Sabendo o que se está a passar na Síria, é absolutamente
desesperante ouvir as declarações dos principais responsáveis políticos,
principalmente os das grandes potências. Os despachos das agências internacionais
dão conta de sucessivos bombardeamentos em Aleppo e acrescentam constantes actualizações
do número de mortos e infraestruturas destruídas. Estas notícias surgem
intercaladas com as declarações políticas: John Kerry, Secretário de Estado
norte-americano, a dizer que “o cessar-fogo não morreu”; Serguei Lavrov,
Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, a dizer que o cessar-fogo “não
tem razão de ser” se a oposição moderada não se demarcar dos grupos “terroristas”.
Isto é algo esquizofrénico. E muito hipócrita.
John Kerry sabe perfeitamente que o cessar-fogo está morto e
enterrado (para não falar das centenas de violações durante a semana em que
esteve em vigor…) e não adianta fazer que não vê o que se passa em Aleppo e em
muitos outros locais na Síria; Serguei Lavrov, antes de assinar o acordo de
cessar-fogo, sabia perfeitamente que não iria acontecer a separação de grupos armados
que agora vem exigir. Lavrov sabe que é mais fácil virar um acordo de
pernas-para-o-ar do que separar grupos que combatem lado-a-lado numa guerra civil
fratricida e só porque a Rússia acha que sim.
Muitas negociações que decorreram
em Genebra terminaram no momento em que os negociadores não conseguiram chegar
a acordo sobre uma lista de grupos terroristas. Kerry e Lavrov dizem ambos que
é importante preservar o acordo que assinaram a 9 de Setembro, mas sabem que a
realidade já rasgou esse acordo e que se ele serviu para alguma coisa foi
apenas para os combatentes terem uns dias de descanso, para o exército sírio se
reorganizar e para haver uma pequena pausa na contagem dos mortos (que ainda
assim continuou).
Sabemos que a hipocrisia é a dama a que nenhum diplomata
consegue recusar um passo de dança, mas este salão está cheio de cadáveres e já
era tempo de mandar a orquestra ficar em silêncio.
Como se não bastasse este cinismo das grandes potências, o
Presidente sírio Bashar al Assad deu uma entrevista à Associated Press na qual
diz que está para ficar, assumindo que a guerra está para durar e o embaixador
sírio nas Nações Unidas foi muito claro ao dizer que em Outubro não haverá
negociações. Setembro está a chegar ao fim.
A cereja no topo do bolo veio do presidente turco, que
acusou os Estados Unidos de terem enviado dois aviões com armamento para os
combatentes curdos no norte da Síria. A Turquia considera estes curdos
terroristas; para os Estados Unidos são aliados. Turquia e Estados Unidos
combatem o Estado Islâmico, fazem parte da mesma coligação que bombardeia o
califado – e da NATO – mas escolhem amizades diferentes.
Quando será que alguém vai parar a carnificina e o que vai
fazer a justiça internacional quando o banho de sangue terminar?
Nota: os créditos da foto que ilustra este escrito são de Ryad Alhussen (tirada na tarde de 24 de Setembro) e escolhi-a por
constituir uma imagem que pode acordar consciências. Não há guerras sem mortos.
Pinhal Novo, 24 de Setembro de 2016
josé manuel rosendo
o horror ao mais alto (ou baixo) nível, ninguém está a brincar com a Síria, estão a jogar muito a sério os seus interesses geoestratégicos tendo como tearro de operações a Síria para a qual se estão manifestamente c...
ResponderEliminarSinceramente, se eu fosse da síria queria mesmo vingar. Se me matassem um filho ia-me resignar..... claro que não...
ResponderEliminar