quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Eutanásia? Sim!

Uma vida digna é indissociável de uma morte digna. Tenho por adquirido que um ser humano normal, sem sonhos exacerbados de riqueza material ou, no extremo oposto, de eremita completamente despojado, apenas pretende uma vida digna com felicidade quanto baste. Não é caso para dizer que um ser humano assim é um “poucochinho da vida”; talvez seja alguém que apenas quer a base indispensável para ser, em pleno, um ser humano.

Quem quer uma vida com esta base indispensável, digo eu, está disponível para aceitar a indispensabilidade da dignidade do outro. E a dignidade humana, como sabemos, está muito para além da satisfação das necessidades básicas resumidas em comida na mesa e um sítio para dormir. Não há dignidade quando se fecha os olhos à indignidade que eventualmente se nos atravesse no caminho. Não há dignidade em exigir ao outro que sofra quando a esperança de cura não existe.

Sobre o que diz ou omite a Constituição relativamente à vida como um direito inviolável, não vem ao caso. É certo que vai ser necessário legislar, mas estamos no campo da ética: os valores, normas e princípios que cada um de nós tem como certos. O respeito pelos direitos e dignidade do outro não podem deixar de ser obrigatórios neste “pacote” que a consciência individual determina.

A prova de que estamos claramente a tratar de uma matéria que ultrapassa a mera política partidária é que o manifesto recentemente publicado em defesa da morte assistida recolheu assinaturas de figuras públicas de muitas e diferentes áreas da sociedade e até do espaço partidário. Assim os partidos políticos com responsabilidade de legislar entendam que não há espaço para jogatanas de hemiciclo.

Se chegar a uma situação de grande sofrimento e sem esperança de cura, quero ter a possibilidade de decidir sobre a minha vida. Viver com dignidade abrange a última etapa: morrer com dignidade. Quem se arroga a ter o direito de me negar esse direito? Por isso considero que a dignidade não se referenda. É indispensável entre seres humanos bem-intencionados e não engajados com outros interesses a não ser com a própria dignidade. Ser digno implica não beliscar a dignidade do outro. Posso não vir a ter necessidade de recorrer à Eutanásia, ou simplesmente não querer, mas não posso recusar esse direito ao outro. 

Pinhal Novo, 10 de Fevereiro de 2016

josé manuel rosendo

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