenos barcos com destino às ilhas gregas. Desde
logo a pergunta: porquê Angela Merkel e porque não Federica Mogherini, a Alta
Representante da União Europeia para a Política Externa e Segurança? Porquê
envolver a NATO? E envolver a NATO no quê, e como?
A primeira pergunta
evidencia que a União Europeia continua a não ser uma união, a não ser para as
questões económicas e financeiras e para manter apertadas as regras que obrigam
os Estados mais pequenos e mais debilitados a cederem à vontade dos Estados
mais fortes e com Economias mais robustas; a segunda pergunta pode ser
respondida com a necessidade de a Turquia ter os aliados por perto não vá a
Rússia fazer algum disparate. E assim estamos. Milhares de pessoas com fome e
frio do outro lado da fronteira e a Turquia de portas fechadas a exigir que a
União Europeia financie os campos de refugiados em solo turco de modo a que não
continuem a tentar chegar à Europa.
Aliás, esta posição turca, embora num outro contexto e com
contornos diferentes, faz lembrar Mohammar Kadhafi que agitava sempre a questão
dos emigrantes africanos que queriam chegar à Europa para dizer que era melhor
a Europa assegurar que Kadhafi continuasse Presidente da Líbia do que arriscar
um outro poder político que não quisesse travar as vagas de emigrantes; posição
muito semelhante foi assumida pelo actual presidente do Egipto, Abdel Fattah al
Sissi. Em entrevista ao jornal El Mundo em Abril do ano passado, disse al Sissi
que se o Egipto cair no caos, será um desastre na região e a Europa sofrerá
danos terríveis. Acrescentou que o Egipto tem 90 milhões de habitantes.
E assim vamos andando com tudo a ficar virado do avesso.
Era altura de alguém perguntar aos que aprovaram, em
Conselho Europeu, o tal plano de “recolocação” – adoro a palavra – de 160 mil
refugiados, o que fizeram para aplicar esse mesmo plano. Parece que nada.
Portugal, disponível para receber mais de 4 mil, recebeu 26. A Holanda recebeu
50. Aprovam-se planos e medidas, fazem-se bonitas declarações, as câmaras
registam calorosos apertos de mão e depois fica tudo na mesma.
E enquanto pouco ou nada foi feito, levantaram-se muros, encerraram-se
fronteiras, a Suécia anunciou a intenção de expulsar 60 mil (podem chegar aos
80 mil…) refugiados enquanto a Finlândia diz que vai expulsar 20 mil. Na
Dinamarca, a vergonha ganha outra dimensão: diz a agência Lusa que o parlamento
dinamarquês aprovou por 81 votos a favor e 27 contra (70 deputados não
participaram na votação) uma alteração legislativa que prevê a apreensão de
dinheiro acima das 10 mil coroas dinamarquesas (1.340 euros) e de bens pessoais
acima da mesma quantia, exceptuando, "bens de valor sentimental" como
alianças e "de natureza prática" como telemóveis ou relógios. A
Euronews acrescenta que há outros países europeus com leis semelhantes. A
Suíça, que não é membro da União Europeia mas integra o Espaço Schengen,
começou a confiscar aos requerentes de asilo valores superiores a mil francos
suíços. Na Alemanha, as autoridades da Baviera e do Bade-Vurtemberga vão
confiscar aos refugiados dinheiro e objectos de valor para cobrir despesas de
estadia e custos sociais. Isto é tão mau, mas mesmo tão mau, que não se
descortina algum tipo de argumentação em defesa das bestas que ousaram pensar e
aprovar este tipo de medidas.
Curiosamente surgiram dois sinais interessantes com origem
em Portugal: O PS convidou o embaixador dinamarquês a ir ao parlamento para
explicar a Lei de confiscação; o eurodeputado do PS Francisco Assis questionou
a Comissão Europeia sobre a legislação dinamarquesa e alemã, perguntando como
pensa a Comissão agir de modo a que Alemanha e Dinamarca repensem esta
legislação “indigna”. Assis argumenta que estamos perante um tratamento que
atenta contra a dignidade de seres humanos já de si traumatizados, e que, como
alertou o Alto-Comissário da ONU para os refugiados, é contrário aos princípios
europeus e internacionais de protecção dos direitos do homem.
Convém acrescentar que a Convenção Europeia dos Direitos do
Homem, no Artigo 4º do Protocolo estabelece algo muito simples: “São proibidas
as expulsões colectivas de estrangeiros”. Paralelamente a isto a jurisprudência
do tribunal Europeu dos Direitos do Homem interdita as expulsões colectivas,
salvo se os casos forem previamente examinados individualmente. Ainda assim a
expulsão apenas será admitia se o país de origem das pessoas expulsas não
representar um risco de violência sobre quem é alvo de expulsão.
Assim está a União Europeia e o Mundo. Entretanto em Alepo,
na Síria, as pessoas fogem e ficam paradas frente a uma fronteira, ao frio e
com fome. A porta-voz da ONU para os assuntos humanitários, Linda Tom, estima
que 80% dos que estão na fronteira com a Turquia sejam crianças e mulheres. As
negociações de Genebra já se percebeu como vão terminar. Em Alepo e nos
arredores fecha-se a tenaz do cerco orquestrado pelas forças terrestres de
Bashar al Assad (com muitos aliados) e pela força aérea da Rússia. Os que ficam na cidade dizem que “já
não há esperança” e sentem-se “abandonados pelo mundo”.
Sugestão sobre Alepo: http://www.middleeasteye.net/news/there-no-hope-residents-aleppo-say-world-has-abandoned-them-1210768869
Pinhal Novo 9 de Fevereiro de 2016
josé manuel rosendo
E no meio de tudo isto, Vladimir Putin esfrega as mãos de contente. Para ele tudo é lucro. Ganhou na Ucrânia uma alavanca para travar a expansão da UE e está a alimentar na Síria uma arma para a desagregação da Europa a 28. E há que convir que, com tanto burocrata a mandar em Bruxelas, mais vale que regresse a Europa dos Estados Nação.
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