A teoria é antiga. E pode ser contrariada. Mas existe. O bater de asas de
uma borboleta pode provocar um tufão no outro lado do mundo. Das muitas
interpretações da Teoria do Caos, prefiro a que sublinha a imprevisibilidade
das consequências de uma qualquer acção. Agrada-me porque está implícito que as
consequências podem ser boas. Mas dos bons ventos que podem chegar de um bater
de asas de borboleta, habitualmente, não temos notícia. Os maus ventos é que
nos devem preocupar.
Uma das vezes que uma borboleta bateu as asas em Washington deu-nos a
conhecer o chamado "Eixo do Mal", formado por Iraque, Irão e Coreia
do Norte. O bater de asas foi a 29 de Janeiro de 2002, durante o discurso sobre
o "Estado da União". Mais tarde, Cuba, Líbia e Síria, juntaram-se ao tal
"Eixo do Mal". Para Washington estes eram os países que apoiavam o
terrorismo e tinham, ou tentavam obter, armas de destruição em massa. Todos
sabemos o que aconteceu a seguir. Esse bater de asas prolongou-se no tempo e
transformou-se na "Guerra ao Terror".
Por estes dias, já se faz sentir a brisa de um novo bater de asas de uma
outra borboleta. Donald Trump assinou um decreto em que, grosso modo, durante
algum tempo, não permite a entrada nos Estados Unidos da América de cidadãos de
sete países de maioria muçulmana. Síria, Líbia, Sudão, Irão, Iraque, Somália e
Iémen, são eles o novo "Eixo do Mal". O México, se não se cuida,
ainda vai integrar a lista.
Nas Nações Unidas, a nova embaixadora norte-americana avisou que vai anotar
o nome dos países que se oponham aos Estados Unidos. Theresa May foi a
Washington deixar um convite da Rainha de Inglaterra mas parece que o incómodo
no Reino Unido começa a ser grande. As grandes empresas norte-americanas
manifestaram-se contra a decisão que impede muçulmanos de entrarem nos Estados
Unidos. Até antigos candidatos presidenciais republicanos, como foi o caso de
John McCain, vieram dizer que o decreto sobre imigração ajuda mais ao
recrutamento terrorista do que à segurança dos Estados Unidos da América. Da
China chegou o recado: ninguém fica a ganhar com uma guerra comercial.
A borboleta que está agora a bater as asas em Washington, tal como a de 2002,
não dá ouvidos a ninguém. Diga-se desde já que tem um poderoso bater de asas e
muitos admiradores que apreciam o discurso, a atitude e os ventos que espalha
pelo mundo. Desenganem-se os que acham que uma borboleta é apenas um pequeno
insecto, de cores garridas, voo gracioso e inofensivo. Cuidado! Já houve outras
borboletas que beneficiaram de uma certa tolerância quando começaram a voar e
depois de ganharem velocidade e altitude só foram paradas à força.
Pinhal Novo, 30
de Janeiro de 2017-01-30
josé manuel rosendo
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