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terça-feira, 12 de julho de 2016

Crónica do nada

Foto: FPF


És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...

Miguel Torga, in Sísifo


Se por esta hora, a selecção nacional de futebol não se tivesse sagrado campeã da Europa, não tenho grandes dúvidas de que já se teriam feito ouvir muitas vozes, alegando que a Fé do treinador tinha sido insuficiente para vencer jogos; que Fernando Santos confundia Fé com competência; que os troféus não se ganham com promessas a Fátima, e por aí fora… Talvez até, os mais atrevidotes que gostam de dar um tom pretensamente erudito (asneira na boca das elites é sempre um momento de erudição…) acrescentassem que a única coincidência é a de que Fé e futebol começam pela mesma letra e mais uma vez tínhamos sido f……!

Muito honestamente, confesso que ao ouvir Fernando Santos dizer que só voltaria a casa após a final do Europeu, pensei que estava a colocar a fasquia demasiado alta, e a cabeça no cepo. Apenas isso: vai ser muito difícil. Não fui dos que pensaram que era palermice, nem fui dos que não acreditaram. E o motivo é muito simples: durante uns anos pratiquei um desporto colectivo e tive a sorte de ter bons mestres. E nunca tendo jogado num dos chamados grandes, sempre que entrava em campo, contra os chamados grandes, acreditava que podia vencer. Entrávamos em campo e era até à última gota de suor. A cada minuto que passava com o resultado taco-a-taco nós acreditávamos que era possível. Esse espírito era-nos incutido. E algumas vezes isso resultou, embora noutros casos a realidade se tenha encarregado de provar a inexequibilidade do objectivo.

Surge também por estes dias quem condene o futebol como se (tal como a religião muitas vezes é considerada) fosse outro ópio do povo. O futebol, tal como a religião ou as tecnologias, a política ou até (cada vez mais) os órgãos de comunicação social, apenas são o que os homens quiserem e não mais do que isso.

Por que não ter paixão pelo futebol? Por que não ter Fé? O problema não é ter, é querer encontrar uma explicação racional para isso. A parte mais importante do nosso ser e da nossa vida é aquilo que não consta no cartão do cidadão e faz de cada um de nós mais do que um nome e um conjunto de números associados a uma fotografia: faz de nós, pessoas! É a nossa alma, a nossa ética, o nosso coração, a bandeira que cada um decide empunhar, as causas pelas quais decide combater, é isso que faz de nós pessoas. Ignorar isto é o mesmo que pretender explicar a vida apenas com recurso a uma folha de excel com dados sobre economia, produtividade, etc..

É por tudo isso (gosto de ser uma pessoa) que sinto um arrepio quando ouço o Hino Nacional, adoro futebol (sensação maravilhosa ver a bola chutada por Éder colar-se ao fundo da baliza francesa) e estou grato à selecção nacional por nos ter proporcionado estes momentos de alegria. 

Depois temos as outras causas, essas sim racionais. O que eu também gostava (ai se gostava…) de ter visto era as janelas e as varandas decoradas com a bandeira nacional quando a troika aterrou em Portugal; gostava de ver a Alameda cheia para protestar contra a venda da REN, da EDP, dos CTT, da TAP; gostava de ver Portugal na rua quando um qualquer governo negoceia a cedência de soberania sem consultar o povo. Mas essa é outra conversa e se assim não aconteceu a culpa não é do futebol nem da Fé. É nossa!

Pinhal Novo, 12 de Julho de 2016

josé manuel rosendo

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Já não há “Palavra de Honra”!

Acho muita graça à indignação em torno da dança dos treinadores de futebol. Uns indignam-se porque as notícias dão Jorge Jesus em Alvalade e acham que o treinador cometeu uma traição ao escolher o rival… outros indignam-se com a forma como Marco Silva foi despedido do Sporting. O clube alegou justa causa e é bem certo que há sempre uma justa causa encontrada por quem passa o cheque. Outros ainda indignam-se porque alegadamente o Sporting estará a ser financiado, entre outros, por Teodoro Obiang, Presidente da Guiné Equatorial. Meteram Obiang na CPLP e só agora se lembram do que é a Guiné-Equatorial e qual é a origem do dinheiro que de lá chega. 

E acho graça a estas indignações porque revelam que os indignados ou vivem na lua ou só se indignam quando toca ao futebol porque certamente não andam a par do resto. O que se está a passar com o futebol (e com o resto) tem um nome: dinheiro. E em nome do dinheiro os homens já fazem tudo, por muito que gostem da expressão “não vale tudo”. Desenganem-se os crédulos porque vale mesmo tudo. Ainda acham que não? Digam lá então como classificam a ideia de retirar Jorge Jesus da fotografia do Benfica campeão? Estaline não faria melhor. E não me admiraria nada que Marco Silva “desaparecesse” da fotografia do Sporting vencedor da Taça de Portugal. Reescrever a história sempre foi uma tentação de gente paranóica.

Os nossos dias estão cheios de pulhice. Todos os dias. Na maior parte dos casos são pulhices legais. Em muitos casos até, pulhices de quem não esperamos. E se querem melhor exemplo pensem um bocadinho nisto: há quanto tempo não ouvem um político, um dirigente desportivo ou um outro protagonista usar a expressão “Palavra de Honra”. Há certamente muito, muito tempo. Prometem, criticam, propõem, comprometem-se, mas Palavra de Honra… isso é que era bom. Nunca! Por que será? Eles usam camisas brancas imaculadas, gravatas de seda… mas recusam terminantemente o uso da expressão “Palavra de Honra”. Assim, quem é se pode admirar com o que está a acontecer no futebol em Portugal? Ou já se esqueceram da FIFA?

josé manuel rosendo

Pinhal Novo, 4 de Junho de 2015

terça-feira, 2 de junho de 2015

O futebol tresanda! Está sujo e bem sujo…


Nota principal no dia em que Joseph Blatter se demitiu do cargo de Presidente da FIFA: foi reeleito na sexta-feira passada com 133 votos contra 73 do seu adversário Ali Bin al Hussein. Podem dar as piruetas que quiserem mas o certo é que a maioria dos votos nas eleições de sexta-feira foram para o homem que era o vértice da pirâmide que foi/é casa de corrupção. É longa a lista dos que são apontados a dedo em negócios obscuros de atribuição de campeonatos e transferências de dinheiro. E essa questão, a dos que votaram em Blatter depois de saberem que o escândalo já tinha saído à rua e que o rei ia nu, não é uma questão menor e é a que deve preocupar os que gostam de ver a bola rolar no relvado e entrar nas balizas. É sempre bom lembrar a fábula do que vai roubar as uvas e dos que ficam à porta da quinta a assistir… Blatter é tão culpado quanto os que insistiram em mante-lo na presidência da FIFA. Este caso mostra como a democracia pode ser uma falácia: no caso do futebol os votos são contados (comprados?) em função dos interesses de cada um, mesmo que isso prejudique o futebol.

A demissão de Blatter surge no dia em que a Federbet, organismo que vigia as apostas 'online', revelou que, dos cerca de 40 milhões de euros apostados por jornada nas duas principais ligas portuguesas de futebol, cinco milhões devem ser "apostas sujas", ou seja, com conhecimento de resultados viciados. Mais: as apostas na I Liga portuguesa representam, em média, por jornada, 30 milhões de euros, e na II Liga rondam os 10 milhões de euros, estimando o organismo que a manipulação de resultados represente três e dois milhões de euros, respectivamente, acrescentando que a II Liga portuguesa é dos casos mais preocupantes na Europa e é um “campeonato doente”. A Federbet acrescenta que muitas das apostas relativas a jogos suspeitos em Portugal são oriundas de Nápoles e Reggio Calabra, uma cidade onde há uma sólida presença da organização mafiosa “Ndrangheta”.

Com este futebol quem é que vai aos estádios? A pergunta se calhar não é bem esta. Com este futebol quem é que não vai aos estádios? Eu! E logo eu que um dia até senti alguma frustração por nunca ter tido um relvado a sério onde pudesse mostrar os dotes do meu pé esquerdo… Entre escândalos, apenas tenho pena de gostar de futebol porque é assim uma daquelas situações em que gostamos de alguém que insiste em enganar-nos: não dá!

josé manuel rosendo

Pinhal Novo, 2 de Junho de 2015