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quarta-feira, 6 de julho de 2016

O mundo sem Tony Blair seria um lugar melhor?



Os argumentos do antigo primeiro-ministro britânico caíram por terra e Tony Blair foi "arrasado" por um relatório sobre a guerra no Iraque. Muito já se sabia, mas agora ficou tudo sitematizado. É revelado um quase "juramento de sangue" que faz de Blair e Bush irmãos gémeos na distribuição de responsabilidade pelo que aconteceu (e está a acontecer...) no Iraque. E o que é que faz a sempre tão badalada "Comunidade Internacional"? Ou será que aquilo a que sempre chamamos de "Comunidade Internacional" é precisamente quem tem a maior responsabilidade na situação do Iraque?

"For all of this, I express more sorrow, regret and apology than you will ever know." (Por tudo isto, exprimo tristeza, arrependimento e peço desculpas, mais do que alguma vez possam imaginar). Foi esta a reacção de Tony Blair ao "Relatório Chilcot", o documento divulgado hoje, que demorou sete anos a elaborar e apresenta conclusões sobre a decisão do ex-líder do governo britânico em alinhar com George W Bush na invasão do Iraque em 2003.

Não tendo lido o relatório (cerca de 2 milhões e 600 mil palavras), mas atendendo ao que disse o seu principal responsável, a resposta de Tony Blair e o que está a ser divulgado por fontes de informação que tiveram acesso ao documento, o mínimo que se pode dizer é que o Relatório é demolidor, tanto quanto pode ser um documento deste género em terras de Sua Majestade e em relação a um súbdito.

Desde logo, o relatório diz que, oito meses antes da invasão, Tony Blair prometeu alinhar com George W Bush "aconteça o que acontecer" ("Quoi qu'il arrive", escrevem os franceses; "Whatever", escrevem os britânicos) e depois enumera e contextualiza os passos da atribulada caminhada até Bagdad:

- Tony Blair, depois da promessa feita, não mais insistiu com Bush para saber dos planos norte-americanos e envolveu-se numa campanha diplomática contra Saddam Husseín;
- A guerra não foi o último recurso, as opções pacíficas para o desarmamento não foram esgotadas e não havia qualquer ameaça iminente da parte de Saddam;
- As armas de destruição maciça não existiam. As informações eram deficientes. O relatório é cuidadoso nesta matéria (informações) e não formula uma conclusão absoluta. Deixa dúvidas relativamente à forma como as informações foram inseridas no dossiê fornecido a Tony Blair mas sublinha que não foram suficientemente verificadas;
- Quanto à preparação da guerra, não podia ter sido pior: as consequências da invasão foram subestimadas; os recursos eram inapropriados; o governo britânico não considerou a dimensão da tarefa de estabilização do Iraque após a invasão;
- quanto às consequências do afastamento de Saddam Husseín "foram claramente identificadas antes da invasão" mas substimadas pelas chefias militares e políticas;
- 45.000 militares britânicos estiveram envolvidos na guerra e 179 morreram entre 2003 e 2009.

Em resposta a tudo isto, Tony Blair... não responde. Diz algumas coisas que não são respostas porque são argumentos que qualquer governante pode usar em todas as ocasiões: diz que não mentiu, que agiu de boa-fé e em defesa dos interesses do Reino Unido. Pede desculpa, diz que sente pena e tristeza. Acrescenta Blair que o Mundo é um lugar melhor sem Saddam Husseín e que não foi a invasão do Iraque que está na origem da actual vaga de terrorismo. Com tudo o que hoje está confirmado, e que em 2003 era colcoado em dúvida, é legítimo perguntar se um mundo sem Tony Blair não seria um lugar mais seguro.

Ler ou ouvir os argumentos de Blair é algo que nos transporta para o campo do absurdo.

O paradoxo de tudo isto é que Tony Blair (o homem da chamada "Terceira Via" que contaminou os socialistas com o pensamento neoliberal...)  foi o único primeiro-ministro britânico a vencer três eleições.

Pinhal Novo, 6 de Julho de 2016
josé manuel rosendo

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Está instalado o cerco ao Labour de Jeremy Corbyn (ou será melhor dizer que abriu a caça a Jeremy Corbyn?)


Vem aí um novo Syriza. É o alerta dos arautos da morte das ideologias perante a eleição de Jeremy Corbyn para líder do Labour (Partido Trabalhista). Para estes arautos só há uma política e um pensamento, podem existir acertos de pormenor nos orçamentos mas, para lá disso, tudo o resto é impossível. E nem se coíbem de dizer que a União Europeia e a real politik (assim algo que ninguém entende muito bem mas que determina o nosso futuro – algo que a vontade dos homens não pode alterar) já mostraram que não há espaço para Syrizas e Labour’s liderados por gente como Corbyn. Nem se apercebem que estão a dizer que já não há espaço para a democracia, mas escrevem-no com todas as letras. Rendidos aos poderosos da Europa e do mundo financeiro que traçam as linhas com que nos cosemos, os intérpretes do mainstream hesitam relativamente ao futuro de Corbyn: coveiro do Labour ou líder efémero. A nada de melhor Corbyn pode aspirar.

Estas leituras fazem-se em Portugal, mas também lá por fora. As “bíblias” regularmente citadas afinam pelo mesmo diapasão: Corbyn pode tirar o Reino Unido da União Europeia; o homem não percebe o mundo em que vive e é inelegível como Primeiro-Ministro; foi eleito líder porque os trabalhistas votaram com o coração e não com a cabeça. Em resumo, Jeremy Corbyn tem um conjunto de opiniões que não agrada ao mainstream. Daí, o mainstream conclui que é um perigoso esquerdista, um republicano em terras de sua majestade Isabel II, falava com o Sinn Fein e com Hugo Chávez, quer o Reino Unido fora da NATO e, talvez, fora da União Europeia, quer nacionalizações, não quer austeridade, deu as boas-vindas aos refugiados e, pecado de recente homologação, gosta de conversar com Varoufakis, esse mesmo, o ex-ministro das finanças que a troika obrigou a Grécia a atirar para fora do Governo de modo a ter o tal terceiro resgate e o empréstimo intercalar. Ora, bem vistas as coisas, Jeremy Corbyn só pode ser um “bandido” da pior espécie.

Os líderes trabalhistas que sucederam a Tony Blair (e antecederam Corbyn) não deixaram marca política que se veja a não ser a das derrotas eleitorais, atribuídas a um discurso que nuns dias era de esquerda e noutros dias de direita. Aquela tentativa de agradar a deus e ao diabo que os partidos socialistas blairistas seguiram nos tempos mais recentes. 

Assim sendo, a referência das análises e das opiniões é o tempo de Blair embora ninguém pareça querer aprofundar a descaracterização do Labour realizada precisamente por Tony Blair e ninguém parece querer saber do que Blair fez enquanto Primeiro-Ministro britânico na guerra de 2003 no Iraque. Não, isso não interessa, é um tabu que o mainstream ignora olimpícamente. Mesmo num país em que, como alguns escribas reconhecem, a direita (acrescento eu, em função da liderança errática de Blair) se apoderou de bandeiras da esquerda, ter agora um líder que as pretende recolocar onde devem estar, isso não interessa.

Há até quem defenda que Corbyn só foi eleito porque, vejam lá, ou era ele ou era o vazio. Corbyn venceu com cerca de 60% dos votos. A eleição agradou às bases do Labour, mas foi evidente que não agradou à nomenclatura. Vamos ver no que dá a liderança de Jeremy Corbyn, mas o que chateia desde logo é o preconceito e a caixa quadrada em que alguns comentadores e analistas se movimentam, não aceitando nada de diferente do habitual embora gostem de encher a boca (e os textos) com as virtudes da diversidade e da diferença.

Perante o que foi escrito e dito nas horas que se seguiram à eleição de Corbyn, torna-se evidente que o cerco está montado, tal como esteve montado ao Syriza quando venceu as eleições gregas e varreu alguns dos políticos tradicionais, esses sim, com fortes responsabilidades na situação a que a Grécia chegou. Entenda-se por cerco a opinião e análise predominante nos media. Como é evidente, toda a gente tem direito (era o que faltava que não tivesse…) a ter opinião e a liberdade de a tornar pública. É o caso de muitos dos que ocupam posições que lhes dão acesso regular aos media e de outros que nos media têm poder de decisão. O problema é que a esmagadora maioria dos que têm esse acesso e dos que ocupam esses lugares com poder de decisão têm sempre tendência a defender determinada área política em detrimento de outra. 

Dizer que o pluralismo de opinião nos media é um dado adquirido e algo substantivo em Portugal, é um acto de grande esforço e um bocado zarolho.

Pinhal Novo, 15 de Setembro de 2015

josé manuel rosendo

PS - créditos da foto: The Guardian

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

“Tony Blair não conseguiu nada”


O Presidente da Autoridade Palestiniana não disse uma palavra em público nos dois primeiros dias que esteve em Portugal. A tarefa ficou a cargo de Riyad al-Malki, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana. Na entrevista que deu a três órgãos de informação nacionais, o governante palestiniano mostrou clara insatisfação relativamente ao desempenho de Tony Blair nos cinco anos em que foi o enviado especial do Quarteto (ONU, UE, EUA e Rússia) e por isso pretende reformular o Quarteto. Espera também uma União Europeia mais interventiva que lidere a apresentação de sanções contra a política de Israel de expandir colonatos. Por fim, a reconciliação entre Hamas e Fatah, apesar do acordo do Cairo, parece algo distante. O Ministro palestiniano espera que o líder político do Hamas clarifique opções e diga se ainda subscreve os pontos do acordo que assinou na capital egípcia. Ficam muitas dúvidas quanto à possibilidade de haver eleições nos territórios palestinianos já em 2013.

 

Que importância teve o voto português na Assembleia Geral das Nações Unidas (em que a Palestina passou de Entidade a Estado Observador) sendo que não precisava desse voto porque já tinha a maioria dos votos?

Há muito tempo que temos um apoio clássico e tradicional na Assembleia Geral. Nunca tivemos a necessidade de esperar que a União Europeia estivesse connosco. Mas agora há diferenças qualitativas. A União Europeia está connosco e isso é extremamente importante. Israel tem tentado insinuar, de várias maneiras, que é habitual os palestinianos dependerem do movimento dos não-alinhados, dos países africanos, países árabes, da América do Sul, mas não dos europeus. Chamam-lhe uma minoria moral. Provámos que essa minoria moral também está connosco. Estes países, como Portugal, entre outros, são países que querem ser parte desta maioria moral. Não uma minoria, mas uma maioria moral. Foi por isso que decidiram votar a favor da Palestina. Dizer que 138 países votaram a nosso favor é mais importante do que se fossem 137 e gostaríamos muito de ir além dos 140. É evidente que a pressão colocada sobre alguns países levou-os a absterem-se e é uma ironia que alguns dos que se abstiveram reconheçam o Estado da Palestina mas também reflecte que a pressão foi extremamente grande e muitos países preferiram abster-se em vez de se confrontarem com sanções vindas dos poderes maiores.

O jornal israelita Haaretz disse que em Israel há quem pense que Israel perdeu a Europa. Os palestinianos ganharam a Europa?

Penso que ganhámos a Europa há muito tempo e a cada dia que passa a Europa mostra não apenas maturidade mas também compromisso e liderança. Havia uma lacuna entre os povos e as lideranças europeias, mas agora estão ambos na mesma linha de apoio à Palestina e isso é extremamente importante. Penso que o tempo que investimos, a liderança que mostrámos, a maturidade de que demos prova e o nosso compromisso com a paz, a nossa sinceridade e a nossa aproximação transparente, são bem entendidos nos países europeus e fizeram perceber que vale a pena apoiar os palestinianos.

E sobre as negociações (com Israel) …?

Esperemos que Israel mostre prontidão a sentar-se e a negociar connosco. O Presidente (Mahmmod Abbas) disse na Assembleia Geral das Nações Unidas que estamos prontos, imediatamente, para negociar com Israel quando os israelitas estiverem prontos. Mas agora temos dois problemas: temos de esperar até os Estados Unidos terem um novo governo para poderem liderar negociações e também temos de esperar pelas eleições em Israel (a 22 de Janeiro de 2013) para saber quem é o novo governo. Infelizmente vamos ter dois meses perdidos porque israelitas e norte-americanos não estão prontos. Nós estamos e ficamos à espera até termos sinais correctos de Washington e Telavive.

Espera-se que Netanyahu (Likud) vença as eleições. O modelo de negociações que a Palestina apresentou é visto por Israel como tendo mais pré-condições…

Israel pode chamar outra coisa qualquer ao Sol, não faz diferença nenhuma. O Sol continuará a ser o Sol, a Lua continuará a ser a Lua e a Terra continuará a ser a Terra, mesmo que os israelitas lhes mudem o nome. Se Israel diz que estamos a pôr pré-condições, é muito claro para a comunidade internacional que não o estamos a fazer. Israel ter que congelar colonatos não é uma pré-condição mas sim uma obrigação de Israel referida no Road Map e nas resoluções do Conselho de Segurança da ONU. A libertação de prisioneiros políticos palestinianos anteriores aos Acordos de Oslo é um acordo assinado em 1995. Desde então até agora Israel recusou libertar estes prisioneiros. Por isso não são pré-condições, são de facto obrigações de Israel. Se reparar são apenas obrigações de Israel das quais vai fugindo. Se Israel quer mostrar que está pronto e que se quer comprometer seriamente tem que cumprir todas as suas obrigações. Isto é muito importante. De outra maneira, porquê acreditar neles? Porquê acreditar neles após 20 anos de negociações em que Israel não mudou? Como poderemos acreditar que vão cumprir os acordos que venhamos a assinar no futuro?
Têm que mostrar que são sérios, comprometidos por inteiro com os acordos assinados há 20 anos. É realmente isto que temos vindo a dizer. Não estamos a pôr pré-condições. Quem somos nós para pretender qualquer tipo de pré-condições para negociar?

Como é que a Autoridade Palestiniana vai responder à decisão de Israel expandir os colonatos em Jerusalém Oriental? O Presidente Abbas disse na Turquia que o recurso ao tribunal penal Internacional pode ser uma opção…

Sim. Durante muito tempo estivemos sozinhos a enfrentar a política israelita dos colonatos e as acções dos colonos. O discurso da Comunidade Internacional era o de condenar essa política nos territórios palestinianos, mas apenas isso. Sentimos que estávamos sozinhos. Agora, pela primeira vez, quando Israel anunciou que vai expandir colonatos na área E1 (designação de uma área em Jerusalém Oriental) a União Europeia teve uma reacção diferente e forte, chamando os embaixadores israelitas. É um novo desenvolvimento, que saudamos. Mas dizemos que não é suficiente. A Chanceler Ângela Merkel disse, na conferência de imprensa com Netanyahu, que havia diferenças entre eles no que diz respeito aos colonatos. Foi muito claro. Quando muitos governos europeus chamam os embaixadores de Israel também fica muito claro. Estamos encorajados com isso mas queremos ver mais. Queremos ver a União Europeia decidir acções tendo em vista os produtos feitos nos colonatos. Queremos ver mais acção em relação aos colonos que exercem violência contra os palestinianos e que devem ser proibidos de entrar no Espaço Schengen. Isto é muito importante. Por que não sanções contra Israel se persistir nesta política de colonatos? Nesse aspecto a União Europeia não está a liderar o mundo tendo em vista esta política de colonatos de Israel. O que dizemos é que se Israel congelar esta política nada disto será necessário. Mas se Israel decidir continuar a construir colonatos, inviabilizando a criação de um Estado palestiniano com continuidade territorial, temos que defender os nossos direitos para termos um Estado independente. Se Israel decidir construir na área E1, toda a gente sabe, incluindo a União Europeia, que isso destruirá a Solução dois Estados. Que tipo de reacção esperam que tenhamos? Se Israel ultrapassar esta linha vermelha temos que ter uma reacção forte e o que é que temos nas nossas mãos? Temos o Tribunal Penal Internacional. Nós ponderamos essa possibilidade mas vamos pensar nisso sem precipitações, vamos consultar os nossos amigos e apenas tomaremos essa opção se for essa a última solução. Não iremos recorrer ao TPI hoje ou amanhã. Vamos esperar e ver se os Estados Unidos e a União Europeia convencem Israel a recuar nessas construções em E1.

O Líder da Liga Árabe disse recentemente que o tempo do Quarteto (ONU, EU, EUA e Rússia) terminou, que é tempo de virar a página e seguir em frente. O que pensa em relação a isto?

É verdade. O Primeiro-Ministro do Qatar disse que talvez o tempo do Quarteto tenha terminado mas devia também perguntar em relação a outro aspecto porque o meu presidente também disse no Qatar que não é assim. Temos que tentar negociar e o Quarteto é uma oportunidade para continuar tal como a Iniciativa da Liga Árabe pode ser uma oportunidade. O meu Presidente pretende manter todas as portas abertas. Depois do que conseguimos na Assembleia Geral das Nações Unidas não podemos fechar portas nem enviar mensagens erradas. Queremos transmitir mensagens positivas dizendo, sim, não podemos manter a Iniciativa da Liga Árabe por muito tempo em cima da mesa, 10 anos é mais do que suficiente, Israel, por favor, deve contemplar esta possibilidade e analisá-la em profundidade. Também em relação ao Quarteto dizemos que não estamos felizes com o seu trabalho, porque não conseguiu nada. O Quarteto é importante porque se perdemos o Quarteto não temos alternativa, mas o Quarteto deve ser reformulado. Por que não injectar sangue novo com a entrada de outros países? O Quarteto tem actualmente dois prémios Nobel (Barack Obama e União Europeia), esperemos pelo menos que mostrem a sua disponibilidade para fazerem um caminho para a paz entre israelitas e palestinianos e que nos mostrem que o Prémio Nobel valeu a pena. As pessoas perguntarão por que razão receberam o Prémio Nobel se não fazem esse caminho que desenvolva a paz entre israelitas e palestinianos.

Há países como o Brasil, África do Sul, Índia que questionam por que razão o Quarteto há-de ser um monopólio dos actuais quatro membros. Por que não abrir a porta e injectar ideias novas e sangue novo. Por nós não há problema.

Mas há também outro aspecto muito importante em relação ao Quarteto: até agora o Quarteto não tem que prestar contas a ninguém. Ninguém pergunta nada ao Quarteto. É um problema porque o Quarteto tem que responder a alguém. Pode ser ao Conselho de Segurança ou à Assembleia Geral das Nações Unidas, tem que reportar a alguém porque senão não tem pressão e não sente obrigação de fazer progressos.

Com ou sem Tony Blair?

Com todo o respeito, mas se quisermos rever o trabalho do Quarteto temos também que rever os progressos feitos por Tony Blair e infelizmente não podemos falar de um único progresso que Tony Blair tenha conseguido desde que foi nomeado enviado especial do Quarteto.

Como será possível realizar eleições na Palestina durante o próximo ano sem haver reconciliação com o Hamas e depois das declarações de Khaled Meshaal que disse querer uma Palestina do Jordão ao Mediterrâneo?

Temos que entender a lógica e as condições em que Khaled Meshaal fez esse discurso. Foi a sua primeira visita a Gaza em 40 anos e foi durante a celebração do 25º aniversário do Hamas. Por outro lado ele também está em competição com os líderes do Hamas em Gaza. Teve que ser mais radical em relação aos líderes locais para poder ter o apoio popular. Mas isto não serve de explicação. Ele tem um acordo com o Presidente Abbas, assinado no Cairo, e depois fez fortes declarações à imprensa dizendo que o Hamas acredita na Solução dois Estados, que esta solução deve resultar de negociações directas (israelitas/palestinianos), que enquanto houver negociações o povo palestiniano tem o direito a uma resistência pacífica e que deverá haver eleições. São as quatro questões que ficaram acordadas entre todas as facções presentes no Cairo na presença do Presidente Mahmmod Abbas e depois Khaled Meshaal dirigiu-se aos jornalistas reiterando estes quatro pontos. Na nossa perspectiva negociámos com um Khaled Meshaal que concordou com estes quatro pontos, não com o Khaled Meshaal que falou há alguns dias em Gaza para a sua própria audiência. Isto é realmente muito importante e se Khaled Meshaal quer recuar nas suas próprias decisões não nos será possível comprometermo-nos com ele para qualquer tipo de reconciliação. Reconciliação entre o Hamas e a Fatah deve basear-se nas quatro questões que referi. Se não for assim não teremos um terreno comum nem forma de continuar o processo de reconciliação. Espero que este processo termine com a possibilidade de fazermos eleições legislativas e presidenciais e seja quem for o vencedor terá o direito de representar o povo palestiniano. Mas que fique muito claro que não nos comprometemos com o Hamas enquanto o Hamas não aderir aos quatro pontos que ficaram no acordo que fizemos no Cairo.

Mas reconhece que o Hamas está agora mais forte?

Pode estar, mas nós também estamos mais fortes depois de conseguirmos o estatuto de Estado Observador nas Nações Unidas. Se o Hamas se sente forte porque é que receia as eleições? Se se sente forte depois do que aconteceu em Gaza, vamos para eleições e se o povo em Gaza e na Cisjordânia optar por votar no Hamas o Hamas será eleito para representar o povo palestiniano. Nós não temos receio de eleições.

No próximo ano?

Espero que sim. Se o Hamas concordar com os quatro pontos que referi e se o Hamas permitir que a Comissão Eleitoral Independente trabalhe em Gaza para fazer o registo dos eleitores, então o presidente emitirá o decreto presidencial para a realização das eleições nos territórios palestinianos.

Ainda não é o momento certo para o presidente Abbas ir a Gaza?

Se o Hamas permitir que a Comissão Eleitoral Independente trabalhe em Gaza e complete o seu trabalho e depois das eleições serem convocadas por decreto presidencial, então não haverá razão para o Presidente não ir a Gaza. Mas não antes disso.
José Manuel Rosendo

Entrevista colectiva concedida por Riyad al-Malki, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana à Antena 1, Agência Lusa e Expresso.