terça-feira, 11 de julho de 2017

Morreu o Califa (viva o Califa?)


Dizem que o líder do Estado Islâmico (EI) morreu. A morte de Abu Bakr al Baghdadi já tinha sido anunciada pela Rússia há cerca de um mês e pela agência iraniana de notícias durante a semana passada. A notícia foi então dada sem pormenores e sem fontes. A Rússia disse que Al Baghdadi morreu durante um bombardeamento aéreo russo na Síria, perto de Raqa, a capital do Califado.

Desta vez a notícia é avançada pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) que cita "altos responsáveis do EI na Síria". Mais uma vez, sem pormenores. Não se sabe como, quando, nem onde. Mas o OSHD é geralmente bem informado e tem uma alargada rede de contactos em todo o território.

Há três anos que Al Baghdadi não era visto. Aliás, a última vez que surgiu em público foi precisamente em Mossul, na Mesquita de Al Nouri, onde anunciou o Califado. De Novembro de 2016 conhece-se um registo áudio que lhe é atribuído onde é feito um apelo à resistência e à defesa de Mossul.
Tal como a morte de Bin Laden continua a suscitar dúvidas, também a morte de Abu Bakr al Baghdadi levantará dúvidas até que alguma imagem esclareça a sorte do Califa.
Da mesma forma que a morte de Bin Laden não significou o fim da Al Qaeda (o actual líder, Ayman al-Zawahiri, continua activo e em parte incerta...), é legítimo duvidar que a morte de Abu Bakr signifique o fim do EI. Mesmo que Al Baghdadi tenha de facto morrido, a satisfação que isso pode significar será apenas um momento fugaz.

Tal como ainda hoje se diz nas monarquias "morreu o Rei, viva o Rei", não irá demorar que alguém diga "morreu o Califa, viva o Califa".
A ver vamos se haverá seguidores. Abu Bakr al Baghdadi escolheu este nome (era, de facto, Ibrahim Awad al Badri) por ser o nome do primeiro Califa que sucedeu ao Profeta Maomé; veremos se vai surgir alguém com o nome de Omar (Ibn al-Khattab), o califa que sucedeu ao primeiro Abu Bakr e que foi escolhido pelo próprio Abu Bakr pouco antes de morrer. Falta saber se aquele que se autoproclamou Califa, na cidade de Mossul, também designou um sucessor.

É por demais evidente que o Estado Islâmico está a sofrer golpes sucessivos. Tem vindo a perder território, Mossul era a sua maior cidade e era também o grande suporte económico. Neste momento resta Raqa, na Síria, a capital do Califado que está cercada pelas Forças Democráticas da Síria (FDS - uma aliança de curdos e tribos árabes que contam com a ajuda de milícias cristãs) e, tal como Mossul, é uma questão de tempo. Há ainda vastos territórios controlados pelo EI mas menos habitados e de menor relevância económica e estratégica.

O EI, tal como se deu a conhecer no Verão de 2014, já não existe. Havemos de ver se o que está para vir é melhor ou pior do que aquilo que conhecíamos até agora. É bom ter a noção de que não se sabe o que está a acontecer aos milhares de combatentes do Estado Islâmico. Estão a ser mortos, conseguem fugir ou são feitos prisioneiros? Não há informação substancial sobre esta questão.

Pinhal Novo, 11 de Julho de 2017

josé manuel rosendo

1 comentário:

  1. Sabemos quem está de um lado: EUA, Rússia, Irão. E soldados Iraquianos, como carne para canhão na primeira linha. Dito assim nesta crueza. O que não passa ou não se dá a saber é quem financia a serpente. Será assim tão difícil expor os canais de financiamento deste suposto Estado? Ou não interessa aos negócios de armas? Em que, para além dos EUA e Rússia, alguns países da UE ocupam um lugar de destaque nesse iníquo comércio internacional, onde os principais destinatários são Estados pouco recomendáveis em matéria de Direitos Humanos.

    Amílcar A.

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