As imagens que têm sido divulgadas nos poucos dias de invasão/ofensiva turca no norte da Síria, não são bonitas. É preciso cuidado com a contra-informação (que todas as partes utilizam), mas há imagens com pormenores que permitem aferir da sua veracidade. É prematuro entrar na contabilidade dos mortos, mas o terror está instalado.
As Nações Unidas
já referem 130 mil deslocados e admitem que esse número pode triplicar. As pessoas
fogem, e fogem porque as “leis da guerra” há muito que são ignoradas por todos
os locais onde são as armas as primeiras (e muitas vezes as únicas) a ditar
quem manda. Dizer que a ofensiva turca está a fazer tudo para poupar as populações
civis é um discurso para agradar e manter a ofensiva militar enquadrada no politicamente
correcto. Apenas isso: retórica!
Nas guerras
actuais, todas elas assimétricas, com exércitos nacionais e formais a
combaterem grupos de milícias ou paramilitares, o que acontece em muitos casos é
que essas milícias emanam das próprias populações, são parte delas e vivem com
elas. Quem é civil e quem é combatente, é algo que é muito difícil de distinguir
e em particular no Curdistão sírio é isso que acontece.
A invasão turca,
para além de espalhar o terror entre a população curda no norte da Síria, está
a abrir a porta para o ressurgimento do Estado Islâmico (EI). Não é possível
aferir a dimensão e a capacidade desse ressurgimento, mas houve quem avisasse e
há sinais de que isso está a acontecer. E é bom não esquecer que o líder do EI,
Abu Bakr Al Bagdhadi, nunca foi capturado.
As Forças
Democráticas da Síria (FDS) assumem que cerca de 900 familiares de combatentes
do EI fugiram do campo de Ain Issa, onde estão cerca de 12 mil pessoas, e
admitem que a situação é muito volátil; em Qamishli e Hassaké, as FDS dizem
que já foram reactivadas células adormecidas do EI e a prova disso são os recentes atentados com carros-bomba nessas duas cidades; em Hassaké, o atentado visou
uma prisão onde estão combatentes do Estado Islâmico.
No terreno, a
invasão turca faz caminho, com a oposição das FDS – que não têm armamento
pesado. Ankara reclama que a cidade de Ras Al Ain já foi tomada e recusa
qualquer mediação com o argumento de que não negoceia com terroristas. O
presidente turco diz que a “zona de segurança” no norte da Síria vai ter entre
30 a 35 quilómetros de profundidade ao longo da fronteira turco-síria. A Liga
Árabe – de onde a Síria esteve suspensa durante vários anos – exige que a
Turquia retroceda e reclama sanções dos países árabes. Os curdos reclamam uma “no-fly
zone”, mas parece que ninguém os quer ouvir. Os Estados Unidos, que deram luz
verde à Turquia, dizem que vão levar para casa os cerca de mil militares que
ainda têm no norte da Síria. O Secretário da Defesa dos Estados Unidos da América,
Mark Esper, disse que Donald Trump já deu a ordem para essa retirada. O caos
agradece.
Pinhal Novo, 13
de Outubro de 2019
josé manuel rosendo
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