Já estava
nos CTT antes da privatização e continuou depois da venda da empresa aos
privados. Justiça lhe seja feita, Francisco Lacerda, actual Vice-Presidente do
Conselho de Administração & CEO (Presidente Executivo) da empresa, não
engana: está nos CTT para ganhar dinheiro e distribuí-lo pelos bolsos dos accionistas.
É crime? Não! É legal? É! O problema para Francisco Lacerda e para os
acionistas dos CTT é que o serviço da empresa faz-nos falta.
Em Junho de
2013, Francisco Lacerda disse em entrevista à Lusa: "o processo está a
acabar, fizemos uma reorganização da rede e vamos fechar 124 estações de
correio e abrir 78 postos". Na altura Francisco de Lacerda era Presidente
do Conselho de Administração dos CTT.
Entre este
fechar de estações e abrir (menos) postos de atendimento houve uma transformação
substancial: as estações pertenciam aos CTT, enquanto os postos são actividade
de correios ligados a parceiros, nomeadamente Juntas de Freguesia e algum comércio
local.
Há pouco
mais de duas semanas ficámos a saber que os CTT vão encerrar mais 22 lojas em
todo o país e, até 2020, querem ter menos 1.000 trabalhadores.
Em 2016, os
CTT destinaram 72 milhões de euros para a distribuição de dividendos, acima do
lucro de 62 milhões de euros gerado nesse ano pela empresa.
Francisco
Lacerda assumiu, ao mesmo tempo que anunciava o encerramento de Estações, que a
empresa tem de distribuir mais rendimentos pelos accionistas. Para isso é
preciso cortar nos custos: menos Estações e menos trabalhadores. Chamam-lhe
ajustar o modelo de negócio ao mercado. Se alguém ainda não percebe a diferença
entre o serviço público e o mesmo serviço prestado por um privado, basta pensar
neste exemplo. O Privado quer distribuir lucros pelos accionistas deixando de
lado a qualidade do serviço que presta; o Público deve preocupar-se
principalmente com o serviço que presta e não existe para dar lucro. É óbvio
que, se for bem gerido, tem mais qualidade e sai mais barato.
Desde
Setembro de 2014 que os CTT são uma empresa 100% nas mãos dos privados. Desde
esse dia que perdemos o direito de exigir seja o que for através dos mecanismos
que a democracia coloca à nossa disposição para exercermos a nossa cidadania. A
solução que nos resta é elegermos representantes que façam regressar os CTT à
esfera pública. E convém que seja feito enquanto houver CTT. Até lá, os mesmos
que concordaram com a privatização dos CTT podem agora chorar lágrimas de
crocodilo e autoflagelar-se por causa do serviço miserável da empresa, mas isso
nada resolve - não sei mesmo se não será hipocrisia, porque era absolutamente
expectável o que está a acontecer.
Por fim, há
sempre quem apareça a dizer que não tem uma posição dogmática sobre as
privatizações, justificando esta posição com as boas e/ou más administrações quer
no sector público, quer no privado. Pois, Pilatos também lavou as mãos...
Pinhal Novo,
5 de Janeiro de 2018
josé manuel rosendo
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