Tenho uma verdadeira e sincera dificuldade em encontrar uma
explicação lógica para alguns alinhamentos de protagonistas nacionais com as
políticas e os políticos de alguns países. Indo directo ao assunto, uma das dificuldades
mais complexas tem a ver com alguma esquerda que fica toda eriçada quando
Vladimir Putin é visado num qualquer argumento político. Não falo de Dilma, nem
de Nicolas Maduro, não, é mesmo de Putin. A minha dificuldade reside num aspecto
muito simples, até muito básico, reconheço: não é momento para dissertar sobre
o actual regime russo, mas acho que ninguém tem dúvidas de que a Rússia já nada
tem a ver com o comunismo ou com o socialismo; então, porquê essa defesa assanhada
das políticas do Kremelin e do Presidente da Rússia? Que íman existe em Moscovo
que provoca ainda esta atracção de alguma esquerda? Peço a vossa ajuda.
Outro aspecto que me provoca dificuldade na análise que
tento fazer é a equipa de comentadores e políticos sempre alinhados com as
directivas (perdão, queria dizer políticas) com origem em Washington. Estes, em
regra, também alinham com tudo o que vem de Bruxelas. Tudo o que tenha passado
por um discurso de um Presidente norte-americano ou da Comissão Europeia transporta
um selo de garantia que estes comentadores e políticos nacionais recusam beliscar
ou tocar, nem que seja com uma flor. Há até um que diz preferir a “chantagem”
da Europa à do PCP e BE. Assim mesmo. Outros, apesar dos constantes avisos de
gente muito avisada, e até de alguns europeístas convictos (devem ser uns
radicais, e “radical” é expressão que apenas se aplica à esquerda…) defendem
com unhas e dentes o TTIP (Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e
Investimento). Mudam os governos, mudam as direcções partidárias e as direcções
dos Órgãos de Comunicação, mas há um núcleo duro sempre fiel ao Tio Sam que não
se cansa de nos tentar catequizar. Será amor? Lógico não é certamente… Peço a
vossa ajuda.
Até admito que estes dois grupos acima referidos possam ter
razão. Nós é que pensamos que a guerra-fria já terminou e parece que estamos
enganados. Basta olharmos para o que se passa na Síria e rapidamente
concluiremos que Estados Unidos e Rússia, apesar de telefonemas quase diários
entre Washington e Moscovo, dizem ter um inimigo comum mas têm amigos
diferentes. Difícil, não?
Grandes potências à parte faltam as potências que prometem. E
muito. À China todos vão. É fantástico. É difícil descodificar o mistério.
Pequim (apesar da poluição) tem uma aura que deslumbra os nossos dirigentes
partidários. Quando chegam ao governo essa aura ganha um brilho redobrado. Não
sei se vão a uma capital comunista ou ao centro de um novo capitalismo. Não sei
se vão apenas para ver a Grande Muralha. Quem lá vai, quando volta também não
ajuda a desfazer a dúvida. E quanto à política externa da China, canja e caldos
de galinha nunca fizeram mal a ninguém: silêncio absoluto ou então críticas
muito suaves. Mao Tsé Tung ri-se, já se vê. Até um tal Catroga aceitou servir o
capital do Império do Meio. Sempre ao meio, sempre ao centro, não o centro político
mas aquele meio/centro que permite cair para onde é mais conveniente, Catroga,
um exemplo a ter em conta. O que é que os chineses pensarão de algo assim? Será
que a estratégia de Mao ainda tem seguidores. Estaremos perante uma réplica da
aliança (de Mao) com Chiang Kai-shek para depois alcançarem o poder? Acham que
devo ficar preocupado ou não é motivo para isso e os nossos políticos que vão a
Pequim sabem muito bem o que andam a fazer? Peço a vossa ajuda.
E porque já falámos de relações sólidas, falemos das mais
flexíveis, eventualmente mais incertas, falemos dos flirts. O dicionário
Priberam dá duas definições para flirt: 1 – Namorico, relação amorosa curta ou
de pouca importância; 2 – Aproximação entre pessoas ou entidades, geralmente
com uma intenção política. Para o caso, prefiro a segunda. E neste caso (outro
que não consigo descodificar) incluo a notada presença de um dirigente do CDS
no recente Congresso do MPLA. Investimento para um tempo em que o CDS regresse
ao poder? Coisa estranha que até provocou algum alvoroço no próprio CDS. Que o
PCP se faça representar, ainda vá, mas também neste caso, por onde anda o
socialismo do MPLA (tal como o de Putin)? No caso do CDS, aponto para um flirt,
mas no caso do PCP só pode ser um alinhamento rígido porque o PCP não é de
flirts. Pelo menos a nível internacional porque quanto a questões internas as
coisas parece que estão a mudar. O PS e o PSD também lá estiveram no número de
equilibrismo habitual. O PS é governo e o PSD pensa que ainda é. Também neste
caso, peço a vossa ajuda porque, parece-me, há um problema de liberdade e
democracia em Angola. Ou isso já não conta para nada?
Pinhal Novo, 3 de Setembro de 2016
josé manuel rosendo
Descobri acidentalmnte este blog. Regressarei porque fiquei com curiosidade.
ResponderEliminarHahaha, Gostei e concordo." What ended in 1989? The Cold War, or even in a formal point of view, the second World War, but the end of political regimes with 300 years based on the balance of power was a illusion, and the end of a bipolar order and the end of the liberal order under the leadership of the United States, two orders that coexisted during the Cold War, was a utopian thinking" faz parte da introdução de um artigo que irei publicar.
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