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sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Lacerda não engana, honra lhe seja feita


Já estava nos CTT antes da privatização e continuou depois da venda da empresa aos privados. Justiça lhe seja feita, Francisco Lacerda, actual Vice-Presidente do Conselho de Administração & CEO (Presidente Executivo) da empresa, não engana: está nos CTT para ganhar dinheiro e distribuí-lo pelos bolsos dos accionistas. É crime? Não! É legal? É! O problema para Francisco Lacerda e para os acionistas dos CTT é que o serviço da empresa faz-nos falta.
Em Junho de 2013, Francisco Lacerda disse em entrevista à Lusa: "o processo está a acabar, fizemos uma reorganização da rede e vamos fechar 124 estações de correio e abrir 78 postos". Na altura Francisco de Lacerda era Presidente do Conselho de Administração dos CTT.
Entre este fechar de estações e abrir (menos) postos de atendimento houve uma transformação substancial: as estações pertenciam aos CTT, enquanto os postos são actividade de correios ligados a parceiros, nomeadamente Juntas de Freguesia e algum comércio local.
Há pouco mais de duas semanas ficámos a saber que os CTT vão encerrar mais 22 lojas em todo o país e, até 2020, querem ter menos 1.000 trabalhadores.
Em 2016, os CTT destinaram 72 milhões de euros para a distribuição de dividendos, acima do lucro de 62 milhões de euros gerado nesse ano pela empresa.
Francisco Lacerda assumiu, ao mesmo tempo que anunciava o encerramento de Estações, que a empresa tem de distribuir mais rendimentos pelos accionistas. Para isso é preciso cortar nos custos: menos Estações e menos trabalhadores. Chamam-lhe ajustar o modelo de negócio ao mercado. Se alguém ainda não percebe a diferença entre o serviço público e o mesmo serviço prestado por um privado, basta pensar neste exemplo. O Privado quer distribuir lucros pelos accionistas deixando de lado a qualidade do serviço que presta; o Público deve preocupar-se principalmente com o serviço que presta e não existe para dar lucro. É óbvio que, se for bem gerido, tem mais qualidade e sai mais barato.
Desde Setembro de 2014 que os CTT são uma empresa 100% nas mãos dos privados. Desde esse dia que perdemos o direito de exigir seja o que for através dos mecanismos que a democracia coloca à nossa disposição para exercermos a nossa cidadania. A solução que nos resta é elegermos representantes que façam regressar os CTT à esfera pública. E convém que seja feito enquanto houver CTT. Até lá, os mesmos que concordaram com a privatização dos CTT podem agora chorar lágrimas de crocodilo e autoflagelar-se por causa do serviço miserável da empresa, mas isso nada resolve - não sei mesmo se não será hipocrisia, porque era absolutamente expectável o que está a acontecer.
Por fim, há sempre quem apareça a dizer que não tem uma posição dogmática sobre as privatizações, justificando esta posição com as boas e/ou más administrações quer no sector público, quer no privado. Pois, Pilatos também lavou as mãos... 
Pinhal Novo, 5 de Janeiro de 2018

josé manuel rosendo

quinta-feira, 13 de julho de 2017

CTT... de cavalo para burro


Os CTT ilustram de forma perfeita a bagunça para a qual Portugal resvalou. Vamos aos CTT para enviar uma carta registada ou levantar uma encomenda postal que não cabia na caixa de correio e deparamos com uma verdadeira “loja do chinês” ou “dos trezentos”: para além do serviço de correios propriamente dito, vende CD’s, livros, bilhetes para espectáculos e telemóveis... também há seguros e, claro, um Banco. Certamente haverá outros exemplos, mas onde vivo por aí se fica. Comprar um selo pode significar ter de esperar que alguém escolha o modelo de telemóvel, ou o livro, que pretende comprar. É difícil imaginar um trabalhador que tem de passar do aconselhamento na compra de um telemóvel, para uma eventual indecisão entre um livro de José Saramago e outro de Mia Couto, e depois ter de registar uma encomenda postal para Bissau ou Nova Iorque. Habitualmente, também, as máquinas automáticas de venda de selos, não têm trocos... Resultado? Quem vai aos CTT sujeita-se a um tempo de espera inaceitável. Está muito claro que os CTT em vez de servirem os utentes do serviço que prestam, servem-se dos utentes, fazendo-os esperar, porque essa é a melhor forma de manter os trabalhadores permanentemente ocupados retirando deles o maior rendimento possível. Se o serviço que os CTT nos prestam tem um preço, e nós pagamos por esse serviço, também o tempo dos clientes tem um preço e os CTT não podem sequer admitir ter os clientes à espera até ao momento que a empresa decida ser o mais conveniente para o atendimento.

Da mesma forma que o transporte aéreo (pelo menos na União Europeia) já regulamentou as compensações que as companhias aéreas estão obrigadas a pagar em caso de atrasos nos voos (em função do tempo de atraso e do destino), também os CTT e outras empresas prestadoras de serviços, deveriam ser obrigadas a indemnizar os utentes e clientes sempre que estes são forçados a esperar um tempo para além do razoável. Aliás, é fácil saber o tempo de espera porque as senhas de atendimento têm a hora a que são emitidas (e se em alguns casos isso não acontece é fácil fazer a alteração). Depois, é apenas verificar a hora a que o atendimento é concretizado. Essa seria uma forma de todos sermos mais respeitados por uma série de empresas e serviços que abusam da posição que ocupam no mercado.

Ainda quanto aos CTT, sobre a distribuição postal nem vale a pena falar. Já todos, ou quase, percebemos que o carteiro agora toca duas vezes, mas é por semana. E é quando é. Eis senhoras e senhores o resultado da privatização; há accionistas que recebem dividendos, sendo que nós recebemos um serviço cada vez pior.

A venda dos CTT, pormenores do negócio à parte, ilustra a visão que alguns têm do Estado e do que o Estado deve ser. Mas, mesmo sendo os CTT uma empresa agora privada, ali para os lados de São Bento (em Lisboa) deveria haver alguém a pensar nesta questão: como é que as empresas podem ser obrigadas (sim, obrigadas) a respeitar quem a elas recorre (e paga por isso). Todos ficaríamos gratos.

Pinhal Novo, 13 de Julho de 2017
josé manuel rosendo