A imagem que ilustra este texto é da “Radio Free Syria” (afecta
à chamada oposição moderada) e serve apenas para dar uma ideia da situação e da
quantidade dos actores envolvidos, mas não é totalmente elucidativa. Falta
incluir nesta ilustração a participação da Turquia, Estados Unidos, vários
países europeus, Arábia Saudita e outros países do Golfo. E nem vale a pena
tentar imaginar a quantidade de “inteligence” no terreno. Seja como for a
imagem reflecte o que sente essa oposição e o Free Syrian Army: abandonados por
aqueles de quem esperavam apoio.
A guerra na Síria integra o potencial de várias guerras que podem
chegar logo a seguir a um eventual colapso do Estado Islâmico na sua formatação
actual e após ficar resolvida a questão de Bashar al Assad. Desde logo tem
consequências muito directas no Iraque (Mossul e Kirkuk podem exacerbar os
ânimos entre curdos e árabes sunitas) e, embora menos, também no Líbano, não se
sabendo por agora qual a intensidade dessas consequências na estabilidade e
segurança no país dos cedros. Na Turquia havemos de ver.
O que parece certo é que está em curso o tão falado
redesenhar de fronteiras no Médio Oriente. O Iraque dificilmente voltará a ser
o que era aquando da era Sadam Husseín; a Síria dificilmente voltará a ser o
que era aquando da “dinastia” Assad; os curdos querem certamente retirar alguma
vantagem do conflito, eventualmente alargando território no Iraque –
conquistaram Kirkuk ao Estado Islâmico e não vão ceder a cidade ao governo de
Bagdad; se os curdos da Síria também conseguirem juntar alguma autonomia à dos
irmãos iraquianos é certo que os curdos da Turquia (são cerca de 15 milhões)
vão ganhar um novo alento; os sunitas, mesmo que não queiram viver sob a
selvajaria do Estado Islâmico vão querer o seu próprio território, quiçá uma
parte da Síria a outra do Iraque; não está excluída a hipótese da constituição
de um Estado alauíta para acomodar Bashar al Assad (mantendo assim o importante
porto de Tartus ao serviço da Rússia).
Como é evidente são soluções que têm
muitos escolhos pelo caminho e não agradam a todos os intervenientes nesta
guerra. Desde logo ao Irão que teria um importante aliado (Assad) a perder
território. A Rússia poderá não estar pelos ajustes porque afinal acaba de
assumir um protagonismo importante no Médio Oriente a juntar aos acordos
celebrados recentemente com o Egipto. Quanto à Turquia não quer nem ouvir falar
em mais autonomia curda. Os Estados Unidos e os europeus pedem agora um
cessar-fogo mas durante todo este tempo nunca acertaram uma estratégia de apoio
à oposição moderada na Síria.
Dos países do golfo, a Arábia Saudita declarou-se disponível
para enviar tropas para o terreno (certamente para combater o regime de Assad,
mas não se sabe ao lado de quem) e a Rússia, que já acusou a Turquia de estar a
preparar uma invasão terrestre, disse entretanto que uma ofensiva terrestre
estrangeira na Síria poderá desencadear uma nova guerra mundial. Até o “nosso”
Durão Barroso, embora de forma mais suave e não falando especificamente da
situação na Síria, admite que não é impossível uma guerra generalizada.
Em qualquer conflito de grande intensidade há sempre a
sensação de que a desgraça não vai ter fim, mas vai chegar o momento em que as
várias forças que combatem na Síria vão querer solidificar os ganhos
conquistados – ou evitar perdas maiores desde que possam sobreviver – e vão
aceitar acordos. A região poderá não ficar em paz e poderão subsistir conflitos
mais localizados, mas a selvajaria actual acabará por ter fim. Será o momento
de fixar as novas fronteiras e, eventualmente de assistir ao regresso (pelo
menos de uma parte substancial) dos milhões que andam em fuga. Depois, as
potências mais endinheiradas ditarão a reconstrução possível das regiões afectadas,
garantindo benefícios do petróleo e de outros recursos.
Até lá, como sempre acontece, cada uma das partes desta
guerra tenta os maiores ganhos possíveis no terreno de modo a ter mais força à
mesa das negociações. Sempre assim foi e dificilmente deixará de ser.
Pinhal Novo, 13 de Fevereiro de 2016
josé manuel rosendo
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