Dizem que o líder do Estado Islâmico (EI) morreu. A morte de
Abu Bakr al Baghdadi já tinha sido anunciada pela Rússia há cerca de um mês e
pela agência iraniana de notícias durante a semana passada. A notícia foi então
dada sem pormenores e sem fontes. A Rússia disse que Al Baghdadi morreu durante
um bombardeamento aéreo russo na Síria, perto de Raqa, a capital do Califado.
Desta vez a notícia é avançada pelo Observatório Sírio dos
Direitos Humanos (OSDH) que cita "altos responsáveis do EI na Síria".
Mais uma vez, sem pormenores. Não se sabe como, quando, nem onde. Mas o OSHD é
geralmente bem informado e tem uma alargada rede de contactos em todo o
território.
Há três anos que Al Baghdadi não era visto.
Aliás, a última vez que surgiu em público foi precisamente em Mossul, na
Mesquita de Al Nouri, onde anunciou o Califado. De Novembro de 2016 conhece-se
um registo áudio que lhe é atribuído onde é feito um apelo à resistência e à
defesa de Mossul.
Tal como a morte de Bin Laden continua a suscitar
dúvidas, também a morte de Abu Bakr al Baghdadi levantará dúvidas até que
alguma imagem esclareça a sorte do Califa.
Da mesma forma que a morte de Bin Laden não significou o fim
da Al Qaeda (o actual líder, Ayman al-Zawahiri, continua activo e em parte
incerta...), é legítimo duvidar que a morte de Abu Bakr signifique o fim do EI.
Mesmo que Al Baghdadi tenha de facto morrido, a satisfação que isso pode
significar será apenas um momento fugaz.
Tal como ainda hoje se diz nas monarquias "morreu o
Rei, viva o Rei", não irá demorar que alguém diga "morreu o Califa, viva o
Califa".
A ver vamos se haverá seguidores. Abu Bakr al Baghdadi
escolheu este nome (era, de facto, Ibrahim Awad al Badri) por ser o nome do
primeiro Califa que sucedeu ao Profeta Maomé; veremos se vai surgir alguém com
o nome de Omar (Ibn al-Khattab), o califa que sucedeu ao primeiro Abu Bakr e
que foi escolhido pelo próprio Abu Bakr pouco antes de morrer. Falta saber se
aquele que se autoproclamou Califa, na cidade de Mossul, também designou um
sucessor.
É por demais evidente que o Estado Islâmico está a sofrer
golpes sucessivos. Tem vindo a perder território, Mossul era a sua maior cidade
e era também o grande suporte económico. Neste momento resta Raqa, na Síria, a
capital do Califado que está cercada pelas Forças Democráticas da Síria (FDS -
uma aliança de curdos e tribos árabes que contam com a ajuda de milícias
cristãs) e, tal como Mossul, é uma questão de tempo. Há ainda vastos
territórios controlados pelo EI mas menos habitados e de menor relevância
económica e estratégica.
O EI, tal como se deu a conhecer no Verão de 2014, já não
existe. Havemos de ver se o que está para vir é melhor ou pior do que
aquilo que conhecíamos até agora. É bom ter a noção de que não se sabe o que
está a acontecer aos milhares de combatentes do Estado Islâmico. Estão a ser
mortos, conseguem fugir ou são feitos prisioneiros? Não há informação substancial
sobre esta questão.
Pinhal Novo, 11 de Julho de 2017
josé manuel rosendo
Sabemos quem está de um lado: EUA, Rússia, Irão. E soldados Iraquianos, como carne para canhão na primeira linha. Dito assim nesta crueza. O que não passa ou não se dá a saber é quem financia a serpente. Será assim tão difícil expor os canais de financiamento deste suposto Estado? Ou não interessa aos negócios de armas? Em que, para além dos EUA e Rússia, alguns países da UE ocupam um lugar de destaque nesse iníquo comércio internacional, onde os principais destinatários são Estados pouco recomendáveis em matéria de Direitos Humanos.
ResponderEliminarAmílcar A.