A infografia é da Agência France Press e mostra a situação em Faluja a poucas horas do "ataque final".
Não é possível imaginar quão difícil deve ser viver em
Faluja, no Iraque. Desde há algumas semanas que as forças do governo iraquiano
e as milícias xiitas iniciaram movimentações de preparação para conquistar a
cidade, e há algumas horas – desde a chegada das unidades de elite – que as forças
governamentais anunciaram o início do ataque à cidade controlada pela
organização Estado Islâmico. Não se sabe ao certo quantos habitantes estão na
cidade (a ONU diz que são 50.000 civis em condições dramáticas, sem alimentos
água potável e medicamentos – e sem possibilidade de receberem ajuda ou
protecção) e também não se sabe qual a capacidade militar (em homens e
equipamento) dos combatentes do estado Islâmico que controlam a cidade.
Faluja é uma cidade da Província de Al Anbar a cerca de meia
centena de quilómetros de Bagdad. O Rio Eufrates passa-lhe à porta. Faluja é
passagem obrigatória para quem faz a “estrada da morte” (há sempre uma quando
há uma guerra) entre a fronteira da Jordânia e a capital iraquiana. Ramadi fica
na mesma estrada. Cidades que fazem parte do chamado “triângulo sunita”, espaço
de resistência após a invasão do Iraque em 2003. Foi em Faluja que quatro
mercenários da Blackwater foram apanhados, mortos e pendurados numa ponte sobre
o Eufrates. Desde 2004 que a cidade não tem sossego, palco de violentos
combates entre forças de ocupação e grupos iraquianos. Os soldados
norte-americanos não têm nenhuma boa recordação de Faluja.
Desde Janeiro de 2014 que a cidade está controlada pela
organização Estado Islâmico. Foi a primeira cidade a cair nas mãos dos
radicais. Não se sabe ao certo se as tribos sunitas, por oposição ao governo
xiita de al Maliki, terão ficado agradadas com a chegada do Estado Islâmico. Há
relatos para todos os gostos: uns dão conta de colaboração; outros dizem que
houve líderes tribais que rejeitavam o governo de al Maliki tanto quanto
rejeitaram o Estado Islâmico.
As forças iraquianas anunciam que já tomaram alguns locais
nos arredores da cidade. As unidades de elite de “contra-terrorismo” avançam
para a cidade a partir de 3 localizações com o apoio aéreo da coligação
internacional liderada pelos Estados Unidos. Parece certo que a operação das
forças iraquianas vai chegar a um ponto em que os combates vão ser rua-a-rua,
casa-a-casa. Não há nenhum sinal de que possa haver uma rendição dos radicais.
Talvez um recuo e uma eventual fuga se o cerco o permitir.
Para quem vive em Faluja e apenas quer viver, as próximas
horas/dias ameaçam ser dramáticas. Faluja sabe o que é o inferno.
Pinhal Novo, 31 de Maio de 2016
josé manuel rosendo